Sara estava ansiosa. Havia recebido
um sms de Grissom, dizendo que estava em Vegas, e queria vê-la. O turno estava
no fim, e iria para casa aprontar-se. Enfim iria rever seu marido, seu homem, a
quem amava profundamente, mas cuja distância a fazia sofrer. Como certamente
nenhuma mulher neste planeta desejaria ficar longe de seu marido, assim era
Sara. Amava estar perto de Grissom, amava sorrir com ele, amava fazer amor com
ele, amava amá-lo. Mas os encontros eram cada vez mais escassos, por isso a
solidão da perita aumentava cada vez mais, mesmo tendo a amizade dos únicos
companheiros de equipe que remanesceram: Nick e Greg. Quando pensava nisso, sentia uma dor
no peito: lembrava-se da morte de Warrick, cuja lembrança ainda era tão forte e
presente e a partida de Catherine, que ajudou a torná-la ainda mais solitária,
porque as duas eram grandes amigas. A loira era amiga confidente de Sara, e
mesmo que Julie Finlay e Morgan Brody fossem pessoas muito gentis e legais, não
eram suas amigas íntimas, não havia aquela intimidade com elas. Sara estava no lock guardando
algumas coisas e preparando-se para ir embora. D.B. Russell apareceu na porta:
DB: Ei! Está um tanto quanto
animada! Alguma coisa em especial?
SS: Nada em especial, pra falar a
verdade. Quer dizer, não sei se posso assim dizer.
DB: Não entendi.
SS: Esquece! Mas estou contente, é
verdade.
DB: Isso é bom! Gosto de vê-la pra
cima.
Sara sorriu de lado, como sempre
fazia.
SS: Você também já está indo?
DB: Oh sim, Barbara está me
esperando em casa. Hoje teremos um dia especial!
SS: Isso é maravilhoso!
DB: É, estar perto da minha filha e
da minha neta é algo maravilhoso! Bem, nos vemos amanhã. Boa sorte, seja lá o
que você vá fazer hoje!
SS: Obrigada!
A perita continuou a arrumar as
coisas e saiu do lock, encaminhando-se para o estacionamento. Despediu-se dos
amigos, entrou no carro e seguiu para casa, onde iria arrumar-se para
reencontrar seu marido e grande amor, Grissom. Chegou em casa, abriu a porta e
olhou para o espaço enorme onde apenas ela estava ocupando. Com o coração batendo descompassado
com o reencontro com o amado, Sara abriu um sorriso, colocou um cd de músicas
românticas e foi tomar seu banho. Enquanto se lavava, cantarolava
trechos de uma canção que tocava em seu aparelho.
“Eu não consigo dormir, eu não posso respirar
Quando sua sombra está sobre mim, querida
Não quero ser uma boba aos seus olhos
Porque o que nós tivemos foi construído com
verdades
E quando nosso amor parece desaparecer
Me ouça, escute o que tenho a dizer
Eu não quero me sentir do jeito que eu me sinto
Eu só quero estar bem aqui com você
Eu não quero nos ver separados
Eu apenas quero dizer direto do meu coração
Eu sinto sua falta
O que é necessário para que você veja
Para que você entenda que eu sempre acreditarei
Que você e eu podemos superar isso
E ainda eu sei que não posso te esquecer
Porque nosso amor parece desaparecer
Oh querido, eu sinto sua falta, eu sinto...”
Depois do banho, Sara foi para o
quarto e, enquanto se vestia, olhava para a cama de casal onde ela e Grissom
tiveram noites ardentes de amor. Só de imaginá-lo nela novamente, sentia o
coração palpitar abruptamente. Enquanto se penteava, sorria feito menina.
Estava feliz novamente, depois de semanas sem ver o seu amor. Recordou-se com
um enorme sorriso do último encontro: vinho, beijos ardentes e uma esplendorosa
noite de amor. Foi até o closet e escolheu seu vestido preferido, um preto
esvoaçante com decote. Já o usara em uma ocasião com Grissom, e ele amara ver a
mulher naquela vestimenta. Tudo pronto, saiu do quarto e pegou as chaves que
estavam na mesinha central. Enquanto dirigia, sentia o vento invadir o carro, e
o coração acelerava junto com o veículo. Ao chegar no restaurante, perguntou a
um garçom sobre uma reserva. Grissom ainda não havia chegado. A perita foi para
sua mesa esperar pelo marido. Enquanto aguardava, pediu um suco de morango para
matar a sede. O ex-supervisor chegou cerca de
quinze minutos depois. Sara, ao vê-lo, ficou assustada com o desleixo e a
aparência envelhecida dele, mas disfarçou ao máximo.
GG: Desculpe a demora, o trânsito
não está nada bom!
SS: Sem problemas, Griss...
Grissom sentou-se e ficou encantado
com a beleza e a elegância da esposa. Sara parecia cada dia mais bela, mais
jovem até. Os olhos dela brilhavam com intensidade.
GG: Você está linda!
SS: Obrigada!
Grissom pediu um vinho, e os dois
conversavam formalmente.
SS: Porque você não foi para nossa
casa? Andei fazendo algumas mudanças, gostaria que você visse...
GG: Sara...
SS: Ah, sabe que comprei uma colcha
nova para nossa cama? Florida e bem macia, creio que você gostará de
experimentar...
GG: Sara...
SS: Outro dia a Cath me ligou. Ela
está ótima no FBI. Disse que está realizada, mas sente saudades de todos do
lab. Mandou um abraço para você.
GG: Escute-me, Sara, por favor! –
ele disse, em tom de voz baixa para que as outras pessoas no restaurante não o
ouvisse.
SS: O que foi? Você está tão...
estranho. Aconteceu alguma coisa que eu não estou sabendo?
GG: Não. Não aconteceu nada – ele
suspirou – Quer dizer, eu não tenho certeza...
SS: Tem a ver com a sua aparência?
GG: O que tem minha aparência?
SS: Eu diria que você já foi mais
bem cuidadoso com ela, com sua imagem. E agora isto, porque?
GG: Não tenho tido tempo de cuidar
de mim, acho que é isso.
Sara olhou mais precisa para os
olhos do marido. Havia alguma coisa por trás daquilo tudo, ele era péssimo em
disfarçar. Ela só não sabia o quê exatamente. Mas era algo que não parecia se
encaixar. E, de repente, uma batida dolorida em seu peito quase a fez engasgar.
GG: Algum problema?
SS: Comigo? Nenhum. Eu quero saber é
com você. Está com algum problema?
GG: Sara... você sabe o quanto eu te
amei e ainda amo, sabe o quanto eu lutei contra este sentimento por muito tempo
até que não resisti e me entreguei à você...
A perita teve uma sensação ruim ao
ouvir aquelas palavras. Mas permaneceu calada, à espera do que Grissom poderia
falar em seguida.
GG: E quando eu digo que te amo não
minto, eu amo você, e tudo o que vivemos.
SS: Mas... – ela o interrompeu,
talvez prevendo o que ela recusava a sentir e perceber.
GG: Mas acho que um casamento, para
durar, precisa de muito mais do que nós temos dado a ele. Casamento à distância
não faz bem para ninguém, penso eu.
SS: E você chegou a essa conclusão
por si só?
GG: Não entendi aonde você quer
chegar...
Sara deu suspiro e disse, com a voz
um pouco embargada pela emoção que ela tentava conter:
SS: Quero saber o que te levou a
crer nisso?
GG: Nossa situação. Você é
testemunha disso, temos vivido separados há tanto tempo que nem vida sexual
temos mais.
SS: E você nunca se perguntou de
quem era a culpa de fato?
GG: O que você quer dizer?
SS: Acha que a culpa é
exclusivamente minha por estarmos passando por uma grave crise matrimonial? Sou
eu quem tem vivido fora de Vegas esse tempo todo, sem dar notícias?
GG: Você está me culpando. E eu não
concluí o que preciso te dizer.
SS: Acho que não precisa me dizer o
resto. Eu te digo. Você quer terminar nosso casamento porque acha que não temos
sido leais a ele, que não temos nos dedicado a ele e que você não pretende
voltar a Vegas. É isso?
GG: Não quero que você sofra por
isso... não deixei de te amar.
Sara olhou para o teto, na esperança
de evitar que o futuro ex-marido visse que lágrimas surgiam em seus olhos.
GG: Ei, olhe pra mim. Não fique
assim. Eu acho que precisamos dar um tempo para refletir melhor sobre o que
realmente queremos.
SS: Como você pode dizer isso,
Griss? Você acha que sabe o que eu realmente quero? Você está dentro de mim
para saber do que eu realmente preciso?
GG: Ei, acalme-se! Não precisa ficar
alterada!
SS: Não estou alterada, Gilbert! –
disse Sara, entredentes.
Ele tentou segurar as mãos
da esposa, mas ela as puxou, mostrando claramente o quão estava magoada. Aquela
conversa estava sendo por demais dolorosa, e Sara não sabia se tinha capacidade
para suportar tanta dor assim. Àquela altura, a perita já não se importava com
as lágrimas que rolavam em sua face. Grissom olhava-a penalizada, e ao mesmo
tempo, confuso com tudo o que dissera. No fundo, não sabia ao certo porque
estava querendo se separar dela.
0 comentários:
Postar um comentário