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A profecia - cap. 6


“Se você me ama, não chore
Se você conhecesse o mistério insondável
Do céu onde me encontro...
Se você pudesse ver e sentir o que eu sinto
E vejo nesses horizontes sem fim
e nesta luz que tudo alcança e penetra,
você jamais choraria por mim
Estou agora absorvida pelo encanto de Deus,
pelas suas expressões de infinita beleza
Em confronto com esta nova vida,
as coisas do tempo passado são pequenas e insignificantes
Conservo ainda todo meu afeto por você
e uma ternura que jamais lhe pude, em verdade, revelar
Amamo-nos ternamente em vida, mas
tudo era então muito fugaz e limitado
Vivo na serena expectativa de sua chegada,
um dia... entre nós
Pense em mim assim: nas suas lutas, pense nesta maravilhosa morada 
onde não existe a morte
E onde, juntos, viveremos no enlevo mais puro e mais intenso,
Juntos à fonte inesgotável da alegria e do amor
Se você verdadeiramente me ama,
não chore mais por mim”. 

Todos que estavam nas fileiras se emocionaram. Grissom era o retrato do homem destruído pela perda de um grande amor, seus olhos azuis em pranto era como o espelho d’água de um rio agitado e transtornado. Depois do funeral completamente triste, Grissom se despediu dos amigos e, antes de ir para casa, foi andar pelo parque onde os dois costumavam ir. Era um lugar onde Grissom sentia a presença dela, quando ela estava viva, o vento trazia o perfume da pele macia de Sara... Ele se sentou num banco perto de um rio que atravessava o parque, e uma pessoa lhe falou:

MM: A profecia se cumpriu. Eu sinto muito!

O supervisor levou um susto e, ao levantar a cabeça, viu que era a mulher com quem falar em Cancun. O que ela fazia ali?

GG: Como? O que... você faz em Vegas?
MM: Eu precisava lhe encontrar. Soube o que ocorreu à pobre mulher e vim até você.
GG: Como sabia que eu estava aqui?
MM: Da mesma forma que eu sabia sobre a tempestade que se abateu sobre sua vida, tirando sua mulher de você. Imagino o quanto esteja triste, mas há que se reerguer. A vida continua.
GG: Para quem?

Grissom deu um suspiro e seguiu em frente. Pensou em dizer algo à mulher, virou-se e de repente ela não estava mais ali. Simplesmente evaporara! Mas como, se não havia por onde se esconder? Mesmo intrigado, voltou a andar, mais solitário do que jamais esteve ou sentiu-se. Grissom caminhava pelas relvas verdes e macias do parque, sentindo a natureza sempre se mostrando bela e generosa. As árvores, tão bem cuidadas e podadas, exibiam suas folhas verdes e seus troncos eram fortes, quase intransponentes. O sol já estava se pondo, no horizonte ainda alaranjado. A vida seguia seu curso em Vegas. Mas mal se despedira de Sara e a saudade já doía latente no peito do supervisor, que chamava por seu amor no íntimo. Viver sem ela seria a maior e mais dura tarefa que teria de cumprir. Mas onde encontraria forças para continuar a caminhada sem Sara ao seu lado? Grissom não era um homem exatamente sentimental, mas a morte repentina de Sara o transformara em um homem completamente carente e choroso. E como que um milagre, ou bondade divina, ele pôde contemplar, pela última vez, o rosto o qual tanto amava. Grissom andava entre as árvores quando notou que havia alguém ali. Ao olhar, seus olhos chorosos foram de encontro a... Sara, que parecia um anjo sereno a contemplar o homem amado.

GG: Sara! – balbuciou na emoção do momento.

Ela apenas o olhava, nada dizia.

GG: Oh minha querida, sofro tanto sem você aqui! Por que você me deixou? – disse em lágrimas.

Sara continuava em silêncio, mas as lágrimas também rolaram em seu rosto. Ela ainda trajava a roupa com a qual morrera, mas diferentemente de como estava no necrotério, não havia nenhuma marca de sangue ou feridas. Era como se ela não tivesse sofrido nada. E estava serena, apesar da tristeza em seus olhos, vendo como Grissom estava sem ela.

GG: Eu te amo, Sara, e sempre amarei. Por favor, não demore muito a vir ao meu encontro. Não suportarei passar o resto dos meus dias sem o seu sorriso, sem o seu amor...

Ela deu um sorriso e, com uma das mãos, deu tchau.

SS: Adeus, Griss... até um dia.
GG: Você veio... se despedir de mim?
SS: Eu não poderia ir embora sem lhe dar adeus.
GG: Não fale em adeus. Diga “até breve”. Adeus é longo demais!
SS: Eu sempre estarei com você. Pense em mim e eu estarei aí para sempre. Eu te amo.

De repente ela desapareceu em uma nuvem suave e branca, deixando Grissom atordoado e emocionado. Pelo menos ele agora tinha certeza de que Sara continuava viva e que o amor dos dois seria eterno. Ele não estaria sozinho, e poderia ficar em paz agora.

Fim



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A profecia - cap. 5


Nick retornar à cena do acidente com Brass, para as investigações. Catherine ficou no lab para dar suporte ao amigo.

NS: Como ele está, Cath?
CW: O que era esperado. Está completamente arrasado.
WB: Mas como a Sara foi morrer de uma forma tão estúpida?
CW: Não sei, Warrick... Cadê o Greg?
WB: Está na sala de convivência, ele não para de chorar.
CW: O Gil vai precisar de todos nós.
WB: Estaremos aqui pra isso.

O celular de Catherine tocou.

CW: Willows.
NS: Catherine, estou aqui no local do acidente...
CW: Conseguiu descobrir alguma coisa, Nick?
NS: Estava analisando o carro e descobri que Sara pode ter sido vítima de uma sabotagem.
CW: Sabotagem?! Como é possível?
NS: O carro de Sara é composto de freios abs, que não deixam o carro derrapar na pista quando se precisa frear bruscamente. Mas as marcas de derrapagem vêm de uma longa faixa, o que significa que ela tentou frear o carro e, por algum motivo, não conseguiu. Estava analisando bem o veiculo e descobri que o dispositivo foi alterado.
CW: Como assim, alterado?
NS: Alguém teve acesso ao carro e conseguiu mexer na estrutura principal do veículo.
CW: Céus! E quem teria interesse na morte de Sara?
NS: Veja no computador os últimos casos dela, talvez possamos descobrir. Eu chego aí daqui a pouco.
CW: Certo.

Depois que desligou o celular...

WB: A morte de Sara foi premeditada?
CW: Não sei se a pessoa tinha essa intenção, mas conseguiu tirá-la de sua vista. Estou tão atordoada que nem sei por onde começo. E ainda tem o Gil para consolar...
WB: Você é uma só. Deixe que eu faça isso. O que devo procurar?
CW: Verifique no computador os últimos casos de Sara e faça um cruzamento dos dados. Toda e qualquer ajuda é importantíssima.
WB: Está bem. E veja se descanse um pouco.
CW: Estou péssima.
WB: Nota-se.

Warrick seguiu para a sala de pesquisas e Catherine voltou ao necrotério para tirar Grissom de lá. Ele estava parado feito uma estátua, olhando para o rosto de sua Sara.

CW: Gil, coloque-a de novo na câmara frigorífica, senão o corpo dela vai aquecer e começar a se decompor.

Aquela palavra soou como uma facada no peito, tão dura e latente ao mesmo tempo. “Decomposição”. Sabia que todos os seres nasciam, cresciam e morriam, e ao morrer o corpo físico, a putrefação era um claro sinal de que ao pó todos retornavam. Só que nunca lhe passara pela cabeça que Sara, assim como ele, fosse uma simples mortal de carne e osso, e que algum dia também viraria apenas ossos em um túmulo frio e solitário. Não conseguia aceitar a morte, não conseguia admitir que perdera o grande amor de sua vida para ela. A morte lhe tirara o que havia de mais precioso na vida: Sara!

CW: É hora de deixá-la, Gil.
GG: Não quero deixá-la sozinha.
CW: Sejamos práticos, Sara não está mais aqui. É apenas o corpo físico dela.
GG: O qual nunca mais verei.
CW: É chegada a hora de dizer adeus.
GG: Não aprendi a dizer adeus, e não vou me acostumar com a ausência dela.

Grissom saiu repentinamente do necrotério, deixando Catherine abobada com o tamanho da dor dele. Em sua sala, ele escreveu um bilhete e foi para casa. Não suportava mais aquele clima mórbido que tomara conta do lab, não agüentava mais a dor que dilacerava seu peito e o abria em cinco, dez partes. Era muita dor para um homem só. E Grissom, um homem tão sério e compenetrado, jamais vivera fortes emoções as quais estava vivendo, e jamais sentira tamanha dor em momento algum de sua vida. E, como um homem que aprendera a amar tão profundamente nos braços de uma grande mulher, dizer adeus era o mesmo que ficar de frente para uma arma carregada. Sara o ensinara a amar, mas não o ensinara a dizer adeus. Como seria de agora em diante sem ela, sem a alegria que a perita trazia, sem o olhar desafiador e penetrante, sem a teimosia e os questionamentos que só ela sabia fazer? No lab, Warrick descobriu a ficha de Jack Simpson, num dos casos recentes de Sara. Nick trouxera da cena digitais recolhidas do carro e Brown cruzou os dados: match found!

WB: É ele!
NS: Foi esse cara que sabotou o carro de Sara?
WB: Foi.
NS: Vou avisar o Brass.

Nick saiu e encontrou Catherine no corredor:

NS: Descobrimos quem sabotou o carro de Sara.
CW: Quem foi?
NS: Jack Simpson.
CW: Jura?!
NS: Estou indo avisar ao Brass. Provavelmente ele seja capturado ainda hoje.
CW: Justiça seja feita.

E de fato, o criminoso foi capturado pelos homens do experiente capitão Brass. Jack Simpson foi levado para a delegacia, onde foi interrogado por Brass. O sujeito tinha uma expressão homicida, mas isso não impressionou o experiente capitão de polícia.

JB: Nome completo e idade.
JS: Jack Aaron Simpson, 43 anos.
JB: O que você tem a ver com o acidente que vitimou a perita Sara Sidle?
JS: Eu não tenho nada com isso...
JB: Não banque o inocente! Suas impressões foram encontradas no carro dela, e os freios foram danificados. O que me diz disso?
JS: Ela me ferrou quando matei minha ex-mulher. Era uma mulher enxerida e estava no meu caminho.
JB: Sara apenas cumpriu seu dever como pessoa da lei; você é quem teve a culpa.
JS: Ela tinha que morrer, não suportaria voltar para a cadeia por conta disso.
JB: Mas sabe que agora você não sairá mais do lugar do qual estava fugindo; de repente, pega uma pena de morte.
JS: Pelo menos tirei mais uma mulher imbecil do meu caminho! – ele olhava com frieza e maldade nos olhos para o capitão, que estava indignado.
JB: Você destruiu a vida não apenas de uma grande profissional como a Sara. Você destruiu os sonhos dela e do meu amigo, que era seu namorado. Você destruiu a vida de todos que a amavam, que gostavam dela. A cadeia não lhe será como a prisão no qual você impôs Sara: pelo menos, até o fim de sua vida, você continuará vendo a luz do sol, ela estará para sempre presa debaixo da terra, em uma sepultura fria e solitária. Podem levá-lo, não quero mais ver este sujeito na minha frente! – disse aos policiais que faziam a proteção da sala de interrogatório.

Depois do interrogatório, Brass estava exausto e estressado. Ter de ficar frente a frente com o assassino de sua companheira de lei era por demais penoso. E imaginar como estava o amigo Grissom o deixava ainda mais revoltado com este caso. E ligou para Catherine:

CW: Willows.
JB: Catherine, o depoimento terminou agora.
CW: E como foi? Como o criminoso estava?
JB: Foi uma conversa altamente estressante. O sujeito é muito cínico. Como está o Gil?
CW: Depois que ele foi pra casa ainda não falei com ele. Acho que ele prefere ficar sozinho neste momento. Mas está arrasado, como todos estamos.
JB: Não o deixe sozinho, ele vai precisar de sua amizade e apoio agora mais do que nunca.
CW: Eu não o deixarei sozinho, mas neste momento ele deseja sentir a perda sem ninguém por perto. Vou passar na casa dele hoje.
JB: Faça isso.

No fim do turno, Catherine saiu do lab e foi direto à casa do amigo. Grissom estava com aspecto envelhecido, olhos inchados de chorar, cabelo desgrenhado e roupas desleixadas.

CW: Meu Deus, Gil! O que você fez de si?
GG: O que fizeram com minha vida, Catherine? – Grissom suspirou – Entre.

A loira entrou e observou o apartamento do amigo. Parecia que um furacão havia passado por ali, estava completamente desarrumado.

GG: Não tive tempo de arrumar as coisas, nem tenho cabeça pra isso.
CW: Eu entendo. O Brass me ligou, ele tomou o depoimento de Jack Simpson.
GG: Foi ele quem causou a morte de Sara?
CW: Eu sinto muito.

Grissom sentou-se no sofá, fragilizado emocionalmente, destroçado em seu mais ser mais íntimo, o coração espatifado, estraçalhado, sangrando, chorando a morte da única a quem amou em toda sua vida. Catherine condoeu-se com o sofrimento do amigo. Nunca vira Grissom chorar e sofrer tão intensamente. Sentou-se e o abraçou, tentando confortá-lo, o que naquele momento seria impossível. No funeral, a equipe principal do lab estava sentava na primeira fila. Grissom permanecia cabisbaixo, apenas escutando as palavras do padre. O caixão de Sara estava exposto no altar, coberto pela bandeira americana e com um quadro contendo o retrato dela próximo.

P (padre): Estamos aqui para lembrar a memória da perita Sara Sidle, do laboratório de criminalística de Las Vegas, vítima de um terrível acidente o qual foi premeditado por um criminoso cruel e sem coração. Aqui nesta igreja, que é uma das casas do Senhor, estão presentes amigos, companheiros de trabalho e admiradores desta grande mulher. Lembremo-nos de Sara como uma mulher de fibra, que se doava nas coisas que fazia, que se entregava ao trabalho de corpo e alma. Todos nós sabemos que o trabalho de investigação é por deveras estressante e perigoso também. Mas Sara não se deixava abater em nenhuma situação de perigo, mesmo quando ela mesma se encontrava em perigo.
A morte não existe, meus filhos. É só a passagem para o mundo no qual Deus, em Sua infinita bondade, nos prometeu. O corpo é apenas nossa vestimenta aqui na Terra. A verdadeira roupagem é o espírito, e tanto maior for a paz, mais ele se encontrará leve e livre dos tormentos. Nossa querida Sara merece o descanso eterno que sua alma bondosa necessita. Transformemos as lágrimas em lembranças e a saudade em orações por sua alma. Agora não há mais dor, não há mais sofrimento. Ela está em paz. Vou ler para vocês uma poesia que é como uma oração, para que possa acalentar o coração de vocês.

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