EC: Sei...
SC: Bom, peço que preste mais atenção em
Sara. Ela esconde algo que pode prejudicar o lab.
EC: Você sabe exatamente o que?
SC: Hum... Tenho uma suspeita. O resto é
com você.
Sofia saiu da sala sorridente, deixando
Ecklie com a pulga atrás da orelha. Se já não gostava nadinha de Sara, saber
que a perita tinha algo a esconder fazia sua cabeça encher de idéias para que
encontrasse motivos para enfim conseguir demiti-la. A partir daquele dia ele passou a
observá-la mais, de longe, sem que ela percebesse. Sara e Grissom haviam se
acertado, mas ele ainda não estava indo à casa dela, pois a perita queria preparar
o terreno. Até que ele fez surpresa e foi até lá sem avisá-la. Sara estava no
banho quando a campainha tocou. Certa de que não seria ninguém do lab, pois era
bem cedo, deixou o menino atender a porta.
SS: Sam, abra a porta pra mim! – disse, do
banheiro.
SS: Sim, mamãe!
Sam abriu a porta e deu de cara com
Grissom. O supervisor e o menino ficaram um bom tempo se olhando, se
observando, como se um estivesse estudando o outro.
GG: A Sara está?
SS: Ela está no banheiro. Quem é o senhor?
GG: Meu nome é Gil Grissom e sou o
supervisor dela. Posso entrar?
SS: Claro! – disse com um sorriso nos
lábios.
O supervisor ficou observando
minuciosamente a figura daquele menino. “Que belo garoto”, pensou.
GG: Você não me disse seu nome, menino.
SS: Meu nome é Sam.
GG: Sam? Bonito nome.
Grissom sentou-se no sofá e começou um papo
agradável com o garoto.
GG: Então, Sam, do que você gosta?
SS: Adoro insetos!
GG: É mesmo? Ah, isso me interessa muito! -
Grissom se animou – Me fale sobre algum inseto.
SS: Bom, eu gosto muito de insetos. O
inseto mais forte é o besouro-rinoceronte, nome dado a várias espécies de
besouros da família dos Scarabaeidae. Ele tem apenas 13 centímetros, mas é
capaz de suportar nas costas um volume equivalente a 850 vezes o peso de seu
corpo.
GG: Estou espantado! Quantos anos você tem,
Sam?
SS: Oito.
GG: Com apenas oito anos e sabe falar de
insetos. O que você quer ser quando crescer?
SS: Policial ou homem que mexe com insetos.
GG: Ah, você quer dizer entomologista!
SS: O que é isso? – franziu a testa, não
entendendo que raio de palavra era aquela.
GG: É a pessoa que estuda e lida com os
insetos. A ciência se chama Entomologia. Eu sou um entomologista, mas na área
forense.
SS: O que é forense?
GG: É a parte judicial, da justiça. Sou
perito criminal, investigo as cenas de crime.
SS: Uau! – o menino ouvia com atenção e
parecia muito interessado.
Sara foi até a sala enrolada na toalha.
SS: Sam, quem era...
Ao ver Grissom sentado muito à vontade no
sofá, com Sam ao lado, Sara quase teve um treco. Pai e filho lado a lado sem
saber, olhando para a mesma mulher, que ambos amavam: a mãe e a mulher.
SS: Sam, vá para o seu quarto, por favor!
SS: Mas mãe...
As pernas da perita tremeram ao ouvir o
filho chamando-a de mãe perto de Grissom, que olhou intrigado para ela.
SS: Não tem “mas mãe”. Vá!
SS: Tchau, moço!
GG: Tchau, Sam.
Assim que o menino saiu, Sara tentou se
desfazer de Grissom, afim de que ele não percebesse o que tinha acabado de
acontecer. Mas ele percebera muito bem.
SS: Griss, não sei o que você veio fazer
aqui, mas não é uma boa hora pra gente conversar. Vá embora, por favor!
GG: Não vou sem saber o que está
acontecendo.
SS: Não está acontecendo nada!
GG: O menino te chamou de mãe. Eu nunca o
vi antes, nunca vi você com nenhuma criança, você nunca mencionou a existência
de um filho. O que você está escondendo?
SS: Nada, Griss, nada!
Sara, nervosa, queria chorar, e Grissom
queria a verdade. Ele, assim que pôs os olhos no menino, percebeu algumas
semelhanças entre eles, especialmente a inteligência e o gosto por insetos, não
muito comuns em crianças da idade de Sam. Ela estava de costas para Grissom
quando o ouviu perguntar:
GG: Sara, me responda uma coisa: Sam é meu
filho?
Sara virou-se rapidamente para Grissom,
atingida em cheio pela pergunta que tanto quis evitar escutar esses anos todos
que manteve a existência de Sam oculta.
SS: Como é?!
GG: Quero que me responda. Mas penso que
talvez você nem precise dizer nada, as evidências são muito claras. Ele tem os
meus olhos, gosta das mesmas coisas que eu, é perspicaz e sabe se comunicar com
muita facilidade. Além do quê, ele tem oito anos, e pelos meus cálculos, você
ter ficado grávida de mim é perfeitamente plausível, afinal, em nenhuma transa
nossa eu usei preservativo. Ou Sam é fruto de algum caso seu da época em que
nos conhecemos?
A perita estava aflita. A hora da verdade
havia chegado, e não havia desculpa que colasse; Grissom não aceitaria e não se
convenceria.
SS: Está bem, chegou a hora de pôr as
cartas na mesa. Sam é seu filho, Griss. Nosso filho!
O supervisor deu um largo sorriso. Gostou
do menino assim que o viu, e saber que ele era seu filho o deixara mais feliz.
Ainda que estivesse um pouco raivoso por Sara ter lhe escondido sobre o filho,
aproximou-se dela com carinho.
GG: Por que você me escondeu sobre nosso
filho? Tudo teria sido tão mais fácil, e não teríamos ficado tanto tempo
separados.
SS: Quando você foi embora de São
Francisco, senti que não nos veríamos mais, você nunca mais me deu notícias até
o dia em que me chamou para compor sua equipe. Quando te falei que te amava, vi
em seus olhos que aquilo era algo que você não esperava ouvir de mim.
GG: Fiquei surpreso, não imaginei que
poderia fazê-la ficar apaixonada por mim.
SS: Mas fiquei. E fiquei com um filho na
minha barriga, e sem saber o que fazer. Quando você foi embora, deixou Sam
dentro de mim. Só fui descobrir que estava grávida algumas
semanas mais tarde, depois de tantos enjôos e mal-estar. Ainda bem que tinha o
meu irmão, que me ajudou nas despesas. Enxoval, exames, parto, tudo teve a ajuda
dele. E quando Sam nasceu, disse pra mim mesma que seriamos apenas nós dois, já
que ele teria apenas a mim.
GG: Você foi egoísta, Sara. Podia ter me
procurado em Vegas, era um filho meu que estava em sua barriga! Ou pensava que
eu jamais iria ajudá-la e viraria as costas para a minha mulher e meu filho?
SS: Eu não era sua mulher, Griss.
GG: A partir do momento em que dormiu
comigo e ficou grávida de mim, passou a ser. Além do que, com o passar do
tempo, fui percebendo o quanto você me fazia falta, fui descobrindo que você
era a melhor mulher que um homem poderia ter, e posteriormente me vi apaixonado
por você.
Sara chorava e estava vermelha. Da porta do
quarto, Sam ouvia toda a conversa e chorava em silêncio.
GG: Vem cá, honey!
Sara chegou tão perto de Grissom a ponto de
sentir a respiração quente dele em seu rosto. Ele a tocou e a beijou com
paixão.
SS: Griss...
GG: O mais importante é que o Sam existe e
é um garoto bonito e inteligente. E felizmente teve a quem puxar: nós dois!
SS: Você quer mesmo ser pai? Pensei que não
tivesse vocação pra ser...
GG: Se você soube ser mãe, porque eu não
posso ser pai desse menino lindo?
A perita sorriu e o casal se abraçou. Sam
apareceu na sala com lágrimas nos olhos, tentando entender a cena romântica dos
dois.
SS: Então... você é meu pai?
GG: Vem cá, Sam.
Grissom sentou-se com o menino no sofá e
começou a explicar as coisas:
GG: Você não deve estar entendendo o que
está acontecendo.
SS: Não mesmo. Eu escutei vocês brigando,
não estou entendendo...
GG: A raiva já passou. Sabe, Sam, eu amo
muito sua mãe. Além de Sara ser a mulher mais bonita, mais sensata e mais
inteligente que eu conheço, ela me deu você. Ou melhor, nós nos demos você. Por que você foi feito com muito carinho, muito
desejo e muita paixão.
SS: Você amava a mamãe?
GG: Eu me apaixonei por ela depois que nos
conhecemos, e quando ela veio trabalhar comigo, percebi que não poderia mais
ficar sem ela. Sabe Sam, tenho cinqüenta anos e aprendi muita coisa nessa vida.
Minha mãe costumava me dizer que nenhum homem é feliz enquanto não tem um amor
e um filho. Até descobrir que Sara era a mulher ideal para passar o resto da
vida ao meu lado, dei muita cabeçada, como se diz. Me envolvi com pessoas
erradas e acreditava em coisas que hoje vejo que não têm a menor importância. O
mais importante é o amor e a família. Eles são a base do homem – ser humano em
geral. Como seu pai, tenho o dever de lhe mostrar a vida em sua essência, e
prepará-lo para o mundo. Quero que você aprenda e seja um homem de bem, meu
filho.
Sam abriu um sorriso franco e puro de
criança, e uma lágrima escorreu em seu rosto. Os olhos muito azuis se tornaram
uma piscina natural de águas cristalinas, pois estavam marejados. Sara não
dizia nada, estava muito emocionada com o carinho com que pai e filho se
tratavam. Uma paixão imediata.
GG: Eu amo não somente sua mãe como a você
também, Sam. E gostaria muito que você me aceitasse como
seu pai. É claro que você vai precisar de algum tempo para absorver tudo isso,
mas sei que seu bom coração vai lhe auxiliar em suas decisões.
SS: Me perdoa por não ter lhe falado de seu
pai, Sam?
SS: É claro, mamãe! Eu te amo muito e amo o
meu pai também. A gente se deu muito bem, ele é um cara
muito legal!
Os três riram e se abraçaram, felizes com o
início de um novo começo. Uma família estava se formando naquele momento, e
logo descobririam que haveria mais alguém para completar a felicidade deles. Sam percebeu o clima que estava entre Sara
e Grissom e resolveu deixá-los a sós.
SS: Vou para o quarto.
GG: Mas por que, filho?
SS: Não quero atrapalhar o namoro de vocês...
Os dois se olharam e caíram na risada. O
menino tinha um grande senso de humor. Quando ficaram a sós, trocaram beijos e
caricias.
SS: Devagar, Griss, Sam pode nos ver...
GG: Ele está no quarto... – sussurrou.
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