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Eu não estou pronto para te perder - cap. 1


Sara estava se sentindo uma rainha, envolta nos braços de seu rei, Grissom. O vestido vermelho esvoaçava com o balançar de seu corpo, seguro pela mão de seu homem. O salão estava cheio, mas parecia haver somente os dois. Nada os incomodava, nada tirava os olhos um do outro. O sorriso nos lábios de ambos denunciava a felicidade de estar juntos, de dançar aquela música que era só deles. Sara fechou os olhos e sentiu a brisa correr em seu rosto, balançando levemente seus cabelos soltos, com um detalhe de pequenas flores vermelhas que a deixava muito charmosa. E assim, entre beijos e sorrisos, ela e Grissom dançaram por muito tempo naquele salão de festas e de sonhos. Sonho! Era tudo um sonho, apenas um sonho!  Sara despertou do que foi apenas mais um sonho em sua vida, mais um desejo que se resumiria a ficar apenas em seu subconsciente. Olhou para sua cama e viu a mesma imagem de sempre: sozinha e sem Grissom consigo. Tê-lo era algo que certamente nunca aconteceria. Afinal, depois desses anos todos de separação, e mesmo a sua vinda à Vegas não despertaram nele qualquer sentimento de paixão. Para Grissom (segundo ela), a Sara da conferência forense ficara no passado. A Sara do presente ainda era Sara, mas não possuía nada de extraordinário que pudesse despertar qualquer coisa que um homem devesse sentir por uma mulher especial. E ela lhe dera tantos sinais de que o queria, mas Grissom, ou era muito devagar ou se fazia de cego para não percebê-la. E como não era mulher de ficar sofrendo por muito tempo, já que tinha um trabalho no qual precisava se concentrar, resolveu que não iria mais importuná-lo. Hank reaparecera em sua vida, e fora uma surpresa um tanto inusitada. Nem queria se envolver com ninguém àquela altura dos acontecimentos, mas ele viera com tanto carinho, com tanta atenção que não pôde resistir. O sexo com ele era bom, mas nem de longe era como o que fizera com Grissom há anos atrás. Com ele, sim, fora tudo perfeito, tudo prazeroso... E Sara ficara apaixonada desde então. A perita andava mais calada que o de costume fazia algum tempo. Ninguém fazia idéia do que podia ser, e ela mesma não dava abertura para perguntas mais pessoais.

GG: Temos poucos casos esta noite, então vocês farão dupla, ok?
CW: O que é isto, economia de casos?
GG: Não entendi, Catherine. 
CW: Não entendi porque temos de ir em duplas, se todos sabem como proceder na cena do crime.

Catherine realmente havia feito uma pergunta um tanto idiota, como pôde notar na expressão do supervisor, que não a respondeu.

GG: Vão, podem todos sair, menos você, Sara.
SS: Eu?!

Os outros ficaram curiosos, mas se retiraram.

SS: Pode dizer, Grissom. O que você quer?
GG: Tenho notado que você anda mais calada ultimamente. Está com algum problema?
SS: Não que eu saiba. Por que isso, Griss?
GG: Eu observo como meus subordinados se comportam, tanto dentro quanto fora do lab. E não pense que eu deixo de notar o estado físico e emocional de cada um, porque eu reparo.
SS: Ok, mas porque você quer saber isso de mim? Não posso ficar calada de vez em quando?
GG: Não gosto de vê-la assim. Ma dá a impressão de que está sofrendo ou tendo algum problema.
SS: Bem, se estou com algum problema, é assunto meu, não?
GG: Sara... Sabe que me importo com a equipe... E com você também.

Os dois se olhavam de modo que parecia só existir os dois ali, na sala de convivência. Nada mais havia, nenhum som além da respiração, nenhum sentimento além de amor. Sim, amor... Grissom não sabia como dizer à Sara que estava muito preocupado com o silêncio dela, com a distância... Precisava saber que ela o queria, e ele a ela... Mas não tinha coragem nenhuma pra dizer. 

GG: Tem alguém em sua vida?
SS: Como é? Que pergunta é essa, Griss?!
GG: Quero saber se... você está saindo com algum homem.
SS: É assunto meu. Além do mais, foi você mesmo quem disse que eu deveria ter uma vida. Portanto, eu estou vivendo minha vida. E ninguém tem o direito de se intrometer nela!
GG: Só espero que seus envolvimentos amorosos não interfiram em sua conduta profissional – disse friamente.
SS: Não se preocupe. Minha felicidade fora do lab só me fará bem aqui dentro – e saiu.

Aquele turno fora ruim para ambos. Sara estava um pouco irritada com tudo, sentia o estressa se aproximando. Mal via a hora de ir embora, iria se encontrar com Hank e os dois iriam para sua casa. Estava tendo sua vida fora do lab, era o que Grissom havia lhe sugerido que fizesse. Provavelmente para que ela deixasse de insinuar coisas a respeito dos dois, fantasiar situações que muito possivelmente nunca iriam acontecer.  Se por um lado Sara estava irritada e louca para ir embora, Grissom estava com uma enxaqueca daquelas. Não adiantava remédio, a dor era de nervoso, imaginando que Sara estivesse mesmo saindo com outro homem. E as idéias começaram a fervilhar, a imaginação correu solta. Só de pensar que ela pudesse estar transando com outro homem que não ele, a dor aumentava e tinha vontade de sumir. Mas por que estava sentindo este ciúme? Fora ele mesmo quem dissera para que ela tivesse uma vida fora do lab, que fosse livre para viver, não tinha o menor direito de proibi-la de se envolver com quem quer que fosse. Tentando não pensar no que Sara faria após o expediente, não percebeu que Catherine havia adentrado sua sala.

CW: Ei, está se sentindo mal?
GG: Só com um pouco de enxaqueca, mas vai passar logo.
CW: Quer um comprimido?
GG: Não, tudo bem, já estou indo embora. Quer uma carona?
CW: Não, meu carro está no estacionamento. Vamos, eu o acompanho até lá.

Os dois seguiram para o estacionamento.  Durante o trajeto, não viram os outros da equipe, o que significa que eles já deveriam ter ido embora. Mas no estacionamento, Grissom e Catherine ficaram sem reação ao ver Sara aos beijos com o mesmo policial com quem ela havia tido um curto relacionamento tempos passados. Catherine sentiu uma quentura no corpo, ficara excitada, afinal, adorava beijos e ultimamente nem selinho estava dando. Mas Grissom sentiu como se seu coração tivesse caído no chão. Ver a mulher que amava em outros braços que não os seus o deixaram atordoado, tanto que Catherine teve de segurá-lo para que não caísse. Sara e Hank não os viram, já que estavam em posição estratégica, mais escondidos. O supervisor teve de presenciar ainda o fortão sussurrar algo ao pé do ouvido de Sara antes de mais uma cena de paixão explícita, com direito a beijos molhados e sorrisos. Depois, cada um entrou em seu carro e saíram juntos, indo para algum lugar desconhecido por Grissom. Aquela cena jamais seria esquecida por ele, que foi para casa sentindo seu coração se espatifar como vidro que quebra ao cair no chão. Antes de ir para casa, resolveu dar uma conferida na casa de Sara. E lá estava, o carro de Hank atrás do dela na calçada. Deu um longo suspiro e foi embora, não querendo imaginar o que iria acontecer naquela casa. Eles mal entraram em casa e o clima já estava pegando fogo. Hank parecia sedento por sexo. Sara ficou um pouco assustada, achou eles poderiam conversar um pouco, apesar de ser quatro da manhã. Mas não teve jeito, e eles foram direto para o quarto. Em casa, Grissom estava visivelmente aborrecido. Só de pensar que naquele exato momento, Sara estaria dividindo a cama com o fortão, a dor de cabeça aumentava. Diabos! E fora ele mesmo quem praticamente a deu de bandeja para Hank, dizendo que ela deveria ter uma vida. Cinqüenta anos e não aprendera nada na vida, Gilbert Grissom! Depois do sexo, Hank adormeceu, mas Sara não. Seu coração e mente estavam em outro lugar, definitivamente, não era ali que ela queria estar. Mas se estava, foi porque Grissom não a quis. E nunca a queria, como seu coração lhe dizia. No turno seguinte, ela e Catherine ficaram conversando na sala de convivência antes de Grissom distribuir os casos do dia. Estavam sozinhas, por isso, puderam conversar mais à vontade.

CW: Então você e Hank reataram.
SS: É, mais ou menos isso.
CW: Como assim?
SS: Não estamos namorando, apenas “ficando”.
CW: Que categoria de relacionamento é essa, Sara?
SS: Nada de compromisso. Apenas beijos e sexo.
CW: Ainda fala com isso com naturalidade?
SS: Do que?
CW: Que você faz sexo sem compromisso?
SS: Não vou passar minha vida esperando pelo...

Sara freou as palavras ao se dar conta de que quase pronunciou o nome de Grissom. Ele era seu segredo, seu mistério, seu caso mais sério... Seu grande e único amor. Deu um longo suspiro e, quando os olhos dela se cruzaram com os de Grissom, seu coração deu um pulo tão forte que Sara sentiu o impacto no peito. O reencontro com Hank definitivamente não conseguiu fazê-la deixar de amar Grissom, talvez homem nenhum conseguiria esse feito. Daria um jeito de se livrar daquela teia sem machucá-lo nem sair ferida. Estava tão distraída pensando nas decisões muitas vezes precipitadas que tomava na vida que estava completamente aérea, não ouvindo uma só palavra do que ele dissera.

GG: Sara. Sara...
SS: Ãh... Oi.
GG: Onde você se encontra, posso saber?
SS: Desculpe. Eu... Estava distraída.
GG: Aqui não é lugar pra ficar sonhando, temos coisas importantes a resolver.

Sara deu uma olhada nada simpática para Grissom. Estava furiosa, mas acatou as ordens dele. Naquele momento, estavam todos na sala.

GG: Muito bem, Greg e Nick, corpo encontrado no parque, Warrick e Catherine, mulher esfaqueada em restaurante, Sara, casal de idosos esfaqueado em sua própria casa. Eu tenho coisas a resolver, hoje ficarei no lab. Boa sorte a todos.

Grissom esperou todos saírem. Sara era a última a sair, e ele a chamou.

SS: Sim, Griss.
GG: Tome cuidado.

Ela sorriu do jeito que sempre fazia, meio de lado, e agradeceu a preocupação.

SS: Obrigada. Sempre redobro meus cuidados, ainda mais quando é à noite.

Depois, pegou suas coisas e seguiu com o carro para o local do crime. Estava noite e caía uma garoa fina.

SS: Onde encontraram os corpos?
##: Estavam na sala. O senhor estava naquele canto (apontou para a mesinha de canto) e a senhora, na cadeira. Devia estar tricotando, ou coisa do tipo.

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