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A vida segue (parte 1) – cap. 3


LS: Quer um café, Sara?
SS: Aceito sim.

Enquanto sua mãe ia até a cozinha preparar o café, Sara continuava a observar a casa simples, mas muito arrumadinha e limpa. Laura trouxe a xícara e entregou nas mãos da filha. Aquele momento em que mãe e filha estavam frente a frente trazia lembranças distintas para cada uma. Mas Laura estava de fato mudada. E ela queria ter consigo novamente pelo menos um pouco do carinho da filha. Ela sabia que Sara era uma mulher forte, de personalidade, pelo que ficara sabendo enquanto internada. Mas o que ela não sabia era que essa mulher forte e de personalidade andava mais frágil do que uma pétala de rosa. Nesse encontro, Sara decidiu não se abrir com a mãe, mas pôde sentir nela alguém melhor e confiável. Iria voltar. Naquela noite, em casa, a perita teve recordações da infância. Lembrou-se de coisas que já estavam distantes na memória, guardadas em um passado que a vida toda ela manteve escondido. No turno seguinte, encontrou Nick na sala de convivência.

NS: Ei Sara, você parece mais leve. Aconteceu alguma coisa?
SS: Fui visitar minha mãe.
NS: E como foi esse reencontro?
SS: Bom, esse reencontro na verdade foi no hospital, mas a sós mesmo foi na casa dela. Senti muita diferença nessa Laura de hoje para a de antigamente.
NS: Você pretende visitá-la mais vezes?
SS: Sim. Ela é o que restou da minha família. Agora que não tenho mais marido, penso em visitá-la mais vezes. E quem sabe, nos aproximarmos novamente...
NS: Espero que você saiba o que esteja fazendo. Se isso a fará sentir-se melhor, então eu apoio. Quero vê-la sorrir novamente.

Sara sorriu de lado, como sempre fazia. Os dias se passaram e, mergulhada no trabalho, a perita não teve muito tempo para pensar na dor de sua separação. Ainda que ainda estivesse lá, arranhando o coração como um espinho, Sara decidiu de reerguer. Iria lutar para esquecer o que passara, que tivera seus sonhos de amor jogados ao chão. E viu na mãe uma forma de lavar a alma. Eram anos separadas uma da outra, mas agora a vida as puseram frente a frente novamente. Em uma tarde nublada, ela se viu novamente na porta da casa de sua mãe. Laura a recebeu com um grande sorriso nos lábios e um brilho de alegria nos olhos. Com a filha já em sua residência, a matriarca dos Sidle fez um pedido:

LS: Será que eu... será que... eu poderia te dar um abraço, Sara?

A perita olhou surpresa para a mãe, mas não lhe negou o abraço. E, ao abraçar a mãe novamente, Sara sentiu o coração bater dolorido. Carência. Saudade. Solidão. Um misto de sentimentos correram pelas veias, e quando percebeu, a perita havia abraçado mais forte a mãe. Lágrimas escorreram de ambos os olhos, e as duas sorriram.

LS: Obrigada, filha.
SS: Nunca pensei que um abraço pudesse me fazer tão bem.
LS: Sou sua mãe, querida. Eu te abracei com todo o meu carinho.

Sara sorriu tentando disfarçar o choro, mas Laura percebeu as lágrimas rolando.

LS: Está acontecendo alguma coisa que eu não estou sabendo?
SS: Hein?
LS: Sente-se no sofá, vamos conversar.

As duas se sentaram e olharam uma para a outra.

LS: Então, o que minha garotinha esconde que traz nos olhos dor e tristeza?
SS: Laura... quer, dizer, mãe, eu não sou mais uma menina.
LS: Os filhos nunca deixam de ser criança para os pais. Não sei precisamente a sua idade atual, mas você é minha menina e sempre será.

Sara sorriu.

SS: Estou com 40 anos, mãe.
LS: Você está uma linda mulher. Continua solteira?
SS: Agora estou.
LS: Como agora está? Você estava namorando alguém?
SS: Na verdade eu era casada.
LS: Puxa, gostaria de ter ido ao seu casamento... Você devia ter ficado linda!
SS: Não avisamos a ninguém, nos casamos no civil mesmo. Pegamos todos de surpresa.
LS: E como é que acabou? É recente?
SS: Sim... bem recente... – Sara suspirou.
LS: Se você não quiser falar, vou entender. Mas se quiser abrir seu coração... estou aqui pra te ouvir.

Sara ficou em dúvida se deveria se abrir com aquela mulher que, mesmo sendo sua mãe, lhe era estranha após tantos anos. No entanto, seu coração dizia que aquela era a hora de virar a página e fazer um novo recomeço. Até porque ela não tinha mais ninguém no mundo. Agora seriam as duas novamente, em um daqueles reencontros da vida que ninguém consegue explicar ou entender.

SS: Me casei com meu chefe.

Laura olhou espantada para a filha. Jamais poderia pensar que ela fosse tão audaciosa, ou corajosa a tal ponto.

LS: Você se casou com seu chefe? Como isso foi acontecer, Sara?
SS: É uma longa história. Está pronta para ouvi-la?
LS: Sou toda ouvidos, filha.

Sara deu um longo suspiro e começou a narrar sua trajetória, desde São Francisco até Vegas. Como e onde encontrou Grissom. O antes e o depois. No fim, Laura ficou impressionada e encantada com o que a filha havia vivido.

LS: Jamais poderia imaginar que você tivesse uma vida de tantas lutas. Como eu queria poder ter estado ao seu lado nos momentos de maior dificuldade para você, minha filha!
SS: Ei, eu estou bem, estou ótima, mãe!
LS: Eu sei que você se saiu muito bem. Mas com relação ao fim do seu casamento, você não me contou nada a respeito. E eu sei que você está sofrendo muito por dentro, ainda que nunca admita para mim.

Naquele momento, a perita sentiu uma pancada no peito como se fosse um soco dado pelas lembranças de seu casamento fracassado. Sentia-se culpada pelo fim de seu conto de fadas, achava que fora a responsável por Grissom não ter querido levar adiante a relação dos dois. No fundo, achava que ele jamais quis realmente aquela relação, que ficara com ela por alguma espécie de gratidão, ou outro sentimento o qual ela desconhecia.

LS: Posso ter passado uma vida longe de você, mas nem em mil anos eu conseguiria esquecer suas expressões de tristeza com algo. E tenho certeza de que algo te incomoda profundamente. Não quero te ver triste, Sara. Você é minha filha, tudo o que me restou na vida, e por mais que eu tenha errado, eu sempre te amei.
SS: Ei! Não vamos falar disso! – Sara sentou-se ao lado da mãe no sofá – O que passou, passou. Sua dívida com a justiça foi paga, é hora de virar a página.
LS: Então você me perdoa por... aquilo?
SS: Eu não sou Deus para perdoar, mãe, mas agora vejo melhor o que aconteceu. Está tudo bem agora.
LS: Mas me conte: o que aconteceu entre vocês que fez o casamento terminar?
SS: Eu não sei. Simplesmente não sei o que aconteceu – Sara fungava – Só sei que Grissom resolveu colocar um ponto final e pronto.
LS: Minha filha, não existe relacionamento perfeito. Todos, em algum momento, passam por turbulências. Não creio ter havido algum motivo forte para que ele tenha rompido com você. A menos que o amor tenha se acabado.
SS: Acabado?
LS: É, acabado. Como tudo nessa vida que tem um fim. O amor, quando não é forte o suficiente, é como um laço mal apertado, que, num piscar de olhos, se afrouxa e se solta. Ou, se muito puxado, rompe-se. Quando não tem que ser, não adianta chorar, que não vai remediar. O jeito é se conformar e erguer a cabeça. Afinal de contas, você é uma mulher linda e atraente, e muito inteligente mesmo. Tenho certeza de que não faltarão homens que queiram se jogar aos seus pés, implorando por seu carinho e atenção.

Sara deu uma risadinha.

LS: É assim que eu quero te ver: rindo!
SS: Não tenho mais vontade de rir, mãe... honestamente, não tenho.
LS: Bobagem, logo o sol voltará a brilhar no seu caminho e esses dentinhos serão exibidos para todos. Se esse sujeito quis romper com você, o idiota é ele, que perdeu uma grande mulher. Não fique chorando por homem, minha filha. Não vale a pena.

Sara olhou bem para a mãe e se lembrou do pai. Lembrou-se das cenas de violência doméstica, das surras que ela sofria, dos gritos dele... da morte dele... Mas não quis tocar no assunto. Logo agora que estavam se reaproximando...
As duas conversaram por mais algum tempo e Sara decidiu ir embora.

LS: Você promete voltar?
SS: Assim que puder venho sim, mãe.
LS: Cuide-se, filha.
SS: Eu prometo!

As duas se abraçaram e a perita saiu. No caminho para casa, enquanto dirigia, sentiu o peito mais leve. Parecia que havia tirado um caminhão de areia, e realmente, nos dias que se seguiram à separação de Grissom, a vida de Sara parecia um caminhão com toneladas de areia jogadas, pesando a ponto de doer sua alma e coração. O retorno ao lar onde um dia houvera amor era sempre uma agonia para a alma apaixonada de Sara. É claro que, sendo quem ela era, uma mulher destemida e forte, não se permitia sofrer por tanto tempo. Só que a solidão pesava. A saudade também. E o amor... também. Ela não podia negar que amava Grissom como jamais amara alguém na vida. Que seu coração pertencia a ele. Que seu corpo o desejava dia e noite. Que a vida sem ele ao seu lado estava cada vez mais insuportável. Mas a vida devia seguir. E Sara precisava entender que a vida é um livro cujas páginas são viradas diariamente. Pessoas entram e saem da vida das pessoas. Mas quando se trata de amor, isso se torna completamente doloroso, principalmente quando alguém sai de nossas vidas. Alguns dias se passaram desde a visita de Sara à mãe. Pensamentos vinham e iam, sonhos com Grissom aconteciam quase que diariamente. Certo dia, a perita preparava um lanche na cozinha. A campainha tocou. Uma surpresa a esperava...

(to be continued)

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A vida segue (parte 1) – cap. 2


Sara sentiu o baque profundamente, e, embora estivesse a ponto de cair em prantos, obrigou-se a se fazer de forte para que o marido não visse que a tinha derrubado. Ela o olhava com dor e mágoa nos olhos, ele a olhava firme e perdido ao mesmo tempo. Nunca soubera lidar com aqueles olhares de carência de Sara, desde antes de se envolver com ela. A perita nunca fora muito boa para disfarçar perfeitamente seus sentimentos e emoções; seus olhos sempre foram uma janela de sua alma, onde as pessoas, se olhassem mais atentamente, poderiam ver tudo o que se passava dentro dela.

GG: Por favor, não chore. Não sei lidar com suas lágrimas...

Sara deu uma risadinha irônica.

SS: Parece uma piada você me pedir isso, não é?
GG: Não entendi seu tom irônico. Você sabe que eu nunca consegui lidar com suas emoções...
SS: Você nunca prestou atenção em mim de verdade para realmente conhecer meus sentimentos. E mesmo estando casados, nunca parou para me observar mais atentamente...
GG: Está me acusando de insensível, relapso com nosso relacionamento?

Sara deu um suspiro. Estava sem espírito para argumentar com aquele homem insensível. Grissom também estava sério, e a olhava da maneira de antes de se envolverem; fria e sem qualquer emoção.

GG: Pelo visto, você continua a mesma Sara sonhadora de sempre...

Aquela alfinetada pegou a perita de surpresa. Mas tratou de responder, antes que ele percebesse o quão ela ficara sentida.

SS: Talvez sim. Mas talvez doa mais saber que príncipes encantados não existam, ou, o que é pior, que eles se transformam em sapos...

Grissom não teve argumentos para rebatê-la. Àquela altura, a perita estava mais raivosa do que propriamente triste. Estava destroçada internamente, mas por fora, parecia uma leoa. E quis encerrar aquela conversa tão dolorosa:

SS: Quer saber de uma coisa? Quem não te quer mais sou eu! Nosso casamento termina nesse instante – ela se levantou da cadeira, deixando o dinheiro do suco na mesa. E continuou: - Depois você mande entregar em minha casa os papéis do divórcio. Acredito que você ainda deva saber onde fica a residência, não é?

Sara saiu sem olhar para trás, cabeça erguida e coração destroçado. Na mesa, um Grissom atordoado com a postura da agora ex-mulher. Permaneceu calado o resto do jantar e mais ainda, ao retornar ao hotel. O ex-supervisor chegou a pensar se havia feito a escolha certa ao decidir pôr um ponto final em seu casamento com a única mulher que o amara realmente na vida. Ele achava que deveriam ficar separados, pelo menos naquele momento. No entanto, não se atreveu a ir até sua antiga casa para buscar suas coisas. Talvez esperando que o momento de retornar surgisse, Grissom permaneceu onde estava. Se para ele a separação pareceu natural e fácil de encarar, para Sara ocorreu o inverso. Mas, por mais que estivesse destroçada por dentro, ela não demonstraria sua dor a ninguém. Acreditava que ninguém, além dela, tivesse que suportar tamanha decepção. E ela parecia estar vivendo uma maré de má sorte, ou seja lá o que for. Algum tempo depois da separação verbal, a perita se deixou envolver novamente e trocou uns beijos inocentes com um cara que parecia ser bacana. Porém, Sara fora envolvida em uma rede de vingança e ela fora culpada pelo assassinato do sujeito, já que todas as evidências apontavam em sua direção, e o mais espantoso é que ela realmente estivera no local do crime horas antes. Destroçada sentimentalmente, o período de incertezas e com o verdadeiro assassino ao seu incauto, a perita estava quase entregando os pontos. Mas no fim de tudo, com a prisão do assassino e voltando para o lab, Sara resolveu se abrir para os únicos verdadeiros amigos que tinha ao seu alcance: Nick e Greg.

SS: Obrigada. Obrigada por não desistirem de mim.
NS: Você sabe que jamais faríamos isso.
GS: Não poderíamos nunca ficar sem você, Sara. Você é nossa amiga, nosso porto seguro, já que não temos mais nossa equipe “original”.

Sara deu um sorriso triste, e lembrou-se da equipe que eram, da família que se tornaram.

SS: Sinto saudades daquela época. Éramos quase uma família...
GS: Nós tínhamos Warrick entre nós...

A perita e Nick se olharam sérios, com os olhos marejados. Lembrar do companheiro fazia o csi Stokes ficar mal e triste. E Sara, sentimentalmente frágil, não ficaria imune à emoção da saudade.

SS: Melhor falarmos de outra coisa.
NS: Não quer contar como tudo foi?
SS: Não sei se vale a pena...
GS: Se não quiser falar disso, tudo bem. O que passou, passou. Só não queremos mais vê-la assim, tão pra baixo.

Sara só conseguia responder com um sorriso de lado, misturado com um biquinho que só ela sabia fazer.

NS: O que podemos fazer para ver um sorriso em seu rosto novamente?
SS: Como assim?
GS: Se quiser, posso te contar uma piada!
NS: Ah não, Greg, isso não!

A perita soltou uma gostosa gargalhada. Nick e Greg observavam a risada contagiante da amiga e, para alegrá-la, também caíram na risada. 

SS: Só vocês mesmo para me fazer rir depois de tudo o que aconteceu...
NS: Mas é o que deve ser feito: rir do que aconteceu! Não vale a pena ficar se remoendo com lembranças que só machucam...
GS: E desculpe eu te dizer isso, Sara, mas se o Grissom realmente te amasse, ele não teria arranjado uma desculpa para ficar longe de você e terminar a relação. Quem gosta, se vira, mas nunca fica longe de quem ama, quem não ama, inventa motivos para ficar longe.
SS: Acho que fiquei mais carente dentro do casamento do que propriamente quando estava solteira...
NS: Claro, quando você era solteira, tinha ainda o Hank que podia te fazer companhia.
SS: Ele tinha namorada, Nick. Me enganou muito bem!
GS: Mas não era casado.
SS: Dá no mesmo envolvimento com homens casados e homens namorando, não faz diferença alguma.
NS: Será que faz mesmo?
SS: Onde você quer chegar, Nick?
NS: E o cara que morreu naquele hotel, você teve relacionamento com ele, não foi?
SS: Não! Foram apenas alguns beijos, e como eu havia lhe dito na sala do Russell, eu já estava separada! Não traí o Grissom, se é o que quer saber.
NS: Eu acredito em você, Sara.
GS: Nós acreditamos!
SS: Eu estava carente, por isso me deixei envolver por alguns breves minutos. Não houve sexo, não houve nada além de beijos.
GS: Queria muito que você e o Grissom estivessem juntos. Vocês formavam um casal lindo. Estranho, mas lindo!
SS: Como assim, estranho?
GS: Geeks, Sara, geeks...

A conversa com Nick e Greg deixara o peito de Sara mais aliviado, menos carregado. A impressão que ela tinha é que um peso havia sido deixado para trás, como se um caminhão de areia tivesse sido despejado naquela sala. Ainda estava tentando absorver tudo o que havia se passado desde a separação, e a certeza da amizade eterna dos dois caras que ela mais gostava no mundo lhe davam a força necessária para seguir em frente sem Grissom. Durante o banho, lembrou-se da pequena conversa que tivera com a mãe no hospital, quando a visitara. O olhar de Laura Sidle já não tinha nada de loucura, esquizofrenia, mas sim de uma mulher mudada de alguma forma. Não sabia se era carência pela separação, se eram os hormônios em ebulição, mas Sara sentiu falta de ver a mãe, começou a sentir uma saudade que a vida inteira não tivera. Sentiu vontade de deitar a cabeça em seu colo e esperar que ela lhe acariciasse os cabelos. E de repente, naquele banho morno, a Sara Sidle menina surgira à sua frente, com um olhar carente, chamando pela mamãe. Talvez fosse sua criança interior pedindo que desse uma chance à mãe e se reconciliasse de vez com ela, embora não estivesse brigada com a progenitora. No quarto, penteando os cabelos, Sara prometeu a si mesma que iria procurar a mãe para as duas terem uma conversa. Alguns dias mais tarde, a perita foi até o hospital e conseguiu o endereço de sua mãe. Laura estava morando em um bairro mais afastado de Vegas, em uma casinha mais humilde, mas confortável e muito limpa. A matriarca dos Sidle sempre fora uma excelente dona de casa. Sara bateu à porta e ficou no aguardo. Laura, ao ver a filha, ali parada em sua porta, levou um susto.

LS: Eu poderia imaginar qualquer pessoa neste mundo a bater em minha porta, menos você.
SS: Acho que o mundo dá muitas voltas... será que eu poderia entrar?
LS: Claro, filha. Entre.

Sara observou o lar de sua mãe e lembrou-se de sua infância, a casa onde morara, quando ela sempre fora tão organizada.

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A vida segue (parte 1) – cap. 1


Sara estava ansiosa. Havia recebido um sms de Grissom, dizendo que estava em Vegas, e queria vê-la. O turno estava no fim, e iria para casa aprontar-se. Enfim iria rever seu marido, seu homem, a quem amava profundamente, mas cuja distância a fazia sofrer. Como certamente nenhuma mulher neste planeta desejaria ficar longe de seu marido, assim era Sara. Amava estar perto de Grissom, amava sorrir com ele, amava fazer amor com ele, amava amá-lo. Mas os encontros eram cada vez mais escassos, por isso a solidão da perita aumentava cada vez mais, mesmo tendo a amizade dos únicos companheiros de equipe que remanesceram: Nick e Greg. Quando pensava nisso, sentia uma dor no peito: lembrava-se da morte de Warrick, cuja lembrança ainda era tão forte e presente e a partida de Catherine, que ajudou a torná-la ainda mais solitária, porque as duas eram grandes amigas. A loira era amiga confidente de Sara, e mesmo que Julie Finlay e Morgan Brody fossem pessoas muito gentis e legais, não eram suas amigas íntimas, não havia aquela intimidade com elas. Sara estava no lock guardando algumas coisas e preparando-se para ir embora. D.B. Russell apareceu na porta:

DB: Ei! Está um tanto quanto animada! Alguma coisa em especial?
SS: Nada em especial, pra falar a verdade. Quer dizer, não sei se posso assim dizer.
DB: Não entendi.
SS: Esquece! Mas estou contente, é verdade.
DB: Isso é bom! Gosto de vê-la pra cima.

Sara sorriu de lado, como sempre fazia.

SS: Você também já está indo?
DB: Oh sim, Barbara está me esperando em casa. Hoje teremos um dia especial!
SS: Isso é maravilhoso!
DB: É, estar perto da minha filha e da minha neta é algo maravilhoso! Bem, nos vemos amanhã. Boa sorte, seja lá o que você vá fazer hoje!
SS: Obrigada!

A perita continuou a arrumar as coisas e saiu do lock, encaminhando-se para o estacionamento. Despediu-se dos amigos, entrou no carro e seguiu para casa, onde iria arrumar-se para reencontrar seu marido e grande amor, Grissom. Chegou em casa, abriu a porta e olhou para o espaço enorme onde apenas ela estava ocupando. Com o coração batendo descompassado com o reencontro com o amado, Sara abriu um sorriso, colocou um cd de músicas românticas e foi tomar seu banho. Enquanto se lavava, cantarolava trechos de uma canção que tocava em seu aparelho.

“Eu não consigo dormir, eu não posso respirar
Quando sua sombra está sobre mim, querida
Não quero ser uma boba aos seus olhos
Porque o que nós tivemos foi construído com verdades
E quando nosso amor parece desaparecer
Me ouça, escute o que tenho a dizer
Eu não quero me sentir do jeito que eu me sinto
Eu só quero estar bem aqui com você
Eu não quero nos ver separados
Eu apenas quero dizer direto do meu coração
Eu sinto sua falta
O que é necessário para que você veja
Para que você entenda que eu sempre acreditarei
Que você e eu podemos superar isso
E ainda eu sei que não posso te esquecer
Porque nosso amor parece desaparecer
Oh querido, eu sinto sua falta, eu sinto...”

Depois do banho, Sara foi para o quarto e, enquanto se vestia, olhava para a cama de casal onde ela e Grissom tiveram noites ardentes de amor. Só de imaginá-lo nela novamente, sentia o coração palpitar abruptamente. Enquanto se penteava, sorria feito menina. Estava feliz novamente, depois de semanas sem ver o seu amor. Recordou-se com um enorme sorriso do último encontro: vinho, beijos ardentes e uma esplendorosa noite de amor. Foi até o closet e escolheu seu vestido preferido, um preto esvoaçante com decote. Já o usara em uma ocasião com Grissom, e ele amara ver a mulher naquela vestimenta. Tudo pronto, saiu do quarto e pegou as chaves que estavam na mesinha central. Enquanto dirigia, sentia o vento invadir o carro, e o coração acelerava junto com o veículo. Ao chegar no restaurante, perguntou a um garçom sobre uma reserva. Grissom ainda não havia chegado. A perita foi para sua mesa esperar pelo marido. Enquanto aguardava, pediu um suco de morango para matar a sede. O ex-supervisor chegou cerca de quinze minutos depois. Sara, ao vê-lo, ficou assustada com o desleixo e a aparência envelhecida dele, mas disfarçou ao máximo.

GG: Desculpe a demora, o trânsito não está nada bom!
SS: Sem problemas, Griss...

Grissom sentou-se e ficou encantado com a beleza e a elegância da esposa. Sara parecia cada dia mais bela, mais jovem até. Os olhos dela brilhavam com intensidade.

GG: Você está linda!
SS: Obrigada!

Grissom pediu um vinho, e os dois conversavam formalmente.

SS: Porque você não foi para nossa casa? Andei fazendo algumas mudanças, gostaria que você visse...
GG: Sara...
SS: Ah, sabe que comprei uma colcha nova para nossa cama? Florida e bem macia, creio que você gostará de experimentar...
GG: Sara...
SS: Outro dia a Cath me ligou. Ela está ótima no FBI. Disse que está realizada, mas sente saudades de todos do lab. Mandou um abraço para você.
GG: Escute-me, Sara, por favor! – ele disse, em tom de voz baixa para que as outras pessoas no restaurante não o ouvisse.
SS: O que foi? Você está tão... estranho. Aconteceu alguma coisa que eu não estou sabendo?
GG: Não. Não aconteceu nada – ele suspirou – Quer dizer, eu não tenho certeza...
SS: Tem a ver com a sua aparência?
GG: O que tem minha aparência?
SS: Eu diria que você já foi mais bem cuidadoso com ela, com sua imagem. E agora isto, porque?
GG: Não tenho tido tempo de cuidar de mim, acho que é isso.

Sara olhou mais precisa para os olhos do marido. Havia alguma coisa por trás daquilo tudo, ele era péssimo em disfarçar. Ela só não sabia o quê exatamente. Mas era algo que não parecia se encaixar. E, de repente, uma batida dolorida em seu peito quase a fez engasgar.

GG: Algum problema?
SS: Comigo? Nenhum. Eu quero saber é com você. Está com algum problema?
GG: Sara... você sabe o quanto eu te amei e ainda amo, sabe o quanto eu lutei contra este sentimento por muito tempo até que não resisti e me entreguei à você...

A perita teve uma sensação ruim ao ouvir aquelas palavras. Mas permaneceu calada, à espera do que Grissom poderia falar em seguida.

GG: E quando eu digo que te amo não minto, eu amo você, e tudo o que vivemos.
SS: Mas... – ela o interrompeu, talvez prevendo o que ela recusava a sentir e perceber.
GG: Mas acho que um casamento, para durar, precisa de muito mais do que nós temos dado a ele. Casamento à distância não faz bem para ninguém, penso eu.
SS: E você chegou a essa conclusão por si só?
GG: Não entendi aonde você quer chegar...

Sara deu suspiro e disse, com a voz um pouco embargada pela emoção que ela tentava conter:

SS: Quero saber o que te levou a crer nisso?
GG: Nossa situação. Você é testemunha disso, temos vivido separados há tanto tempo que nem vida sexual temos mais.
SS: E você nunca se perguntou de quem era a culpa de fato?
GG: O que você quer dizer?
SS: Acha que a culpa é exclusivamente minha por estarmos passando por uma grave crise matrimonial? Sou eu quem tem vivido fora de Vegas esse tempo todo, sem dar notícias?
GG: Você está me culpando. E eu não concluí o que preciso te dizer.
SS: Acho que não precisa me dizer o resto. Eu te digo. Você quer terminar nosso casamento porque acha que não temos sido leais a ele, que não temos nos dedicado a ele e que você não pretende voltar a Vegas. É isso?
GG: Não quero que você sofra por isso... não deixei de te amar.

Sara olhou para o teto, na esperança de evitar que o futuro ex-marido visse que lágrimas surgiam em seus olhos.

GG: Ei, olhe pra mim. Não fique assim. Eu acho que precisamos dar um tempo para refletir melhor sobre o que realmente queremos.
SS: Como você pode dizer isso, Griss? Você acha que sabe o que eu realmente quero? Você está dentro de mim para saber do que eu realmente preciso?
GG: Ei, acalme-se! Não precisa ficar alterada!
SS: Não estou alterada, Gilbert! – disse Sara, entredentes.

Ele tentou segurar as mãos da esposa, mas ela as puxou, mostrando claramente o quão estava magoada. Aquela conversa estava sendo por demais dolorosa, e Sara não sabia se tinha capacidade para suportar tanta dor assim. Àquela altura, a perita já não se importava com as lágrimas que rolavam em sua face. Grissom olhava-a penalizada, e ao mesmo tempo, confuso com tudo o que dissera. No fundo, não sabia ao certo porque estava querendo se separar dela.

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