No fim de mais um turno longo, Sara
estava exausta. Embora evitasse pensar em cansaço para, em casa, ter de dormir
sozinha, não podia evitar as fadigas pelo corpo. Durante o trajeto para casa,
já no raiar do dia, costumava ligar o rádio do carro para relaxar enquanto
dirigia, e para evitar sentir mais sono enquanto não chegasse em casa. A rotina
de Sara estava sendo assim, lab – casa, casa – lab. Embora fosse uma mulher
casada no papel agora, sua vida parecia a da Sara de antigamente, solteira e...
sozinha. A perita se pegava pensando em sua vida de antes diariamente, quando
nutria um amor platônico pelo homem a quem tinha no coração há tantos anos;
depois, na entrega dele, onde, a partir daí, foram momentos maravilhosos,
noites de amor sem fim, beijos apaixonados, juras de amor eterno. Aí ela se
fora de Vegas.
Depois retornou para o funeral de Warrick. Em seguida ele se despediu do lab e
foi atrás dela na Costa Rica. O casamento secreto. Os planos de trabalhos em
conjunto. O retorno a Vegas... sem ele. Chegou em casa exausta, depois de um
caso complicado e cruel: um jovem noivo fora assassinado em sua própria festa,
em frente à noiva. E Sara, com aquelas imagens na cabeça, do jovem morto, do
sangue espalhado, das lágrimas da garota... e do interrogatório do ministro que
oficializara a cerimônia. Aquele interrogatório que tomara um
rumo que ela nunca poderia supor: seu próprio casamento. Não conseguia tirar da
cabeça a pergunta que Alan Widcom lhe fizera:
AW: Você é casada?
SS: Sim.
AW: É especial, não é?
SS: Sim... é...
Ter de responder àquela pergunta tão
descabível, estando sentada ao lado de Conrad Ecklie, fora muito para um dia
só. Que Ecklie não notara nada, isso ela tinha certeza, mas pôde ver nos olhos
de Alan que ele não sentiu a resposta muito segura. Enquanto se banhava, Sara
se pegou pensando no marido, sempre tão ausente fisicamente, estando a cada dia
em um país diferente. No último contato, Grissom dissera estar em Florença, na
Itália, fazendo novas pesquisas. Quando ela ouvira aquilo, sentiu uma
pontada no peito. Florença era um sonho que tinha, de estar com ele por lá. E
Grissom estava lá... sem ela!
Fazendo pesquisas que só ele mesmo
sabia do que se tratava realmente, se é que estava fazendo pesquisas ou...
inventando pretextos para continuar fora dos Estados Unidos, e ela, cada dia
mais só dentro do próprio casamento.
Enquanto se alimentava, antes de
cair na cama, Sara sentiu o peito latejar, como se tivesse algo preso dentro
dele querendo sair. Talvez o peso fosse esse relacionamento “virtual” que
estava tendo com o homem pelo qual esperou tanto tempo para rever, sonhou
secretamente com este amor e, quando enfim consegue tê-lo para si, as coisas
começaram a desandar. Porque não podia ser tudo tão
simples, como um relacionamento normal? Porque, vivendo da maneira que estava,
Sara tinha de rebolar para manter as aparências.
Quase diariamente alguém
perguntava de Grissom e sua vida de casada. E podia apenas responder com um
“tudo bem” frio e sem sal. Estava ficando cada vez mais difícil
disfarçar, fingir ser feliz não era algo que ela jamais pensara estando ao lado
do homem que amava de verdade. O que fazer numa relação onde a
outra parte está sempre ausente? E quando essa ausência se faz cada vez mais
presente, causando dor, sofrimento e... solidão? Depois de beber o chá, com a cabeça
girando de sono, Sara foi para o quarto, onde dormiu por horas. Acordou no
final da tarde. Olhou para o lado e viu o travesseiro arrumado, o lado em que
Grissom deveria dormir intacto, perfeitamente arrumado. Ali, apenas lembranças
estavam, de momentos de amor tão doces feito um brigadeiro que derrete na boca.
A lembrança daqueles momentos fazia Sara suspirar. Ela olhou com tristeza para
cama, assim que se levantou, e o silêncio no quarto era sufocante. A cama, onde
outrora os dois faziam amor freqüentemente, agora parecia um deserto, pois para
uma pessoa só, era grande demais.
SS: Será que ele mandou algum
e-mail?
Sara ligou o notebook e conectou à
internet. Abriu sua caixa de e-mails e havia um do marido.
“Sara,
Andando pelas ruas de Florença tenho
pensado em você. Tudo aqui te lembra.
Adoraria que estivesse aqui comigo. Quem sabe não passamos alguns dias
por aqui? Quando voltar, vou cobri-la de beijos.
Grissom”
A perita engoliu o choro que queria
descer. Enquanto ela estava em Vegas, ralando atrás de criminosos, seu marido,
sozinho, andando pelas ruas de Florença, onde ela queria ir e chegara a
confessar para ele. Naquele momento, no silêncio do apartamento e sabendo que
seu marido andava se divertindo sozinho em uma espécie de tour pela Europa,
Sara sentiu que estava aquela situação chegava ao absurdo. Como ele ainda tinha
a coragem para dizer à mulher que estava no lugar onde ela sonhava em ir? Como
insistir nessa de “pesquisar” por países afora, enquanto ela... enquanto ela,
dia após dia, ia mergulhando num mar de solidão e carência. Sara, depois de conhecer Grissom em
São Francisco, teve lá seus casinhos. Mesmo estando apaixonada por ele, mas ela
era solteira e livre. Depois que viera para Vegas, envolveu-se com Hank
Peddigrew, mas ainda era uma mulher à solta. Depois que os dois ficaram juntos,
ela nunca mais olhou em outra direção, e não passava pela cabeça trair o
marido. Mesmo estando tanto tempo sem beijos e sexo – estiveram juntos já fazia
três semanas, mesmo sentindo desejos normais a toda mulher casada, Sara
mantinha seus pensamentos em seu relacionamento – um relacionamento fora dos
padrões normais, segundo a opinião de sua sogra, que dissera o quão estranha
era aquela relação, querendo saber até sobre a vida sexual do casal.
Conversando com ela depois da
pequena conferência via skype entre os três, Sara sentira que a mãe de Grissom
sonhava em ter um netinho, pois o filho enfim tinha encontrado uma boa mulher
para ser sua esposa e, conseqüentemente, mãe de seus filhos. A perita, que até
então não havia pensado nessa idéia, começara a imaginar uma situação
familiar... crianças, natais, aniversários... sempre com muita gente na casa e
muita alegria também.
0 comentários:
Postar um comentário