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Visão do amor - cap. 7


Grissom e Sara escutavam com atenção as palavras da coordenadora, que ia esclarecendo as dúvidas deles.

JB: Como acontece com todos os pais, a mãe e o pai de uma criança cega querem que tudo o que acontece ao seu filho contribua para desenvolver a autoconfiança e a independência. Querem que ele coma, ande, se vista, brinque com outras crianças, vá à escola e tenha uma vida social como todas as outras. Há certas coisas que todas as crianças precisam: precisam saber que são amadas e desejadas e que são membros importantes da família; precisam ser capazes de se desembaraçarem sozinhas e gostam que os outros se apercebam disso; precisam conhecer a sensação de ter feito algo bem feito; precisam desenvolver continuamente as suas capacidades. A criança cega precisa de tudo isto tanto como as outras. Ela é uma criança dentro dos padrões da normalidade como as outras; o que a diferencia é apenas o aspecto visual, mas nem isto constitui uma barreira quando ela é bem preparada para encarar o mundo aí fora. Grissom levantou para fazer uma pergunta.

LB: Pois não, senhor. Qual a sua dúvida?
GG: Minha esposa e eu somos pais de primeira viagem e nossa filha nasceu com deficiência visual. Gostaria de saber como lidar com ela, de que forma a incentivaremos para as brincadeiras, para que ela sinta os objetos, enfim, para que ela se desenvolva intelectualmente.
LB: É pertinente sua pergunta e bem comum. Veja bem, senhor...
GG: Grissom.
LB: Veja bem, senhor Grissom, durante os primeiros meses tudo o que a criança precisa é de comida, sono e mimo. Pegar nela, apertá-la ao peito e passear com ela pela casa contribui para que se sinta amada e segura. A criança nasce desejosa de conhecer as coisas do mundo exterior e de percorrer todos os lugares. Mas se não enxerga, precisa ser estimulada a pegar nos objetos e a mexer-se por meio de palavras, de sons e de uma grande variedade de objetos para manipular. Assim, essa curiosidade inata levará ao seu crescimento e desenvolvimento. Para começar, a criança cega precisa de ser levada de um local para o outro muito mais do que qualquer outra criança. Ela gosta de ouvir as conversas das pessoas que a rodeiam e gosta, sobretudo, de que falem com ela. Deve sentar-se a criança amparada com almofadas durante algum tempo todos os dias, na mesma idade em que isso se faz com as crianças que vêem. Se a criança cega souber que existe um fio atravessado no seu berço com objetos vários pendurados ela começará a esforçar-se por alcançar e manusear esses objetos. Alguns pais só muito tarde começam a brincar com o filho cego. Não o fazem saltar nos seus joelhos e muitas vezes nem sequer lhe pegam. Todos os bebês gostam dessa brincadeira e de demonstrações de carinho sejam cegos ou não. Podem ser pequenos, mas não são frágeis e apreciam uma boa brincadeira com o pai ou com a mãe. Outra coisa importante quando se trata da criança cega, principalmente se ainda for um bebê é que devem sempre dizer quando irão pegá-lo no colo. Caso contrário ele poderá assustar-se se lhe pegarem, de repente, sem contar.

Àquela altura, Sara já se encontrava em lágrimas. E a coordenadora continuou com a bonita palestra.

LB: Alguns pais deixam o seu bebê cego demasiado tempo deitado no berço, mesmo quando ele próprio já quer movimentar-se e pôr-se em pé agarrado às grades. Fazem isso com medo de que ele se magoe quando começar a andar de um lado para o outro. Mesmo quando o colocam no chão, limitam-lhe o espaço. A maior parte das crianças cegas pode perfeitamente explorar o espaço exterior ao berço. Utilizam-no para andar à sua volta e para se segurarem quando querem ficar em pé, logo após conseguirem manter-se sentadas e tocar o chão. Pode ser necessário estimular a criança cega a dar alguns passos fora do seu ambiente natural, para sentir a diferença entre o tapete e o chão liso, para tentar encontrar os carrinhos que se puseram em determinado local para ela. Mas não deve nunca forçar-se a isso. Nesse dia ela pode não estar disposta a fazer novas experiências e pode mesmo recusar-se a fazê-las. No dia seguinte ou dois dias depois poderá ser ela própria a querer fazer esse "jogo". Deve dar-se à criança liberdade para ser ela a decidir. A criança que vê agarra os objetos à sua volta e movimenta-se para ir procurá-los. Uma criança cega não procura no desconhecido a menos que seja motivada nesse sentido. Uma voz ou um som que chame a sua atenção - um sino, por exemplo - pode ser o ponto de partida para que ela se desloque em sua direção. Alguns pais tentam atrair a criança utilizando o seu brinquedo preferido ou orientam-no nas deslocações tocando-lhe de leve. Até ao momento em que a criança começa a deslocar-se na sala ou no local onde costuma permanecer, o seu campo de exploração é extremamente limitado e os objetos que manuseia também o são. Para além disso o movimento é importante não só para o conhecimento do mundo que a rodeia, mas também para o seu desenvolvimento muscular. Outro ponto no que diz respeito às crianças cegas com relação às ditas “normais” é a de que elas são iguais às outras intelectualmente. No início, algumas crianças cegas podem ser mais lentas na execução de certas atividades e na aprendizagem. Esta lentidão pode preocupar os pais, que podem ser levados a pensar que o seu filho tem um atraso mental, contudo a lentidão não é fator indicativo de deficiência mental. As crianças cegas têm a mesma capacidade de aprendizagem que as outras crianças. A maior parte é intelectualmente média, algumas ligeiramente abaixo da média e algumas são mesmo super dotadas, como de resto acontece com as crianças em geral. Os pais de uma criança cega podem esperar que ela participe em certas tarefas, tal como acontece com as outras crianças. Não é necessário esperar que ela seja mais velha, pois para algumas, ela já tem a idade suficiente e apenas necessita de ter oportunidade. Se a criança cega tiver as mesmas oportunidades que uma criança que enxerga, se tornará do mesmo modo uma pessoa válida de pleno direito. Se os pais chegam à conclusão de que determinada tarefa é demasiado difícil para o seu filho, não o devem forçar para que consiga realizá-la inteiramente, mas devem encorajá-lo, elogiá-lo pelo esforço despendido e tentar de novo em outro momento. Enfim, tratar seu filho como uma criança normal.

A coordenadora ainda palestrou por mais uns dez minutos. No fim, Sara e Grissom foram falar com ela.

SS: Sua palestra foi ótima! Nos esclareceu vários pontos, coisas que não tínhamos a menor idéia. Agora poderemos lidar melhor com nossa filha, aceitando-a como ela é sem nenhum medo de errar.
JB: Ter um filho com deficiência, seja ela qual for, não é nenhum bicho de sete cabeças, basta ter sensibilidade de enxergar nele uma criança capaz como qualquer outra.

Sara e Grissom absorveram cada palavra dita pela palestrante. Além de ajudar a filha em casa, matricularam o bebê na instituição, que a ajudou no desenvolvimento. Com um ano de idade, Meg, mesmo que não enxergasse absolutamente nada, era um bebê risonho e feliz. Os dois amavam sua pequena com muita intensidade. E faziam questão de não perder nenhum momento da vida dela. Fotografavam, filmavam e sempre a levavam em parques, para que pudesse interagir com outras crianças. E Meg foi mostrando ser uma criança independente. Desde bebê fazia esforço para caminhar, segurando nas barras do berço, apalpava os objetos e tocava nos pais. Quando completou cinco anos de idade, Grissom e Sara fizeram uma grande festa para ela. Convidaram todas as crianças da instituição, e houve muita alegria. Eles perceberam que as crianças deficientes visuais são crianças que amam estar entre outras, que não há diferença entre elas.

JB: A festa da Meg está linda. Muito obrigada por terem convidado as crianças da ACDE. Estão todas muito felizes.
SS: Era o mínimo que podíamos fazer. O que vocês fazem pela Meg não há nada que pague. Minha filha está feliz, esperta, adora conviver com as crianças de lá, tem uma ótima saúde... Não posso pedir mais nada da vida, apenas que ela cresça livre de qualquer paranóia e capaz de enfrentar o mundo.
JB: Vocês como pais estão de parabéns. Jamais trataram sua filha como uma coitadinha, uma pobre infeliz. Pelo contrário, sempre a incentivaram em tudo. E ela já sabe ler e escrever em braile. É mesmo uma vitória!

Alguns dias mais tarde, Sara percebeu que a filha tinha um semblante triste e andava mais calada que o de costume. Era noite e ela brincava sozinha no quarto. Grissom estava no escritório pesquisando uns assuntos na internet. Sara foi falar com a filha.

SS: Posso entrar?
MG: Sim, mamãe.
SS: Do que você está brincando?
MG: De casinha. Minha filhinha está dormindo, estou arrumando as roupinhas (na verdade, estava embolando as roupas, mas era o jeito dela de arrumar).
SS: Meg, tenho sentido que você anda mais calada que de costume. Está triste com alguma coisa e não consegue nos dizer, ou não quer nos dizer?
MG: Não, mamãe. Sou muito feliz. Não estou triste.
SS: Meg, não minta, sei quando está mentindo.

A menina ficou calada por alguns segundos, até falar:

MG: Um menino me xingou.
SS: Quem fez isso com você? Onde ele mora?
MG: Ele disse que Deus me castigou, por isso tirou minha visão. Eu chorei muito, mamãe.
SS: Filha... – Sara levou a mão na boca e as lágrimas rolavam – Quando ele disse essa monstruosidade?
MG: Já tem tempo... Ele já mudou daqui. Mas não estou triste não, mamãe, e nem quero que você fique. Está chorando? – ela tocou o rosto da mãe.
SS: Eu? Não, filha.
MG: Posso te contar uma coisa?
SS: Pode.
MG: Sou muito feliz assim. 

Naquele momento Grissom entrara no quarto e ouvira as palavras da filha.

SS: É, filha?
MG: É.
GG: E minha princesa pode me contar sobre sua felicidade?

Grissom sentou-se no chão, abraçando a filha, que abriu um sorriso.

MG: Papai, eu disse pra mamãe que sou feliz assim, do jeito que eu sou.
GG: Fico feliz, filha.
MG: Eu sei que tem tanta criança que vive nas ruas, sem papai nem mamãe, e tem fome... Eu tenho uma casa grandona, um monte de brinquedos, meus amigos na escola... Obrigada por gostarem de mim. Eu vejo vocês aqui ó... – apontou o coração.

Os três se abraçaram e sentiram a vibração de amor que os rodeava. Meg não enxergava com os olhos, mas enxergava perfeitamente com o coração. Ela era uma garotinha amada e muito amorosa. Sara e Grissom haviam feito um bom trabalho na criação de sua menina. E ela ainda daria muitas alegrias futuramente.

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Visão do amor - cap. 6



Sara e Grissom saíram do hospital sem saber o que fazer. Ambos estavam muito abalados com o que ouviram da médica, e completamente tristes pelo destino da filha tão desejada e amada. No carro, Meg dormia no suporte para bebês em carros, e na frente, o casal se olhava com lágrimas nos olhos.

GG: Sara... Acho que chorar agora não vai adiantar mais nada. Já aconteceu, nossa filha tem essa deficiência, o que vamos fazer? Brigar com Deus? Não, honey. O destino do ser humano é evoluir. Vamos cumprir nossa missão, que é cuidar de nossa filha e fazer com que ela seja uma mulher capaz de fazer qualquer coisa, de trabalhar, ajudar ao próximo e quem sabe constituir família? Por que não?
SS: Griss... Como mãe, sinto meu coração partido.
GG: Comigo não é diferente, Sara. Estou sendo pai pela primeira vez e já estou experimentando as cargas que os filhos fazem os pais suportarem. Mas se nos mantermos sempre unidos, acredito que amenizaremos nossas dores.

Grissom a beijou com ternura e os dois seguiram para casa. Em casa, o telefone tocou. Era Catherine, em busca de notícias.

GG: Grissom.
CW: Gil, e como foram no hospital? Como está minha afilhada?
GG: Ãh, acho que seria melhor você aparecer aqui em casa.
CW: O que aconteceu?! Gil, não me deixe apavorada!
GG: Catherine, é que por telefone é complicado explicar. Venha aqui amanhã.
CW: Ok. Só espero que não seja algo grave.

Na manhã seguinte, Catherine, ansiosa, já estava na casa do casal Grissom.

SS: Tão cedo assim, Cath?
CW: É, não pude esperar nem mais um minuto. Quero saber o que a Meg tem.
SS: A questão é o que ela não tem.
CW: Como assim?!

Sara sentou-se no sofá e deu um suspiro. Grissom estava na cozinha fazendo um café.

CW: Anda, fale o que a menina tem.
SS: Meg nasceu cega, Cath.
CW: Como cega?! – ela se assustou.
SS: Cega, de não enxergar.
CW: Oh! – os olhos de Catherine encheram-se d’água.
SS: Venha vê-la.

As duas entraram no quarto todo decorado da menina. Havia tudo de mais belo e suave. O quarto era em tons de rosa bem claro, cheio de bonecas de pano, de porcelana, ursinhos de pelúcia, almofadas e um com o nome da menina no berço. Sara e Grissom capricharam na decoração. E agora a tristeza de saber que sua menina jamais iria ver tudo o que eles lhe prepararam com tanto amor e carinho. A menina dormia bem quietinha no bercinho. Catherine não segurou as lágrimas ao ver o bebê tão pequeno e tão indefeso, em seus primeiros dias de vida e sem saber o que iria passar o resto da vida. Sara abraçou a amiga.

SS: Griss e eu já nos conformamos com a situação. O que nos resta é fazer com que ela tenha uma vida tão normal quanto a de qualquer criança.
CW: Sara, não tem um jeito de curá-la? Nosso país é o epicentro da tecnologia e avanço na medicina, todo mundo vem pra cá. Por que não dariam um jeito na Meg?
GG: O caso de Meg não tem solução. Ela nasceu com um problema sério na retina e cirurgia está fora de cogitação. Até porque não traria a visão a ela – Grissom entrara no quarto naquele instante.
SS: O importante é que a cerquemos de amor.
CW: Mas isso ela já é.
GG: A criança que tem confiança, cresce e se desenvolve com muito mais facilidade. Aprende a enxergar a vida de um outro ângulo, sendo ela cega ou não. Meg será uma pessoa confiante e capaz de caminhar com suas próprias pernas.

A menina, que era tranqüila, abriu os pequenos olhos. Todos puderam ver que eram azuis, mas ela os girava, como se estivesse incômoda com algo. Grissom pegou-a e ninava a filha com carinho. Catherine sorriu emocionada ao ver a cena.

CW: Está me saindo melhor do que a encomenda.
SS: Griss me surpreendeu desde o início. E o faz todos os dias.

No mês seguinte, os dois foram ao instituto para crianças cegas. Havia muita gente, pais e mães com seus filhos deficientes visuais. E todas as crianças estavam sorridentes. Sentaram-se em um banco e Sara ficou balançando o carrinho da filha com os pés. Estavam observando o ambiente. Um mulher com seu filho sentou-se ao lado de Sara e puxou papo.

##: É a primeira vez que vocês vêm aqui?
SS: Sim, e você?
##: Freqüento aqui desde que o Daniel nasceu. É um ótimo lugar, vocês irão gostar.
GG: Assim esperamos.
##: Sua filha tem quanto tempo de vida?
SS: Quarenta e cinco dias.
##: Ela já nasceu com deficiência visual ou teve depois?
SS: Nasceu assim. No início foi difícil, mas como sabemos que é irreversível, aprendemos a aceitar o ocorrido. E seu filho, como foi?
##: O caso dele não foi de nascença, mas por causa de um glaucoma que se tornou grave, a ponto de cegá-lo. De qualquer forma, não culpo nada nem ninguém por isso. Daniel é um ótimo filho, amoroso e cheio de vitalidade. O fato de ele não enxergar não é um empecilho para que ele viva. A mesma coisa vocês devem pensar de sua filha.
GG: Nós a amamos incondicionalmente. Meg é um bebê cercado de amor e carinho. Nós a trataremos como se ela enxergasse também, não há porque fazer diferença.
##: E nem deve. A criança cega possui uma sensibilidade maior que as ditas normais. Ela sente quando é amada, quando está sendo tratada diferenciada das outras só pelo fato de não enxergar. Ela é feliz ao modo dela, como é, ainda que não possa enxergar a beleza da vida. A criança cega não sabe o que é o verde, o azul, pra ela não há diferença. Mas ela sabe a diferença entre viver e ser oprimida. Não faça de sua filha uma coitadinha, ela não vai querer piedade de ninguém. Faça com que ela interaja com outras crianças, vocês verão os resultados, e serão ótimos, vão por mim!

Sara e Grissom sorriram satisfeitos com as palavras daquela mãe.
A coordenadora chamou a todos para a palestra que iria começar em poucos instantes. O casal se acomodou e se preparou para ouvir o que diriam.

JS: Boa tarde a todos. Sou Janice Spencer, diretora da ACDV, que é a Associação das Crianças com Deficiência Visual. Hoje temos muitos pais que estão vindo pela primeira vez aqui, e nossa palestra é especificamente para essas pessoas, para que possam entender a realidade dessas crianças e bebês. Vou passar a palavra à nossa assistente e coordenadora, Liz Browner.
LB: Boa tarde. Sou a coordenadora das atividades das crianças nesta instituição tão maravilhosa. Fico feliz que hoje temos muitos pais vindo pela primeira vez, sinal de que se interessam pelo assunto, o que já ajuda no tratamento de seus filhos. Vindo até aqui vocês encontrarão ajuda e apoio para aprender a lidar com a deficiência de seus filhos, seja ela de nascença ou não, provisória ou não. Vou falar sobre a criança cega e seu papel dentro da sociedade. Todos os pais esperam ansiosamente o nascimento do seu filho, mas, quando a criança nasce cega ou fica pouco depois do nascimento, ficam chocados. Por vezes ficam desgostosos da vida, achando que tudo está perdido. E acabam por revoltarem-se. Isto pode ser devido ao fato de nunca terem conhecido uma pessoa cega, lembrando-se apenas dos cegos que viram na rua a pedir esmolas ou a vender doces. Não têm conhecimento de que existem milhares de pessoas cegas que exercem cargos de responsabilidade e bem remunerados, que desempenham atividades especializadas ou são administradores de negócios. Não conseguem conceber a idéia de não conseguir ver. Pensam que a criança sentirá a cegueira da mesma forma que eles. A criança que nasceu cega não sabe o que é ver. Nem tão pouco sabe que está privada de algo, que lhe falta qualquer coisa. E não se aperceberá disso durante bastante tempo. Não sabe que é diferente dos outros, portanto é tão feliz como qualquer outra criança. Até se aperceber de que não vê, pode ter-se tornado uma pessoa feliz, que encara a vida como qualquer outra criança. Pode sentir que é amada e desejada pelos pais e que consegue viver a sua vida plenamente. Geralmente a maior parte dos pais necessita de bastante tempo para se acostumar à idéia de que o seu filho não pode ver. Alguns pais sentem-se apoiados se conversarem com os pais de outras crianças cegas. Os pais que já ultrapassaram a angústia dos primeiros meses e que viram o seu filho crescer, podem dar esperanças aos pais que se vêem agora confrontados com a mesma situação. Podem dizer-lhes que, à medida que o tempo passa, e que a criança começa a crescer e a desenvolver-se, eles terão orgulho nela e nas suas conquistas. Traumatizados pelo desapontamento e pela tristeza, por vezes os pais sentem dificuldade em se aperceberem de que o filho é antes de tudo uma criança. Ser cego é apenas um aspecto da sua vida, mas a sua vida tem muitos outros aspectos. A cegueira não o torna tão diferente de uma criança que enxerga, como geralmente se pensa. Na realidade, tem muito mais semelhanças com a criança que enxerga do que diferenças. Portanto, quanto mais os pais aprenderem sobre a criança, mais a poderão ajudar.

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Visão do amor - cap. 5


Sara sorriu contente.

SS: Agora vamos ao lab dar a notícia aos amigos.
GG: Está em condições de ficar andando, honey? Sua barriga já está ficando grande, e você pode se cansar com facilidade.
SS: Vou trabalhar até o oitavo mês, Griss. Tenho dois braços e duas pernas, sou saudável, enfim, creio que posso ser muito útil ao lab.
GG: Só quero preservá-la.  

No lab, todos estavam muito felizes pela chegada da filha do casal.

CW: Adorei saber que vocês terão uma princesa! Agora você vai ver, Sara, que trabalho dá deixar uma filha toda produzida.
SS: Cath, eu não pretendo transformar a nossa filha em rainha de escola de samba. Mas é claro que vou adorar comprar vestidos e sapatos.
CW: E você, Gil? Já se acostumou com a idéia de ter duas mulheres em casa?
GG: Estou adorando. Cresci cercado de mulheres, e é muito bom.
SS: Como assim mulheres?
GG: Minha mãe, minha avó e minhas tias. E claro, minhas primas.
SS: Ah tá.
NS: E aí, Grissom, vai deixar sua filha sair para encontros com 15 anos?
GG: De jeito nenhum! Primeiro os estudos.
CW: Sim, e quando puder sair, já terá seus 30 anos. Oras, faça-me o favor, Gil! Não é porque você tem 50 anos que tem de agir feito um neandertal. É muita caretice! Estamos no século vinte e um.
GG: Catherine, nós vamos educar nossa filha da melhor maneira possível. Posso não entender de bebês, mas entendo da vida. Sei como o mundo está e não quero que ela passe pelo que eu já passei na vida. Creio que Sara também não queira o que ela já passou pra menina.
SS: Evidente que não – lembrou-se do episódio da morte de seu pai.
NS: Estou muito feliz por vocês. Deixe-me ter dar um abraço, Sara!
SS: Claro, Nick.

A gravidez de Sara por volta do sétimo mês não foi tão fácil assim. Ela começou a ter hipertensão, típica das gestantes, e sentia-se mal com facilidade. Pra piorar, começou a perder sangue, embora a bolsa não rompesse. Era por isso que Sara e Grissom andavam discutindo. Ela não achava necessidade de ficar presa em casa e ele não a queria no lab, temendo pela saúde das duas. Numa das discussões, Sara começou a sentir-se mal, a pressão subira repentinamente. Nervoso, Grissom ligou para o obstetra da mulher, que ordenara levá-la para o hospital. A cesárea seria feita imediatamente. Cerca de trinta minutos depois, a filha dos dois vinha ao mundo. Pouco tempo depois, Sara estava no quarto. Grissom permanecia o tempo todo ao lado dela.

GG: Como se sente?
SS: Não sinto minhas pernas.
GG: É normal, Sara. A anestesia ainda está fazendo efeito. Mais umas duas horas e suas pernas voltarão a ter sensibilidade.
SS: Você avisou ao pessoal do lab?
GG: Estou aqui com você, esqueceu? Mas daqui a pouco eu ligo pra Cath e passo os detalhes.

Naquele momento a enfermeira entrou no quarto.

##: Boa tarde, mamãe. Como se sente?
SS: Um pouco dolorida por causa da cirurgia.
##: É normal. Conforme os dias forem passando, ela diminuirá.
GG: Alguma notícia da nossa filha?
## Bem, como vocês sabe, ela nasceu prematura, ou seja, antes das 38 semanas mínimas. Está sendo monitorada na incubadora, recebendo oxigênio e cuidados. Aparentemente ela está bem.
SS: Como aparentemente?
##: Pelo fato de ser um bebê prematuro, é possível que algum problema venha a aparecer, mas isso só poderemos constatar com o passar dos dias. A senhorita terá alta em dois dias, mas sua filha continuará até que ganhe peso o suficiente. Daqui a pouco para trazer seu jantar. Com licença.

Logo em seguida, Grissom saiu do quarto e ligou para o lab, avisando do nascimento da filha. Catherine ficou em euforia.

NS: Ei, o que houve, Cath? Que alegria é essa?
CW: Nasceu a filha de Gil e Sara.
GS: Que notícia ótima! Será que poderemos ir ao hospital?
WB: Calma cara, a menina acabou de nascer. Além do que, acho que a Sara não está a fim de visitas agora.
CW: O Gil está lá com ela, vai dormir por lá. Amanhã poderemos fazer uma visita.
NS: Vou passar numa loja e comprar algo bem legal para a garota.
GS: Eu também.

No dia seguinte, a equipe foi em peso visitar a menina.

SS: Ei! Vocês vieram mesmo!
CW: Claro! Estávamos todos ansiosos pra ver o bebê. Por falar nisso, já escolheram o nome da garotinha?
GG: Meg Sidle Grissom.
NS: Belo nome! E onde ela está?
SS: Na incubadora, nasceu prematura.
CW: Ah sim, é importante pra ela ficar lá enquanto pega peso.
GS: Mas poderemos vê-la, não?
GG: Claro, Greg. De dois em dois.

Todos ficaram encantados com a menina, que era linda. Loirinha com os cabelos arrepiados.

CW: Que anjinho! Parece com a Lindsay quando era bebê! – sussurrou Cath.

Na volta ao quarto...

SS: Cath, gostaria de ser a madrinha de Meg?
CW: Ainda pergunta? Claro!
GS: E o padrinho? Quem vocês escolhem?

Grissom e Sara se olharam.

GG: Você, Greg.
GS: Aêeeee! Posto merecidíssimo!
NS: Convencido...
WB: É isso aí...
GS: Vocês estão com inveja, admitam...
GG: Olha aqui, Greg. Está terminantemente proibido de deixar a minha filha tão doida quanto você. Nada de brincadeiras idiotas, ok?
GS: Pode deixar, chefe!

Quando Sara teve alta, seu coração estava apertado por ter de deixar a filha no hospital. Grissom também estava um pouco chateado, mas sabia que era para o bem dela. Procurava ser forte para acalmar o coração da mulher. Ele tirou uns dias de licença para ajudar Sara, pois ela ainda andava e fazia as coisas com dificuldade. Quatro semanas depois, a pequena Meg teria alta. Os pais foram ansiosos receber a filha nos braços. Já com ela, a pediatra que ajudou nos cuidados com a menina no parto solicitou uma conversa com eles.

DR: A filha de vocês é linda mesmo, estão de parabéns.
SS: Obrigada.
DR: No entanto, eu quis ter essa conversa com vocês para fazer um resumo de tudo o que houve.

Sara e Grissom ficaram apreensivos.

DR: A pequena Meg nasceu com Retinopatia da Prematuridade, uma doença congênita visual provocada pela falta de circulação sanguínea na retina. Ela afeta cerca de 30% dos prematuros e, desses, 8% tendem a ficar cegos. Nós fizemos um pequeno tratamento com laser ou crioterapia na área onde ocorre insuficiência de irrigação sangüínea, conseguimos colocar a retina no lugar novamente, mas sem sucesso.
GG: Em outras palavras, doutora... – Grissom parecia pressentir o pior.
DR: Sua filha tem um deficiência visual, senhor e senhora Grissom. Ou seja, é cega.  

Sara não suportou a notícia e desabou a chorar. Grissom também chorou, mesmo tentando ser forte. O que seria da filha tão amada e tão desejada que tiveram? Como fariam para ajudá-la a viver, mesmo sem poder enxergar a beleza da natureza, das cores, dos animais...?

DR: Eu devo dizer-lhes que a cegueira não constitui limitações para a criança. Ela poderá fazer ou ser o que quiser na vida, basta que haja apoio, amor e compreensão dos pais. E, claro, estímulo. Pegue este folheto de uma instituição para bebês e crianças cegas, vai lhes ajudar nessa nova etapa de suas vidas, como lidar com a deficiência de sua filha e, acima de tudo, a aceitar que ela não poderá enxergar. Vocês como pais, não podem abandoná-la em hipótese alguma. A criança cega será dependente até o momento em que puder caminhar com suas próprias pernas, mas para isso, ela necessitará de muito amor, confiança e apoio da família. Esta instituição, a ACDV (Associação das Crianças com Deficiência Visual), é uma casa onde as crianças e bebês aprendem a conviver umas com as outras. Vejam os horários das palestras e vão. Vocês conhecerão pais que passam por isso e tiram de letra a dor e o sofrimento.

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