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A presença da ausência – cap. 3



Sara desconectou-se, deixando o marido estarrecido. Agora ele percebera o quão magoada ela estava com aquela situação que, para ela, estava ficando insustentável. Alguma coisa teria de ser feita. Por Sara, para acabar com todo aquele sofrimento, e por Grissom, para salvar seu relacionamento.
Se Sara já estava se sentindo solitária em casa, no lab sofreu um novo golpe: Catherine fora convidada para trabalhar no FBI e aceitara. As duas haviam se tornado grandes amigas ao longo dos anos de convivência, amigas dentro e fora do lab. Amigas íntimas. E agora, com ela indo para fora de Vegas, nem confidente teria mais. Sem marido, sem uma amiga para lhe ouvir, como a bela perita iria suportar toda aquela solidão? Andava tão mal-humorada que ninguém se atrevia a fazer qualquer tipo de brincadeira, pois seria repudiado. Sara azeda era terrível! E quando ficava em casa, nas folgas que Ecklie insistia em lhe dar, a contragosto, pensamentos de separação vinham à sua cabeça. Estando num casamento virtual, sempre sozinha, sem a presença do homem que custara a ter para si, era mais que normal pensar em outras possibilidades. Mas, mais que saudosa até, Sara estava brava. Muito brava. Só não cometia o erro de deixar ninguém perceber o que se passava em seu coração e em sua vida, mas algumas arestas ela deixava escapar, ainda que involuntariamente.
Decidiu escrever um e-mail para Grissom, onde abriria seu coração e contaria tudo o que estava sentindo. Sentou-se na cama, com as costas encostadas em seus travesseiros grandes e macios, e começou a pensar em tudo o que acontecera em sua vida desde sua vinda para Vegas. E as palavras começaram a fluir...

“Gil...

É estranho eu estar lhe escrevendo para falar sobre mim, sobre meus sentimentos... sobre nós.. É algo estranho porque sempre pensei que você estaria aqui para me escutar, para me dizer uma palavra de conforto. Para me proteger. Para me amar. E olho para o lado na cama e vejo apenas um vazio. Vazio como o que está em meu coração. Vazio este que não deveria estar presente, porque nossa cama sempre esteve transbordando de amor. Você se lembra do nosso primeiro encontro em São Francisco, quando nossos olhos se encontraram e nunca mais deixaram de procurar um ao outro? Você se lembra de quando me disse, estando nós abraçados, que eu era uma mulher especial, o tipo de mulher que não se deve deixar ir jamais? Nunca me esqueci disso. Quando já em Vegas, e percebendo seu distanciamento, me lembrava daquelas palavras e sentia, sabia, que você estava me deixando ir e não tomava nenhuma atitude para impedir...”

Sara parou por um momento e chorou. Estava extremamente sentida com o marido, estava com saudades e, por mais que o chamasse em pensamentos, em sonhos, ele não vinha. Parecia até que não voltava para casa de propósito, ou permanecia longe para evitar uma conversa cara-a-cara – e Grissom era excelente para fugir de situações que fugiam de seu controle ou exigiam muito mais. Sara estava vivendo pelos dois naquele casamento solitário, e um relacionamento onde apenas um se dedica torna-se um fardo. Naquele momento de lágrimas, enquanto chorava, a perita se lembrou de quando, suspensa por Ecklie, Grissom fora até sua casa saber o porquê de seu comportamento tão rebelde. Fora quando ela lhe revelara a verdade sobre a morte de seu pai. E foi quando ele segurou suas mãos firmes, como se nunca mais fosse soltá-la. Como se dissesse: “está tudo bem, você nunca mais estará sozinha”. Mas continuou... Depois de alguns minutos de pranto sentido rolando pela face, Sara passou a mão no rosto e continuou a digitar.

“Sinceramente, Gil, estou com muita raiva dessa situação toda. Até quando você pretende brincar de esconde-esconde comigo? Existe algum motivo mais forte que o impede de voltar para nosso “lar”, para mim? Eu tenho o direito de saber até se você não me quer mais. Aí acabamos com esse sofrimento todo. Manter um casamento de aparências, apenas para mostrar a todos que estamos juntos é bobagem, é perda de tempo. Eu quero saber de você: não sou a mulher que você realmente queria? Não sou boa na cama? Meu amor não é suficiente para mantê-lo sempre por perto? Nosso amor nunca existiu? Estou com raiva de você, mas ao mesmo tempo, meu coração diz que devo pensar nos momentos maravilhosos que tivemos juntos. Os momentos que sempre foram só nossos, íntimos. Você ainda se recorda de algum? Imaginar que todos esses anos apaixonada por você e todas as dificuldades que enfrentei para conquistar seu coração podem ter sido em vão me arrebenta ainda mais por dentro. Diga que nada foi em vão, diga que você ainda me ama. Só preciso saber disso. 
Só preciso saber se você ainda quer voltar. Porque, caso não queira, podemos nos libertar dessa situação que nos prende, e cada um segue o seu caminho. Mas não me venha com desculpas. Eu não vou aceitar. Se quer terminar com nosso casamento, diga de uma vez. Mas não me faça de idiota, por que isso eu não sou! Eu... eu ainda estou te esperando, Gil! Eu... eu amo você. Tudo o que mais quero é que você volte e nunca mais me deixe sozinha. Você não sabe o quanto dói a solidão, como é chegar em casa e não ter alguém para dividir a cama nas noites geladas. Alguém para fazer companhia no café da manhã. Alguém que simplesmente te abrace e diga que tudo ficará bem”.

Sara chorou mais uma vez. Estava com muita raiva de Grissom e o que ele estava fazendo com ela, mas seu coração magoado ainda o amava e ela, aos soluços, desejava que ele tocasse a campainha. Ela terminou de escrever a carta, clicou em “salvar” e pôs um cd no cd-player. Enquanto tocava uma doce canção, Sara lavava o rosto vermelho de chorar no banheiro.

"Você não me entende
Eu estive acordada a noite toda
Você esteve erguendo uma luta,
Parece que nada que digo ajuda
Como nesta cama velha coube um mundo entre eu e você?
Nós dissemos "boa-noite",
Mas o silêncio era tão íntimo que se conseguia cortar com uma faca
Nós batemos com a cara parede de novo e não há nada que eu possa fazer
Você é o único
Coloquei toda minha confiança em suas mãos
Venha e olhe nos meus olhos
Estou aqui, estou aqui
Você não me entende, meu querido
Você parece não saber que preciso tanto de você
Você não me entende, meus sentimentos,
A razão pela qual estou respirando, meu amor
A manhã chega e você está procurando por mim
Assim como tudo estivesse a mesma coisa
E eu me deixei acreditar que as coisas vão mudar
Quando você beija minha boca e você puxa meu corpo para perto,
Você imagina quem está por dentro?
Talvez não há nenhuma maneira que nós poderíamos sentir a dor um do outro
Me diga por que fica mais difícil saber onde estou
Acho que a solidão encontrou uma nova amiga
Aqui estou eu
Você não me entende, meu querido
Você realmente não vê que vivo pelo seu toque
Você não me entende
Meus sonhos ou as coisas que eu acredito, meu amor
Você não me entende, me entende..."

Aquela música retratava exatamente a situação do casal, mais precisamente os sentimentos de Sara. Ela, tão apaixonada por Grissom desde que o conhecera, jamais deixando de amá-lo apesar de tantas coisas terem acontecido e tantas pessoas terem aparecido entre eles, estava se sentindo a pessoa mais solitária do mundo. E por causa dele. E mais uma vez, chorava por ele...
Os dias se passaram e nenhum sinal de vida de Grissom. A idéia de enviar a carta e de separação estavam cada vez mais fortes na cabeça da perita. Iria esperar mais alguns dias e então daria entrada com os papéis. Mas como um amor, quando é grande e verdadeiro, não morre, os milagres acontecem. Naquela noite, depois de mais um dia inteiro trabalhando em um caso, exausta em casa, Sara estava deitada em sua cama quando ouviu a campainha tocar. Era por volta de nove da noite. Estranhou que alguém pudesse ir até sua casa àquela hora, já que, além de ser noite, não esperava ninguém. Mas alguém esperava por ela. Ao abrir a porta, Sara quase caiu para trás: era Grissom! Por instantes, os olhares se fundiram e um mergulhou dentro da alma do outro. Sara arqueou a sobrancelha, demonstrando ainda estar ressabiada.

GG: Não vem me dar um abraço, querida?
SS: Depois de tanto tempo... não consigo acreditar!
GG: Eu voltei... e para sempre, meu amor.

Sara abriu o sorriso e Grissom, deixando as malas no chão, foi até ela, beijando-a intensamente e deslizando as mãos no corpo esguio dela. Quanta saudade! A perita não parava de beijá-lo, misturava sua língua na dele para ter certeza de que o gosto do beijo do marido não havia mudado.

GG: Será que posso entrar?
SS: A casa ainda é sua também...

Grissom deixou as malas no chão e abraçou a esposa apertado.

GG: Não sabe o quanto eu sofri longe de você...
SS: Mais do que eu não, Gilbert!
GG: Eu posso imaginar o quanto você deve ter sofrido e chorado, Sara. Mas eu voltei, agora pra ficar. Porque aqui é o meu lugar! Ao seu lado, em seus braços, dentro de você...
SS: Vai parar com essa história de viagens, Grissom?
GG: Só com você agora!

Grissom adentrou-se em Sara, querendo mais beijos. A esposa o brecou.

SS: Um momento!
GG: O que...?

Sara correu até o quarto, abriu o laptop, encontrou a carta que havia escrito, deletou e voltou para a sala.

GG: Aconteceu alguma coisa?
SS: Agora está tudo bem. Onde paramos?

Grissom, sem dizer uma palavra, segurou Sara no colo e a levou para o quarto. Saudoso da cama macia onde amou aquela mulher tão maravilhosa tantas e tantas vezes, o supervisor, guloso do corpo da amada, cobrindo-a de beijos molhados, foi retirando as peças de roupa dela, em seguida retirou as próprias, completamente ansioso e excitado. O amor rolou solto na cama. E a felicidade estava de volta ao lar daquele casal que era tão único. Grissom e Sara, tão diferentes, mas tão parecidos ao mesmo tempo, tão um do outro... tão apaixonados...

Fim

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