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Milagre de natal - capítulo único



Sara amava Grissom. Ainda que solitariamente, em silêncio, no mais íntimo de sua alma. Desde que o conhecera em São Francisco, jamais sua vida fora igual. Em absolutamente nada. Porque cada coisa fazia lembrar ele, a imagem do entomologista vinha nas coisas mais banais, nos pensamentos mais inocentes, soltos, sem qualquer ligação com o passado. Depois de Grissom em sua vida, jamais Sara fora com algum homem o que havia sido com ele, ainda que por tão pouco tempo, mas que fora o suficiente para deixar marcas profundas e inesquecíveis. O fato de estarem trabalhando juntos, no mesmo local, era para ela morrer um pouco a cada dia, por dentro, tendo em vista que ele não era mais o homem que conhecera, ou pensara conhecer. Não, definitivamente o Grissom que reencontrara nove anos depois não se parecia em nada com o professor sedutor e apaixonado para o qual se entregara e tivera noites inesquecíveis de amor. Mas o que Sara não podia supor é que Grissom também não a havia esquecido, só que não tinha o menor jeito para lidar com sentimentos um tanto confusos e intensos. Ele sabia que Sara era a mulher de sua vida, a qual teve em seus braços, amara na cama dela e tornou-a sua por breves dias de paixão em época de palestras. Se antes de Sara aparecer Grissom nunca fora bom com sentimentos, nem sequer pensava em amor, depois dela perdeu-se completamente dentro de si, envolto em sentimentos e sensações até então desconhecidas e jamais sentidas. E afogou-se em um mar de emoções que trazia risco para sua vida profissional tão bem sucedida. 
Não, Gilbert Grissom, um homem de cinqüenta anos, entomologista e supervisor-chefe do segundo melhor laboratório de criminalística dos Estados Unidos, não poderia, em hipótese alguma, perder-se por sentimentalismos baratos. Mulheres não faltavam no país, porque estragar sua carreira por causa de apenas uma? Quando a reencontrou, depois de convidá-la para se juntar à equipe, quase não conteve a emoção. Sara estava linda em seus cabelos soltos e rebeldes. E continuava tão bela quanto em São Francisco, e mesmo com o tempo ter passado, a diferença não se fez notar: Sara era linda desde sempre!
Sara era uma mulher de garra, fibra e personalidade, com isso era uma mulher firme nas piores situações, conseguia manter a frieza diante de um crime bárbaro. Só que trazia Grissom em seu coração, e quando se tratava de amor, ela parecia uma menina frágil, precisando de colo. Quando o encontrava, o coração sorria largamente, e seus dentinhos separados também apareciam, como se tivesse visto um tesouro no arco-íris. Estar perto dele era ser feliz por um instante, mesmo que em silenciosamente, em seu canto, beijando-o com os olhos. Fora desse embrólio mas ao mesmo tempo tão próximos, a equipe sentia que havia algo mais no ar entre eles. É que, mesmo sem admitir, os dois deixavam escapar, mínima e involuntariamente (já que eram discretíssimos), vestígios de um sentimento maior do que apenas chefe-subordinada. 
Grissom nunca escondera que Sara era sua subordinada preferida desde que ela viera para Vegas, causando certo ciúme em Catherine inicialmente – agora as duas eram grandes amigas. E os dois travavam uma guerra silenciosa entre eles, no qual estava em jogo quem conseguia disfarçar mais o sentimento, quem conseguia sufocar com mais precisão e destreza a paixão que fazia o coração agir feito um vulcão prestes a entrar em erupção. Para os amigos, não havia dúvidas de que ali a frieza e a formalidade não passavam de máscaras que em algum momento iriam cair. Até achavam graça quando um dizia algo e o outro respondia à altura, como se completasse o pensamento do outro, ou trocavam olhares que claramente diziam muito mais do que mostravam. Um sorriso mal disfarçado era a deixa que eles precisavam para tirar suas conclusões, mas nunca obtinham uma confirmação do que poderia ou não estar havendo. Grissom e Sara, tão distantes e tão unidos ao mesmo tempo nessa guerra silenciosa de amor. E dezembro chegou em Vegas trazendo neve e frio. Com o tempo de nevasca, as pessoas se protegiam como podiam, a fim de manter-se aquecidas. No lab, a equipe contava as horas para o natal. Estavam reunidos na sala de reuniões.

CW: Vou viajar com Lindsay e minha mãe. Não vejo a hora!
NS: Eu pretendo passar o dia com minha namorada. Sabe como é, a família dela estará junto...
GS: ... E você quer mandar bem, né?
NS: Claro!

Catherine buscou Sara com os olhos; ela permanecia calada e concentrada os relatórios que escrevia.

CW: E você, Sara, onde pretende passar o natal?
SS: Ãh?
GS: Distraída, Sara?
SS: Estou concentrada nos relatórios. Dizia algo, Cath?
CW: Perguntei onde pretende passar o natal.
SS: Em minha casa, sozinha. Onde mais poderia estar?

Grissom, presente na sala, fingiu não prestar atenção na conversa, não queria dar bandeira. Mas Catherine parecia provocar o amigo.

CW: O natal é um momento mágico. Perfeito para o amor, para beijos, abraços, aconchego...
WB: Fazendo planos, Cath? – ele piscou os olhos para a loira.
CW: Não, Warrick, apenas acho que natal e solidão não combinam.
SS: Não concordo. Às vezes, é melhor estar só...
CW: Ou quando não existe opção...

Aquele papo estava quase irritando Grissom. Pra quê falar ou insinuar romance em pleno natal, bolas?

CW: E você, Gil, o que acha do natal?
GG: Não tenho nada a declarar, Catherine.
CW: Eu sabia! Você sempre se esquiva de qualquer assunto...
GG: Apenas não tenho nada a dizer a respeito – e saiu da sala.

Nos dias que se seguiram, com a nevasca permanecendo na cidade, transformando Vegas em uma nova Aspen, os corações solitários sentiam a necessidade de se aquecer em um outro... especialmente os corações de Sara e Grissom, que continuavam em seu “jogo” de “eu te amo mas não posso te amar”.  Pelo menos por parte de Grissom, já que a perita o amava e, a muito custo, disfarçava e sufocava o grito de seu coração. De longe ele a observava em suas tarefas, sempre tão concentrada, tão dedicada, esforçada... 
Sentia que ela tentava fazer seu melhor por alguma razão a mais, tinha algo assim no ar, só que o supervisor era meio “tapado” para certas coisas... sentia umas e deixava passar outras... E não notava apenas sua maneira tão peculiar de trabalhar, de se dedicar ao que gostava... sabia o quanto Sara era linda, charmosa e transbordava amor... sim, ela era feita de amor! Mas precisava que um certo homem tomasse uma atitude drástica para que pudesse enfim revelar-se... só que ele, justo ele, não fazia nada! Na véspera de natal, a equipe se despediu, prometendo ver-se após as festas de fim de ano. Sara seguiu para casa a fim de terminar de enfeitar a árvore. Por mais que fosse sozinha, não gostava de passar os natais sem sua árvore enfeitada, gostava de ver as luzes coloridas piscando, dando uma outra beleza ao ambiente. Comprava seus presentes e os embrulhava, deixando-os debaixo da árvore, para abrir depois da meia-noite. Claro, juntamente com os presentes de seus amigos, que entregava depois no lab. E tinha também o presente que comprara para Grissom... todos os anos comprava algo para ele, mas acabava não entregando. 
Deixava embrulhados debaixo da árvore, como se esperassem por alguém que não viria buscá-los. Era sempre assim, desde que viera para Vegas; sempre à espera de seu grande amor. Meia-noite. Os fogos de artifício explodiam pelo céu nas ruas do bairro onde Sara morava. As casas de sua rua, todas iluminadas, bonitas, alegres, com os moradores saindo às ruas para festejar com os vizinhos, parentes e amigos. E ela na janela, só observando o que todo ano acontecia. Voltou para a sala e resolveu abrir uma garrafa de champanhe.

SS: Feliz natal, Sara! – brindou consigo mesma.

Depois que bebeu um gole, a campainha tocou. Sara ficou surpresa. Quem poderia aparecer àquela hora em sua casa em plena noite de natal? Ao olhar pelo olho mágico, quase desabou.

GG: Feliz natal! – disse Grissom, com um belo embrulho em um das mãos e uma garrafa de vinho na outra.
SS: Grissom? Você por aqui? E hoje?
GG: Não podia deixar de te desejar um feliz natal...
SS: Bom... feliz natal pra você também! – abriu o sorriso.
GG: Posso entrar?
SS: Claro!
GG: Está linda sua sala. Estava comemorando sozinha?
SS: É o que acontece sempre... afinal, sou sozinha.

Grissom deixou a garrafa de vinho na mesinha de centro e permaneceu com o embrulho na mão.

GG: Isto é pra você, Sara.
SS: Pra mim?
GG: Seu presente de natal.
SS: Oh... eu... não esperava, Grissom.
GG: Mas se puder lhe dar uma sugestão, não o abra agora.
SS: Não?
GG: Não. Primeiro tenho que fazer uma coisa que deveria ter feito há muito tempo.

Grissom, num ímpeto de paixão e loucura, segurou Sara na cintura e a trouxe para si, dando-lhe um beijo profundo, molhado e repleto de paixão. A perita, apaixonada, não pensou em nenhum segundo em sair dos braços do amado, que a desejava e a beijava com paixão e êxtase. Depois do beijo, Sara abriu os olhos lentamente e viu os olhos azuis e brilhantes de Grissom a observá-la.

SS: O que foi esse beijo, Griss?
GG: Esse beijo foi para te dizer que eu te amo!
SS: Você está falando sério?
GG: Nunca falei tão sério em minha vida, Sara. Eu sempre te amei, mas nunca encontrei coragem para assumir o que sentia. Mas agora, aqui, à sua frente, só nós dois, eu quero reafirmar o que te disse: eu te amo!
SS: Isso só pode ser um milagre de natal!
GG: Não, é amor mesmo!

Sara sorriu e sentiu o abraço quente e suave do amado. A partir dali tudo seria diferente. Porque o natal tem dessas coisas: milagres que podem acontecer quando menos se esperar...

Fim

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