LS: Quer um café, Sara?
SS: Aceito sim.
Enquanto sua mãe ia até a cozinha
preparar o café, Sara continuava a observar a casa simples, mas muito
arrumadinha e limpa. Laura trouxe a xícara e entregou nas mãos da filha. Aquele
momento em que mãe e filha estavam frente a frente trazia lembranças distintas
para cada uma. Mas Laura estava de fato mudada. E ela queria ter consigo
novamente pelo menos um pouco do carinho da filha. Ela sabia que Sara era uma
mulher forte, de personalidade, pelo que ficara sabendo enquanto internada. Mas
o que ela não sabia era que essa mulher forte e de personalidade andava mais
frágil do que uma pétala de rosa. Nesse encontro, Sara decidiu não se abrir com
a mãe, mas pôde sentir nela alguém melhor e confiável. Iria voltar. Naquela
noite, em casa, a perita teve recordações da infância. Lembrou-se de coisas que
já estavam distantes na memória, guardadas em um passado que a vida toda ela
manteve escondido. No turno seguinte, encontrou Nick na sala de convivência.
NS: Ei Sara, você parece mais leve.
Aconteceu alguma coisa?
SS: Fui visitar minha mãe.
NS: E como foi esse reencontro?
SS: Bom, esse reencontro na verdade
foi no hospital, mas a sós mesmo foi na casa dela. Senti muita diferença nessa
Laura de hoje para a de antigamente.
NS: Você pretende visitá-la mais
vezes?
SS: Sim. Ela é o que restou da minha
família. Agora que não tenho mais marido, penso em visitá-la mais vezes. E quem
sabe, nos aproximarmos novamente...
NS: Espero que você saiba o que
esteja fazendo. Se isso a fará sentir-se melhor, então eu apoio. Quero vê-la
sorrir novamente.
Sara sorriu de lado, como sempre
fazia. Os dias se passaram e, mergulhada no trabalho, a perita não teve muito
tempo para pensar na dor de sua separação. Ainda que ainda estivesse lá,
arranhando o coração como um espinho, Sara decidiu de reerguer. Iria lutar para
esquecer o que passara, que tivera seus sonhos de amor jogados ao chão. E viu
na mãe uma forma de lavar a alma. Eram anos separadas uma da outra, mas agora a
vida as puseram frente a frente novamente. Em uma tarde nublada, ela se viu
novamente na porta da casa de sua mãe. Laura a recebeu com um grande sorriso
nos lábios e um brilho de alegria nos olhos. Com a filha já em sua residência,
a matriarca dos Sidle fez um pedido:
LS: Será que eu... será que... eu
poderia te dar um abraço, Sara?
A perita olhou surpresa para a mãe,
mas não lhe negou o abraço. E, ao abraçar a mãe novamente, Sara sentiu o
coração bater dolorido. Carência. Saudade. Solidão. Um misto de sentimentos
correram pelas veias, e quando percebeu, a perita havia abraçado mais forte a
mãe. Lágrimas escorreram de ambos os olhos, e as duas sorriram.
LS: Obrigada, filha.
SS: Nunca pensei que um abraço
pudesse me fazer tão bem.
LS: Sou sua mãe, querida. Eu te
abracei com todo o meu carinho.
Sara sorriu tentando disfarçar o
choro, mas Laura percebeu as lágrimas rolando.
LS: Está acontecendo alguma coisa
que eu não estou sabendo?
SS: Hein?
LS: Sente-se no sofá, vamos
conversar.
As duas se sentaram e olharam uma
para a outra.
LS: Então, o que minha garotinha
esconde que traz nos olhos dor e tristeza?
SS: Laura... quer, dizer, mãe, eu
não sou mais uma menina.
LS: Os filhos nunca deixam de ser
criança para os pais. Não sei precisamente a sua idade atual, mas você é minha
menina e sempre será.
Sara sorriu.
SS: Estou com 40 anos, mãe.
LS: Você está uma linda mulher.
Continua solteira?
SS: Agora estou.
LS: Como agora está? Você estava
namorando alguém?
SS: Na verdade eu era casada.
LS: Puxa, gostaria de ter ido ao seu
casamento... Você devia ter ficado linda!
SS: Não avisamos a ninguém, nos
casamos no civil mesmo. Pegamos todos de surpresa.
LS: E como é que acabou? É recente?
SS: Sim... bem recente... – Sara
suspirou.
LS: Se você não quiser falar, vou
entender. Mas se quiser abrir seu coração... estou aqui pra te ouvir.
Sara ficou em dúvida se deveria se
abrir com aquela mulher que, mesmo sendo sua mãe, lhe era estranha após tantos
anos. No entanto, seu coração dizia que aquela era a hora de virar a página e
fazer um novo recomeço. Até porque ela não tinha mais ninguém no mundo. Agora
seriam as duas novamente, em um daqueles reencontros da vida que ninguém
consegue explicar ou entender.
SS: Me casei com meu chefe.
Laura olhou espantada para a filha.
Jamais poderia pensar que ela fosse tão audaciosa, ou corajosa a tal ponto.
LS: Você se casou com seu chefe?
Como isso foi acontecer, Sara?
SS: É uma longa história. Está
pronta para ouvi-la?
LS: Sou toda ouvidos, filha.
Sara deu um longo suspiro e começou
a narrar sua trajetória, desde São Francisco até Vegas. Como e onde encontrou
Grissom. O antes e o depois. No fim, Laura ficou impressionada e encantada com
o que a filha havia vivido.
LS: Jamais poderia imaginar que você
tivesse uma vida de tantas lutas. Como eu queria poder ter estado ao seu lado
nos momentos de maior dificuldade para você, minha filha!
SS: Ei, eu estou bem, estou ótima,
mãe!
LS: Eu sei que você se saiu muito
bem. Mas com relação ao fim do seu casamento, você não me contou nada a
respeito. E eu sei que você está sofrendo muito por dentro, ainda que nunca
admita para mim.
Naquele momento, a perita sentiu uma
pancada no peito como se fosse um soco dado pelas lembranças de seu casamento
fracassado. Sentia-se culpada pelo fim de seu conto de fadas, achava que fora a
responsável por Grissom não ter querido levar adiante a relação dos dois. No
fundo, achava que ele jamais quis realmente aquela relação, que ficara com ela
por alguma espécie de gratidão, ou outro sentimento o qual ela desconhecia.
LS: Posso ter passado uma vida longe
de você, mas nem em mil anos eu conseguiria esquecer suas expressões de
tristeza com algo. E tenho certeza de que algo te incomoda profundamente. Não
quero te ver triste, Sara. Você é minha filha, tudo o que me restou na vida, e
por mais que eu tenha errado, eu sempre te amei.
SS: Ei! Não vamos falar disso! –
Sara sentou-se ao lado da mãe no sofá – O que passou, passou. Sua dívida com a
justiça foi paga, é hora de virar a página.
LS: Então você me perdoa por...
aquilo?
SS: Eu não sou Deus para perdoar,
mãe, mas agora vejo melhor o que aconteceu. Está tudo bem agora.
LS: Mas me conte: o que aconteceu
entre vocês que fez o casamento terminar?
SS: Eu não sei. Simplesmente não sei
o que aconteceu – Sara fungava – Só sei que Grissom resolveu colocar um ponto
final e pronto.
LS: Minha filha, não existe
relacionamento perfeito. Todos, em algum momento, passam por turbulências. Não
creio ter havido algum motivo forte para que ele tenha rompido com você. A
menos que o amor tenha se acabado.
SS: Acabado?
LS: É, acabado. Como tudo nessa vida
que tem um fim. O amor, quando não é forte o suficiente, é como um laço mal
apertado, que, num piscar de olhos, se afrouxa e se solta. Ou, se muito puxado,
rompe-se. Quando não tem que ser, não adianta chorar, que não vai remediar. O
jeito é se conformar e erguer a cabeça. Afinal de contas, você é uma mulher
linda e atraente, e muito inteligente mesmo. Tenho certeza de que não faltarão
homens que queiram se jogar aos seus pés, implorando por seu carinho e atenção.
Sara deu uma risadinha.
LS: É assim que eu quero te ver:
rindo!
SS: Não tenho mais vontade de rir,
mãe... honestamente, não tenho.
LS: Bobagem, logo o sol voltará a
brilhar no seu caminho e esses dentinhos serão exibidos para todos. Se esse
sujeito quis romper com você, o idiota é ele, que perdeu uma grande mulher. Não
fique chorando por homem, minha filha. Não vale a pena.
Sara olhou bem para a mãe e se
lembrou do pai. Lembrou-se das cenas de violência doméstica, das surras que ela
sofria, dos gritos dele... da morte dele... Mas não quis tocar no assunto. Logo
agora que estavam se reaproximando...
As duas conversaram por mais algum
tempo e Sara decidiu ir embora.
LS: Você promete voltar?
SS: Assim que puder venho sim, mãe.
LS: Cuide-se, filha.
SS: Eu prometo!
As duas se abraçaram e a perita
saiu. No caminho para casa, enquanto dirigia, sentiu o peito mais leve. Parecia
que havia tirado um caminhão de areia, e realmente, nos dias que se seguiram à
separação de Grissom, a vida de Sara parecia um caminhão com toneladas de areia
jogadas, pesando a ponto de doer sua alma e coração. O retorno ao lar onde um dia houvera
amor era sempre uma agonia para a alma apaixonada de Sara. É claro que, sendo
quem ela era, uma mulher destemida e forte, não se permitia sofrer por tanto
tempo. Só que a solidão pesava. A saudade também. E o amor... também. Ela não
podia negar que amava Grissom como jamais amara alguém na vida. Que seu coração
pertencia a ele. Que seu corpo o desejava dia e noite. Que a vida sem ele ao
seu lado estava cada vez mais insuportável. Mas a vida devia seguir. E Sara
precisava entender que a vida é um livro cujas páginas são viradas diariamente.
Pessoas entram e saem da vida das pessoas. Mas quando se trata de amor, isso se
torna completamente doloroso, principalmente quando alguém sai de nossas vidas.
Alguns dias se passaram desde a visita de Sara à mãe. Pensamentos vinham e iam,
sonhos com Grissom aconteciam quase que diariamente. Certo dia, a perita
preparava um lanche na cozinha. A campainha tocou. Uma surpresa a esperava...
(to be continued)
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