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A presença da ausência – cap. 3



Sara desconectou-se, deixando o marido estarrecido. Agora ele percebera o quão magoada ela estava com aquela situação que, para ela, estava ficando insustentável. Alguma coisa teria de ser feita. Por Sara, para acabar com todo aquele sofrimento, e por Grissom, para salvar seu relacionamento.
Se Sara já estava se sentindo solitária em casa, no lab sofreu um novo golpe: Catherine fora convidada para trabalhar no FBI e aceitara. As duas haviam se tornado grandes amigas ao longo dos anos de convivência, amigas dentro e fora do lab. Amigas íntimas. E agora, com ela indo para fora de Vegas, nem confidente teria mais. Sem marido, sem uma amiga para lhe ouvir, como a bela perita iria suportar toda aquela solidão? Andava tão mal-humorada que ninguém se atrevia a fazer qualquer tipo de brincadeira, pois seria repudiado. Sara azeda era terrível! E quando ficava em casa, nas folgas que Ecklie insistia em lhe dar, a contragosto, pensamentos de separação vinham à sua cabeça. Estando num casamento virtual, sempre sozinha, sem a presença do homem que custara a ter para si, era mais que normal pensar em outras possibilidades. Mas, mais que saudosa até, Sara estava brava. Muito brava. Só não cometia o erro de deixar ninguém perceber o que se passava em seu coração e em sua vida, mas algumas arestas ela deixava escapar, ainda que involuntariamente.
Decidiu escrever um e-mail para Grissom, onde abriria seu coração e contaria tudo o que estava sentindo. Sentou-se na cama, com as costas encostadas em seus travesseiros grandes e macios, e começou a pensar em tudo o que acontecera em sua vida desde sua vinda para Vegas. E as palavras começaram a fluir...

“Gil...

É estranho eu estar lhe escrevendo para falar sobre mim, sobre meus sentimentos... sobre nós.. É algo estranho porque sempre pensei que você estaria aqui para me escutar, para me dizer uma palavra de conforto. Para me proteger. Para me amar. E olho para o lado na cama e vejo apenas um vazio. Vazio como o que está em meu coração. Vazio este que não deveria estar presente, porque nossa cama sempre esteve transbordando de amor. Você se lembra do nosso primeiro encontro em São Francisco, quando nossos olhos se encontraram e nunca mais deixaram de procurar um ao outro? Você se lembra de quando me disse, estando nós abraçados, que eu era uma mulher especial, o tipo de mulher que não se deve deixar ir jamais? Nunca me esqueci disso. Quando já em Vegas, e percebendo seu distanciamento, me lembrava daquelas palavras e sentia, sabia, que você estava me deixando ir e não tomava nenhuma atitude para impedir...”

Sara parou por um momento e chorou. Estava extremamente sentida com o marido, estava com saudades e, por mais que o chamasse em pensamentos, em sonhos, ele não vinha. Parecia até que não voltava para casa de propósito, ou permanecia longe para evitar uma conversa cara-a-cara – e Grissom era excelente para fugir de situações que fugiam de seu controle ou exigiam muito mais. Sara estava vivendo pelos dois naquele casamento solitário, e um relacionamento onde apenas um se dedica torna-se um fardo. Naquele momento de lágrimas, enquanto chorava, a perita se lembrou de quando, suspensa por Ecklie, Grissom fora até sua casa saber o porquê de seu comportamento tão rebelde. Fora quando ela lhe revelara a verdade sobre a morte de seu pai. E foi quando ele segurou suas mãos firmes, como se nunca mais fosse soltá-la. Como se dissesse: “está tudo bem, você nunca mais estará sozinha”. Mas continuou... Depois de alguns minutos de pranto sentido rolando pela face, Sara passou a mão no rosto e continuou a digitar.

“Sinceramente, Gil, estou com muita raiva dessa situação toda. Até quando você pretende brincar de esconde-esconde comigo? Existe algum motivo mais forte que o impede de voltar para nosso “lar”, para mim? Eu tenho o direito de saber até se você não me quer mais. Aí acabamos com esse sofrimento todo. Manter um casamento de aparências, apenas para mostrar a todos que estamos juntos é bobagem, é perda de tempo. Eu quero saber de você: não sou a mulher que você realmente queria? Não sou boa na cama? Meu amor não é suficiente para mantê-lo sempre por perto? Nosso amor nunca existiu? Estou com raiva de você, mas ao mesmo tempo, meu coração diz que devo pensar nos momentos maravilhosos que tivemos juntos. Os momentos que sempre foram só nossos, íntimos. Você ainda se recorda de algum? Imaginar que todos esses anos apaixonada por você e todas as dificuldades que enfrentei para conquistar seu coração podem ter sido em vão me arrebenta ainda mais por dentro. Diga que nada foi em vão, diga que você ainda me ama. Só preciso saber disso. 
Só preciso saber se você ainda quer voltar. Porque, caso não queira, podemos nos libertar dessa situação que nos prende, e cada um segue o seu caminho. Mas não me venha com desculpas. Eu não vou aceitar. Se quer terminar com nosso casamento, diga de uma vez. Mas não me faça de idiota, por que isso eu não sou! Eu... eu ainda estou te esperando, Gil! Eu... eu amo você. Tudo o que mais quero é que você volte e nunca mais me deixe sozinha. Você não sabe o quanto dói a solidão, como é chegar em casa e não ter alguém para dividir a cama nas noites geladas. Alguém para fazer companhia no café da manhã. Alguém que simplesmente te abrace e diga que tudo ficará bem”.

Sara chorou mais uma vez. Estava com muita raiva de Grissom e o que ele estava fazendo com ela, mas seu coração magoado ainda o amava e ela, aos soluços, desejava que ele tocasse a campainha. Ela terminou de escrever a carta, clicou em “salvar” e pôs um cd no cd-player. Enquanto tocava uma doce canção, Sara lavava o rosto vermelho de chorar no banheiro.

"Você não me entende
Eu estive acordada a noite toda
Você esteve erguendo uma luta,
Parece que nada que digo ajuda
Como nesta cama velha coube um mundo entre eu e você?
Nós dissemos "boa-noite",
Mas o silêncio era tão íntimo que se conseguia cortar com uma faca
Nós batemos com a cara parede de novo e não há nada que eu possa fazer
Você é o único
Coloquei toda minha confiança em suas mãos
Venha e olhe nos meus olhos
Estou aqui, estou aqui
Você não me entende, meu querido
Você parece não saber que preciso tanto de você
Você não me entende, meus sentimentos,
A razão pela qual estou respirando, meu amor
A manhã chega e você está procurando por mim
Assim como tudo estivesse a mesma coisa
E eu me deixei acreditar que as coisas vão mudar
Quando você beija minha boca e você puxa meu corpo para perto,
Você imagina quem está por dentro?
Talvez não há nenhuma maneira que nós poderíamos sentir a dor um do outro
Me diga por que fica mais difícil saber onde estou
Acho que a solidão encontrou uma nova amiga
Aqui estou eu
Você não me entende, meu querido
Você realmente não vê que vivo pelo seu toque
Você não me entende
Meus sonhos ou as coisas que eu acredito, meu amor
Você não me entende, me entende..."

Aquela música retratava exatamente a situação do casal, mais precisamente os sentimentos de Sara. Ela, tão apaixonada por Grissom desde que o conhecera, jamais deixando de amá-lo apesar de tantas coisas terem acontecido e tantas pessoas terem aparecido entre eles, estava se sentindo a pessoa mais solitária do mundo. E por causa dele. E mais uma vez, chorava por ele...
Os dias se passaram e nenhum sinal de vida de Grissom. A idéia de enviar a carta e de separação estavam cada vez mais fortes na cabeça da perita. Iria esperar mais alguns dias e então daria entrada com os papéis. Mas como um amor, quando é grande e verdadeiro, não morre, os milagres acontecem. Naquela noite, depois de mais um dia inteiro trabalhando em um caso, exausta em casa, Sara estava deitada em sua cama quando ouviu a campainha tocar. Era por volta de nove da noite. Estranhou que alguém pudesse ir até sua casa àquela hora, já que, além de ser noite, não esperava ninguém. Mas alguém esperava por ela. Ao abrir a porta, Sara quase caiu para trás: era Grissom! Por instantes, os olhares se fundiram e um mergulhou dentro da alma do outro. Sara arqueou a sobrancelha, demonstrando ainda estar ressabiada.

GG: Não vem me dar um abraço, querida?
SS: Depois de tanto tempo... não consigo acreditar!
GG: Eu voltei... e para sempre, meu amor.

Sara abriu o sorriso e Grissom, deixando as malas no chão, foi até ela, beijando-a intensamente e deslizando as mãos no corpo esguio dela. Quanta saudade! A perita não parava de beijá-lo, misturava sua língua na dele para ter certeza de que o gosto do beijo do marido não havia mudado.

GG: Será que posso entrar?
SS: A casa ainda é sua também...

Grissom deixou as malas no chão e abraçou a esposa apertado.

GG: Não sabe o quanto eu sofri longe de você...
SS: Mais do que eu não, Gilbert!
GG: Eu posso imaginar o quanto você deve ter sofrido e chorado, Sara. Mas eu voltei, agora pra ficar. Porque aqui é o meu lugar! Ao seu lado, em seus braços, dentro de você...
SS: Vai parar com essa história de viagens, Grissom?
GG: Só com você agora!

Grissom adentrou-se em Sara, querendo mais beijos. A esposa o brecou.

SS: Um momento!
GG: O que...?

Sara correu até o quarto, abriu o laptop, encontrou a carta que havia escrito, deletou e voltou para a sala.

GG: Aconteceu alguma coisa?
SS: Agora está tudo bem. Onde paramos?

Grissom, sem dizer uma palavra, segurou Sara no colo e a levou para o quarto. Saudoso da cama macia onde amou aquela mulher tão maravilhosa tantas e tantas vezes, o supervisor, guloso do corpo da amada, cobrindo-a de beijos molhados, foi retirando as peças de roupa dela, em seguida retirou as próprias, completamente ansioso e excitado. O amor rolou solto na cama. E a felicidade estava de volta ao lar daquele casal que era tão único. Grissom e Sara, tão diferentes, mas tão parecidos ao mesmo tempo, tão um do outro... tão apaixonados...

Fim

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A presença da ausência – cap. 2



Mas como falar de filhos com um marido que a cada dia estava em um canto diferente do planeta? Como abrir seu coração para falar de suas vontades, desejos, carências e tristezas se não havia ninguém para ouvi-la? Se o homem a quem ela sempre amara nunca estava presente...
Sara estava chegando aos 40 e sentia a presença do tempo em seu corpo; ao redor dos olhos haviam alguns pés de galinha que, embora mostrasse sua vivência, sua maturidade, era algo que de alguma forma a incomodava, porque era uma declaração expressa de que não era mais a Sara de São Francisco, quando, ao conhecer Grissom, tinha apenas 26 anos. Nessa rotina de querer se dedicar ainda mais ao trabalho, para esquecer que, ao chegar em casa, encontraria só solidão, Sara quase não comia nem dormia, e com isso estava muito magra. Catherine chegou a dizer que a invejava, pois, enquanto a perita mostrava um corpo mais magro e esbelto, a loira havia ganhado uns culotes indesejáveis – pesadelo de uma loira vaidosa. Enquanto lia e relia o e-mail de Grissom, Sara pensava naquelas coisas todas. E mandou uma resposta rápida para ele:

“Não se preocupe, estou bem.

Sara”

Não iria, em hipótese alguma, mostrar dor e tristeza a quem, apesar de ser seu cônjuge, parecia não fazer questão de retornar ao lar que construíram juntos um dia. Os sentimentos dentro dela estavam desordenados, causando certa confusão na mente dela. Mas o sentimento mais forte e que este ela não conseguia desfazer tampouco controlar era o da solidão. Estava cada vez mais difícil suportar estar sozinha quando sabia que tinha um homem que lhe cuidaria. Sara enviou o e-mail, fechou o notebook e saiu do quarto. Foi até a cozinha, onde pegou uma garrafa de cerveja. Sentou-se no sofá e disse a si mesma: “está tudo bem, Sara!”

Será que estava mesmo?

Naquela noite, Catherine ligou para a amiga. A loira percebia a tristeza em Sara, mas não comentava nada para respeitar a privacidade dela.

CW: Como você tem passado, Sara?
SS: Nos vimos ainda hoje, Cath!
CW: Eu sei, mas queria saber de você. Por isso te liguei.
SS: Estou indo...
CW: Amanhã é sua folga, né?
SS: Não queria. Protelei o quanto pude, mas Ecklie recusou-se a me livrar da folga.
CW: Está difícil pra você quando está de folga né? Eu entendo...
SS: O que vou dizer, Cath?
CW: Não precisa me dizer nada. Seus olhos me dizem todos os dias.
SS: Chegar em uma casa e não encontrar o homem que, teoricamente, deveria ser seu marido, é péssimo para qualquer mulher! Ainda por cima tenho de ficar ouvindo elogios ao meu casamento, que só existe mesmo no papel!
CW: Acho que você deveria tomar uma atitude, sabe? Torci tanto para que o Gil admitisse que te amava e ficasse logo com você, e quando vocês enfim conseguem se acertar, ele abre esse buraco entre os dois. Não há amor nem casamento que resista à distância. E quem fala que o amor verdadeiro suporta tudo, até distância, é porque nunca se viu tanto tempo longe da pessoa amada.

Do outro lado da linha, Sara chorava em silêncio, sem fungar nem dar qualquer sinal de que seu pranto estava descendo. A dor estava tomando conta de seu coração e de sua alma. Antes que a amiga percebesse que estava aos prantos, Sara, disfarçando o máximo do máximo inventou uma desculpa e desligou.
Em seguida, permitiu-se chorar copiosamente, como se fosse uma criança que estava longe da segurança da mãe. Ao pegar um porta-retratos na qual havia uma foto dela abraçada a Grissom em Paris, a bela chorou ainda mais. 
Aquela imagem parecia lhe passar uma mensagem, de que os bons tempos estariam eternizados... apenas em fotografias. A solidão na qual Sara se encontrava era como um punhal fincado no peito, que ia rompendo as artérias aos poucos, causando uma morte lenta e dolorosa. Será que o casamento o qual tanto almejara estava tão ferido assim, a ponto da solitária esposa pensar em outras possibilidades, como separação... tempo... liberdade...?
Na manhã seguinte, mais uma vez acordara de mau humor. Havia tempos que Sara acordava assim, diferentemente de quando seu marido dividia a cama com ela. Evidentemente que essa situação de casamento à distância, solidão, causava esse tipo de comportamento. Os amigos no lab percebiam o quanto Sara estava arredia e tinham uma vaga impressão de ser por causa de Grissom. Pelo menos os mais próximos, como Catherine, Nick e Greg. Os outros, novatos no lab, não sabiam nada da vida dela. E na situação atual, Sara não tocava nesses assuntos de família, casal, amor. A bela perita, cada vez mais bonita, embora estivesse trincada internamente, ajeitou os cabelos, vestiu seu short (dormia de camiseta e calcinha) e foi ao banheiro escovar os dentes. Depois, seguiu para a cozinha, afim de preparar seu café da manhã. A campainha tocou. Sara atendeu e um rapaz a entregou um vaso com uma nova planta. Nem pensou, já deduziu que se tratava de Grissom. Leu o cartãozinho que viera junto e lá estava: “De Grissom”. Ela bufou insatisfeita. Olhou em sua sala e viu a “coleção” de plantas que estava juntando. Mais um pouco e sua sala se transformaria em uma floresta tropical! Sara foi tomar seu café, e alguns minutos depois, um toque em seu celular foi ouvido. Não era chamada, era uma mensagem recebida. Era de Grissom.
 
“Sara, recebeu a planta que te enviei? Entre no skype, estou te esperando. Grissom”.

A perita arqueou a sobrancelha e foi ligar o notebook. Conectou à internet, abriu o skype e deu de cara com um Grissom mais envelhecido, mais rechonchudo (parecia ter comido demais) e mais rosado.

GG: Olá querida! Como você está?

Sara levou alguns segundos para responder.

SS: Como você acha que estou?
GG: Imagino que bem ocupada. Como vai no lab?
SS: Nada de mais, apenas crimes e criminosos. E você, onde está agora?
GG: De Florença segui para Ibiza. Aqui é fantástico! Praias lindas, sol escaldante, gente alegre!
SS: Escuta, você está a trabalho ou a lazer?
GG: Diria que os dois. Oras, querida, se estou no paraíso, tenho que aproveitar, não é?
SS: É claro... – respondeu completamente desanimada.
GG: Não se preocupe! Em breve você estará aqui comigo. Estaremos juntos novamente. É só questão de terminar de...

Sara, que já estava muito chateada com toda aquela situação, acabou interrompendo-o de forma agressiva:

SS: É só uma questão de você terminar de curtir a vida, não é isso o que queria dizer?
GG: Como é?! – ele ficou surpreso com a forma dela se expressar.
SS: Porque você não diz de uma vez que se arrependeu de se casar comigo e quer voltar a ser um homem livre?
GG: Você está me interpretando mal, Sara! Nunca disse que não queria mais ser casado com você! Não recebe as plantas que lhe envio?
SS: Mais algumas delas e meu apartamento vira a floresta amazônica! Acha que mandando plantas está compensando a sua ausência?
GG: O que deu em você para estar tão agressiva comigo?
SS: Se prestasse um pouco de atenção, saberia que não é com você que estou brava... é com tudo! Tudo o que estou sentindo, tudo o que estou vivendo, tudo me deixa brava!
GG: Acalme-se, Sara!
SS: Não me peça para ficar calma porque não vou ficar! Você não está perto para saber como tenho vivido longe de você! É claro que não estaria presente, você nunca está por perto, está a cada dia num lugar diferente...

Grissom ficou mudo, sem reação. Nunca vira a mulher tão brava, ainda mais depois que se casaram. Tentava compreendê-la, mas ela lançara uma barreira entre eles. Não conseguia enxergar que fora ele quem pusera o muro entre os dois. Era ele quem estava afastando Sara de si, involuntariamente. E continuou mudo quando ela continuou a falar:

SS: O que o casamento representa para você? Morar junto e pronto? Ou a união de duas pessoas que se amam e desejam dividir os melhores momentos da vida juntos, para sempre? Porque talvez você precise aprender melhor sobre isso, seu conceito de casamento é péssimo!
GG: Quer me escutar, Sara?
SS: Para você dizer o quê? “Querida, estou muito ocupado com pesquisas, mas estive em Paris e me lembrei de você!”. Faça-me o favor, Gilbert! Você não precisa me lembrar que estou em Vegas, ralando e você em eternas férias em lugares lindos os quais eu gostaria de estar também mas não estou! Eu sempre soube qual era o meu lugar. E certamente não faço parte das pessoas mais importantes de sua vida! Quer saber? Me cansei desse papo! Tchau!

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A presença da ausência – cap. 1



No fim de mais um turno longo, Sara estava exausta. Embora evitasse pensar em cansaço para, em casa, ter de dormir sozinha, não podia evitar as fadigas pelo corpo. Durante o trajeto para casa, já no raiar do dia, costumava ligar o rádio do carro para relaxar enquanto dirigia, e para evitar sentir mais sono enquanto não chegasse em casa. A rotina de Sara estava sendo assim, lab – casa, casa – lab. Embora fosse uma mulher casada no papel agora, sua vida parecia a da Sara de antigamente, solteira e... sozinha. A perita se pegava pensando em sua vida de antes diariamente, quando nutria um amor platônico pelo homem a quem tinha no coração há tantos anos; depois, na entrega dele, onde, a partir daí, foram momentos maravilhosos, noites de amor sem fim, beijos apaixonados, juras de amor eterno. Aí ela se fora de Vegas. 
Depois retornou para o funeral de Warrick. Em seguida ele se despediu do lab e foi atrás dela na Costa Rica. O casamento secreto. Os planos de trabalhos em conjunto. O retorno a Vegas... sem ele. Chegou em casa exausta, depois de um caso complicado e cruel: um jovem noivo fora assassinado em sua própria festa, em frente à noiva. E Sara, com aquelas imagens na cabeça, do jovem morto, do sangue espalhado, das lágrimas da garota... e do interrogatório do ministro que oficializara a cerimônia. Aquele interrogatório que tomara um rumo que ela nunca poderia supor: seu próprio casamento. Não conseguia tirar da cabeça a pergunta que Alan Widcom lhe fizera:

AW: Você é casada?
SS: Sim.
AW: É especial, não é?
SS: Sim... é...

Ter de responder àquela pergunta tão descabível, estando sentada ao lado de Conrad Ecklie, fora muito para um dia só. Que Ecklie não notara nada, isso ela tinha certeza, mas pôde ver nos olhos de Alan que ele não sentiu a resposta muito segura. Enquanto se banhava, Sara se pegou pensando no marido, sempre tão ausente fisicamente, estando a cada dia em um país diferente. No último contato, Grissom dissera estar em Florença, na Itália, fazendo novas pesquisas. Quando ela ouvira aquilo, sentiu uma pontada no peito. Florença era um sonho que tinha, de estar com ele por lá. E Grissom estava lá... sem ela!
Fazendo pesquisas que só ele mesmo sabia do que se tratava realmente, se é que estava fazendo pesquisas ou... inventando pretextos para continuar fora dos Estados Unidos, e ela, cada dia mais só dentro do próprio casamento.
Enquanto se alimentava, antes de cair na cama, Sara sentiu o peito latejar, como se tivesse algo preso dentro dele querendo sair. Talvez o peso fosse esse relacionamento “virtual” que estava tendo com o homem pelo qual esperou tanto tempo para rever, sonhou secretamente com este amor e, quando enfim consegue tê-lo para si, as coisas começaram a desandar. Porque não podia ser tudo tão simples, como um relacionamento normal? Porque, vivendo da maneira que estava, Sara tinha de rebolar para manter as aparências. 
Quase diariamente alguém perguntava de Grissom e sua vida de casada. E podia apenas responder com um “tudo bem” frio e sem sal. Estava ficando cada vez mais difícil disfarçar, fingir ser feliz não era algo que ela jamais pensara estando ao lado do homem que amava de verdade. O que fazer numa relação onde a outra parte está sempre ausente? E quando essa ausência se faz cada vez mais presente, causando dor, sofrimento e... solidão? Depois de beber o chá, com a cabeça girando de sono, Sara foi para o quarto, onde dormiu por horas. Acordou no final da tarde. Olhou para o lado e viu o travesseiro arrumado, o lado em que Grissom deveria dormir intacto, perfeitamente arrumado. Ali, apenas lembranças estavam, de momentos de amor tão doces feito um brigadeiro que derrete na boca. A lembrança daqueles momentos fazia Sara suspirar. Ela olhou com tristeza para cama, assim que se levantou, e o silêncio no quarto era sufocante. A cama, onde outrora os dois faziam amor freqüentemente, agora parecia um deserto, pois para uma pessoa só, era grande demais.

SS: Será que ele mandou algum e-mail?

Sara ligou o notebook e conectou à internet. Abriu sua caixa de e-mails e havia um do marido.

“Sara,

Andando pelas ruas de Florença tenho pensado em você. Tudo aqui te lembra.  Adoraria que estivesse aqui comigo. Quem sabe não passamos alguns dias por aqui? Quando voltar, vou cobri-la de beijos.

Grissom”

A perita engoliu o choro que queria descer. Enquanto ela estava em Vegas, ralando atrás de criminosos, seu marido, sozinho, andando pelas ruas de Florença, onde ela queria ir e chegara a confessar para ele. Naquele momento, no silêncio do apartamento e sabendo que seu marido andava se divertindo sozinho em uma espécie de tour pela Europa, Sara sentiu que estava aquela situação chegava ao absurdo. Como ele ainda tinha a coragem para dizer à mulher que estava no lugar onde ela sonhava em ir? Como insistir nessa de “pesquisar” por países afora, enquanto ela... enquanto ela, dia após dia, ia mergulhando num mar de solidão e carência. Sara, depois de conhecer Grissom em São Francisco, teve lá seus casinhos. Mesmo estando apaixonada por ele, mas ela era solteira e livre. Depois que viera para Vegas, envolveu-se com Hank Peddigrew, mas ainda era uma mulher à solta. Depois que os dois ficaram juntos, ela nunca mais olhou em outra direção, e não passava pela cabeça trair o marido. Mesmo estando tanto tempo sem beijos e sexo – estiveram juntos já fazia três semanas, mesmo sentindo desejos normais a toda mulher casada, Sara mantinha seus pensamentos em seu relacionamento – um relacionamento fora dos padrões normais, segundo a opinião de sua sogra, que dissera o quão estranha era aquela relação, querendo saber até sobre a vida sexual do casal.
Conversando com ela depois da pequena conferência via skype entre os três, Sara sentira que a mãe de Grissom sonhava em ter um netinho, pois o filho enfim tinha encontrado uma boa mulher para ser sua esposa e, conseqüentemente, mãe de seus filhos. A perita, que até então não havia pensado nessa idéia, começara a imaginar uma situação familiar... crianças, natais, aniversários... sempre com muita gente na casa e muita alegria também.

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