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A vida segue (parte 1) – cap. 2


Sara sentiu o baque profundamente, e, embora estivesse a ponto de cair em prantos, obrigou-se a se fazer de forte para que o marido não visse que a tinha derrubado. Ela o olhava com dor e mágoa nos olhos, ele a olhava firme e perdido ao mesmo tempo. Nunca soubera lidar com aqueles olhares de carência de Sara, desde antes de se envolver com ela. A perita nunca fora muito boa para disfarçar perfeitamente seus sentimentos e emoções; seus olhos sempre foram uma janela de sua alma, onde as pessoas, se olhassem mais atentamente, poderiam ver tudo o que se passava dentro dela.

GG: Por favor, não chore. Não sei lidar com suas lágrimas...

Sara deu uma risadinha irônica.

SS: Parece uma piada você me pedir isso, não é?
GG: Não entendi seu tom irônico. Você sabe que eu nunca consegui lidar com suas emoções...
SS: Você nunca prestou atenção em mim de verdade para realmente conhecer meus sentimentos. E mesmo estando casados, nunca parou para me observar mais atentamente...
GG: Está me acusando de insensível, relapso com nosso relacionamento?

Sara deu um suspiro. Estava sem espírito para argumentar com aquele homem insensível. Grissom também estava sério, e a olhava da maneira de antes de se envolverem; fria e sem qualquer emoção.

GG: Pelo visto, você continua a mesma Sara sonhadora de sempre...

Aquela alfinetada pegou a perita de surpresa. Mas tratou de responder, antes que ele percebesse o quão ela ficara sentida.

SS: Talvez sim. Mas talvez doa mais saber que príncipes encantados não existam, ou, o que é pior, que eles se transformam em sapos...

Grissom não teve argumentos para rebatê-la. Àquela altura, a perita estava mais raivosa do que propriamente triste. Estava destroçada internamente, mas por fora, parecia uma leoa. E quis encerrar aquela conversa tão dolorosa:

SS: Quer saber de uma coisa? Quem não te quer mais sou eu! Nosso casamento termina nesse instante – ela se levantou da cadeira, deixando o dinheiro do suco na mesa. E continuou: - Depois você mande entregar em minha casa os papéis do divórcio. Acredito que você ainda deva saber onde fica a residência, não é?

Sara saiu sem olhar para trás, cabeça erguida e coração destroçado. Na mesa, um Grissom atordoado com a postura da agora ex-mulher. Permaneceu calado o resto do jantar e mais ainda, ao retornar ao hotel. O ex-supervisor chegou a pensar se havia feito a escolha certa ao decidir pôr um ponto final em seu casamento com a única mulher que o amara realmente na vida. Ele achava que deveriam ficar separados, pelo menos naquele momento. No entanto, não se atreveu a ir até sua antiga casa para buscar suas coisas. Talvez esperando que o momento de retornar surgisse, Grissom permaneceu onde estava. Se para ele a separação pareceu natural e fácil de encarar, para Sara ocorreu o inverso. Mas, por mais que estivesse destroçada por dentro, ela não demonstraria sua dor a ninguém. Acreditava que ninguém, além dela, tivesse que suportar tamanha decepção. E ela parecia estar vivendo uma maré de má sorte, ou seja lá o que for. Algum tempo depois da separação verbal, a perita se deixou envolver novamente e trocou uns beijos inocentes com um cara que parecia ser bacana. Porém, Sara fora envolvida em uma rede de vingança e ela fora culpada pelo assassinato do sujeito, já que todas as evidências apontavam em sua direção, e o mais espantoso é que ela realmente estivera no local do crime horas antes. Destroçada sentimentalmente, o período de incertezas e com o verdadeiro assassino ao seu incauto, a perita estava quase entregando os pontos. Mas no fim de tudo, com a prisão do assassino e voltando para o lab, Sara resolveu se abrir para os únicos verdadeiros amigos que tinha ao seu alcance: Nick e Greg.

SS: Obrigada. Obrigada por não desistirem de mim.
NS: Você sabe que jamais faríamos isso.
GS: Não poderíamos nunca ficar sem você, Sara. Você é nossa amiga, nosso porto seguro, já que não temos mais nossa equipe “original”.

Sara deu um sorriso triste, e lembrou-se da equipe que eram, da família que se tornaram.

SS: Sinto saudades daquela época. Éramos quase uma família...
GS: Nós tínhamos Warrick entre nós...

A perita e Nick se olharam sérios, com os olhos marejados. Lembrar do companheiro fazia o csi Stokes ficar mal e triste. E Sara, sentimentalmente frágil, não ficaria imune à emoção da saudade.

SS: Melhor falarmos de outra coisa.
NS: Não quer contar como tudo foi?
SS: Não sei se vale a pena...
GS: Se não quiser falar disso, tudo bem. O que passou, passou. Só não queremos mais vê-la assim, tão pra baixo.

Sara só conseguia responder com um sorriso de lado, misturado com um biquinho que só ela sabia fazer.

NS: O que podemos fazer para ver um sorriso em seu rosto novamente?
SS: Como assim?
GS: Se quiser, posso te contar uma piada!
NS: Ah não, Greg, isso não!

A perita soltou uma gostosa gargalhada. Nick e Greg observavam a risada contagiante da amiga e, para alegrá-la, também caíram na risada. 

SS: Só vocês mesmo para me fazer rir depois de tudo o que aconteceu...
NS: Mas é o que deve ser feito: rir do que aconteceu! Não vale a pena ficar se remoendo com lembranças que só machucam...
GS: E desculpe eu te dizer isso, Sara, mas se o Grissom realmente te amasse, ele não teria arranjado uma desculpa para ficar longe de você e terminar a relação. Quem gosta, se vira, mas nunca fica longe de quem ama, quem não ama, inventa motivos para ficar longe.
SS: Acho que fiquei mais carente dentro do casamento do que propriamente quando estava solteira...
NS: Claro, quando você era solteira, tinha ainda o Hank que podia te fazer companhia.
SS: Ele tinha namorada, Nick. Me enganou muito bem!
GS: Mas não era casado.
SS: Dá no mesmo envolvimento com homens casados e homens namorando, não faz diferença alguma.
NS: Será que faz mesmo?
SS: Onde você quer chegar, Nick?
NS: E o cara que morreu naquele hotel, você teve relacionamento com ele, não foi?
SS: Não! Foram apenas alguns beijos, e como eu havia lhe dito na sala do Russell, eu já estava separada! Não traí o Grissom, se é o que quer saber.
NS: Eu acredito em você, Sara.
GS: Nós acreditamos!
SS: Eu estava carente, por isso me deixei envolver por alguns breves minutos. Não houve sexo, não houve nada além de beijos.
GS: Queria muito que você e o Grissom estivessem juntos. Vocês formavam um casal lindo. Estranho, mas lindo!
SS: Como assim, estranho?
GS: Geeks, Sara, geeks...

A conversa com Nick e Greg deixara o peito de Sara mais aliviado, menos carregado. A impressão que ela tinha é que um peso havia sido deixado para trás, como se um caminhão de areia tivesse sido despejado naquela sala. Ainda estava tentando absorver tudo o que havia se passado desde a separação, e a certeza da amizade eterna dos dois caras que ela mais gostava no mundo lhe davam a força necessária para seguir em frente sem Grissom. Durante o banho, lembrou-se da pequena conversa que tivera com a mãe no hospital, quando a visitara. O olhar de Laura Sidle já não tinha nada de loucura, esquizofrenia, mas sim de uma mulher mudada de alguma forma. Não sabia se era carência pela separação, se eram os hormônios em ebulição, mas Sara sentiu falta de ver a mãe, começou a sentir uma saudade que a vida inteira não tivera. Sentiu vontade de deitar a cabeça em seu colo e esperar que ela lhe acariciasse os cabelos. E de repente, naquele banho morno, a Sara Sidle menina surgira à sua frente, com um olhar carente, chamando pela mamãe. Talvez fosse sua criança interior pedindo que desse uma chance à mãe e se reconciliasse de vez com ela, embora não estivesse brigada com a progenitora. No quarto, penteando os cabelos, Sara prometeu a si mesma que iria procurar a mãe para as duas terem uma conversa. Alguns dias mais tarde, a perita foi até o hospital e conseguiu o endereço de sua mãe. Laura estava morando em um bairro mais afastado de Vegas, em uma casinha mais humilde, mas confortável e muito limpa. A matriarca dos Sidle sempre fora uma excelente dona de casa. Sara bateu à porta e ficou no aguardo. Laura, ao ver a filha, ali parada em sua porta, levou um susto.

LS: Eu poderia imaginar qualquer pessoa neste mundo a bater em minha porta, menos você.
SS: Acho que o mundo dá muitas voltas... será que eu poderia entrar?
LS: Claro, filha. Entre.

Sara observou o lar de sua mãe e lembrou-se de sua infância, a casa onde morara, quando ela sempre fora tão organizada.

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