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O segredo de Sara - cap. 3


CE: Ei! Não adianta reclamar! Ou preferem ficar sem emprego? Saibam que posso encontrar pessoas tão competentes quanto vocês em qualquer lugar. Bom dia e passar bem!

Todos se olharam desgostosos e cada um foi para seu canto, trabalhar. O dia foi passando e o humor de alguns parecia estar melhor; o de Sara não. Estava absolutamente irritada pela perda da folga, ainda mais porque passaria o dia ao lado de Grissom. Mas, como o trabalho deveria ser feito, não externou o que pensava. Antes de ir embora, passou na sala de Grissom, cheia de segundas intenções.

SS: Oi.
GG: Oi.
SS: Muito ocupado?
GG: Parece que sim né?

Sara sentiu uma diferença no tom de voz dele. Parecia que estava mais frio e distante.

SS: Estava pensando... Que tal se jantássemos juntos hoje?

Grissom tirou os óculos, surpreso.

GG: Jantar?
SS: É, eu preparava alguma coisa na minha casa, depois a gente assistia um filme...
GG: Olha Sara... O que aconteceu ontem entre a gente foi... Bom, eu peço desculpas por tudo o que aconteceu ontem. Confesso que bebi um pouco e aí fui parar na sua casa.
SS: O que você está querendo me dizer?
GG: Que a gente ter feito amor foi um erro da minha parte. Me desculpe.

Sara ficou tão espantada com o que ouvira do homem que amava que não teve nem palavras para replicar. O que dizer depois de ouvir palavras tão frias vindas de alguém a quem, na noite anterior, se entregara como um flashback, quando eles se amaram em São Francisco? Com voz embargada, só teve força para dizer:

SS: Me desculpe por te amar. Mas saiba que, de hoje em diante, vou lutar para arrancar esse amor de mim, não se preocupe. Você não me verá mais choramingar pelo seu carinho e atenção.

Sara saiu com o coração partido, quebrado, estraçalhado. E quando viu, no final do turno, Grissom indo embora com Sofia no mesmo carro, sentiu o chão se abrir a seus pés. Catherine, ao seu lado, tentou consolá-la:

CW: Sei que você o ama. Mas Grissom não é o tipo de homem que sabe receber e entender o amor de uma mulher. Vamos, eu te levo pra casa, você não está em condições nenhuma de dirigir.
SS: Não, Catherine, eu vou pra casa! – desvencilhou-se Sara, aos prantos.

Sara, trêmula, pegou o carro e saiu em velocidade um pouco acima do permitido. A polícia disparou a sirene e foi atrás dela. O carro encostou no carro dela e o policial exigiu que ela parasse o veículo. Só que a perita acabou perdendo o controle e foi de encontro a uma árvore, batendo a cabeça no vidro da frente. Por mais um não recebido de Grissom, Sara estava a ponto de perder a vida. O policial parou o carro e foi verificar como estava a perita. Em seguida, ligou para o resgate, que chegou em poucos minutos. Brass e Catherine foram até o local para averiguar e periciar. Os dois se aproximaram do carro e a viram. Sara estava desacordada, com um ferimento na testa, e bastante sangue. Os paramédicos a colocaram com cuidado na maca, introduzindo o colar cervical e a cobrindo com papel alumínio para manter a temperatura do corpo.

CW: Eu sabia que isso ia acabar acontecendo!
JB: Como sabia?
CW: Eu ofereci carona a ela. Sara estava transtornada, nervosa, e recusou minha carona.  
JB: Certo, vou avisar ao Grissom.

Enquanto os paramédicos levavam Sara para o Desert Palm, Catherine olhava a cena do acidente. Grissom e Sofia estavam no apartamento dele. Enquanto ele pegava uma bebida, a loira observava a decoração. Hank rosnou pra ela, como se não tivesse gostado da cara dela.

SC: Parece que seu cachorro não foi com a minha cara...
GG: O Hank é um cachorro bem tranqüilo. Ele deve estar te estranhando. Mas é um bom menino.

Ele pegou o whisky e deu um copo para Sofia. Os dois beberam olhando um para o outro, como se trocassem mensagens com o olhar. Mas o clima foi interrompido pelo toque do celular do supervisor.

SC: Não vai atender?

Grissom olhou para o aparelho, que estava a uma certa distância, e disse:

GG: Quer saber? Hoje não quero mais aborrecimentos. Vou desligá-lo.

Enquanto ele desligava o aparelho, Sofia olhava satisfeita. Seu plano de levar Grissom para a cama estava indo de vento em popa, era quase certo que iria acontecer. Ele olhou de volta:

GG: Onde paramos?

A loira deixou o copo na mesinha e sorriu, se aproximando:

SC: Acho que vamos começar é agora.

Ela o beijou, envolvendo uma das mãos na nuca dele. Grissom, que não era de ferro, estando perto de uma bela mulher, não resistiu e se deixou envolver. Os dois se beijaram e o clima foi pegando fogo. Sofia então foi tirando suas próprias roupas e Grissom fez o mesmo. Em seguida, ele a levou pelas mãos até o quarto, onde, inevitavelmente, o sexo aconteceu. Enquanto eles transavam, Sara estava em estado estável no hospital. Estava consciente e lúcida, apenas com alguns pontos na testa, próximo ao olho esquerdo, e inchaços no rosto.

DR: Como se sente, senhorita Sidle?
SS: Bom, minha cabeça ainda dói um pouquinho, mas me sinto bem.
DR: Você teve sorte, só bateu a cabeça, e levou alguns pontos na testa. E os exames de tomografia não mostraram nenhuma lesão.
Se tudo correr bem, amanhã mesmo você terá alta, ok?
SS: Tudo bem.
DR: Agora descanse um pouco.

Sara recostou a cabeça no travesseiro e ficou se lembrando das palavras de Grissom, frias e duras. E lembrou também de vê-lo saindo do lab com Sofia, a novata. Mas ela parecia estar interessada no Brass, então, como poderia já estar de olho em outro? É claro, Grissom era muito mais charmoso, mais interessante do que o velho capitão da polícia. Mas justo o homem que amava? Não podia ter escolhido outro homem? Tinha o Warrick, o Nick, até mesmo o maluco do Greg... E imaginar que ele tenha passado a noite com ela fazia doer não só o seu corpo, mas toda a sua alma. Acabou adormecendo, e uma lágrima escorreu em seu rosto, indo em direção ao coração magoado. Na casa de Grissom, depois de um ato sexual (por mais que transasse com outras mulheres, no final ficava o vazio por nenhuma delas ser Sara), ele estava deitado, acordado, pensando em Sara. Sofia dormia virada de costas para ele. O telefone residencial enfim tocou e ele foi atender, depois de vestir a cueca samba-canção.

GG: Grissom.
JB: Até que enfim eu consegui falar com você!
GG: Aconteceu alguma coisa?
JB: Não está sabendo?
GG: Sabendo do quê?
JB: Sara está no hospital.
GG: Como é?! – o coração acelerou.
JB: Ela bateu com o carro logo após sair do lab. Catherine ligou pra lá e parece que agora ela está bem. Mas o acidente foi feio.
GG: Já periciaram o local?
JB: Catherine fez isso.
GG: Vou ao hospital agora.  Sabe pra onde ela foi levada?
JB: Desert Palm.
GG: Ok.

Aflito, Grissom foi acordar Sofia pra que ela se vestisse e fosse embora.

SC: Mas o que aconteceu pra você estar assim?
GG: Sara está no hospital e preciso ir vê-la.
SC: Está tão preocupado com ela assim? – disse enquanto se vestia.
GG: Não quero ser rude com você, Sofia, mas o que aconteceu aqui foi um tremendo erro. Jamais deveria ter ido pra cama com você.
SC: Você não foi obrigado a nada, foi porque quis.
GG: Mas não deveria ter acontecido! Não sei onde é que eu estava com a cabeça pra ter deixado isso acontecer...
SC: Você ama muito Sara?
GG: Porque a pergunta?
SC: Acho que está claro que você a ama.
GG: Sara é única, nenhuma mulher é como ela.

Sem mais a dizer, Grissom foi direto para o hospital. O médico autorizou a entrada dele no quarto, e como era noite, Sara estava dormindo. Viu como ela estava ferida, e culpou-se por ela ter se machucado. Como podia ser, um homem permitir que a mulher que ama machucar-se por sua culpa? Por que, ao invés de ter dito aquelas palavras duras, que a afastariam dele, não disse o quanto foi bom tê-la em seus braços depois de nove anos e que o sexo com ela continuou tão maravilhoso quanto em São Francisco? Porque permitia que seu amor por Sara o deixasse apavorado a ponto de querer ficar distante dela, quando tudo o que deveria fazer era trazê-la para si, permitir que ela o fizesse feliz como nunca mulher alguma o fizera? Antes de sair para vê-la no hospital, Grissom pegara um poema que escrevera para Sara, e que estava em uma gaveta em seu quarto. Estava em seu bolso e, pensando que ela estivesse tão adormecida que não ouviria, começou a lê-lo:

“Mesmo que eu nunca tivesse visto teu sorriso, te amaria,
Pois não amo teu corpo, não amo teu cheiro,
Não amo teu olhar e nem o toque das tuas mãos
Amo tua alma - teus carinhos invisíveis,
Amo teus versos - tuas mensagens codificadas
Amo tudo o que imagino ser real, mesmo que nada seja!
Peço-te que me permita amá-lo assim, pois, desta forma,
O amor não se afasta e atinge dimensões que nunca pensei
Serem possíveis e nos mantém ligados por sentimentos
Não espere que meu amor atinja o patamar que desejas,
Não posso galgar meus sonhos, pois eles não possuem uma base,
Não posso transpor distâncias que para mim, não existem
Não me faça romper o elo a não ser que sinta-se preso a ele
Não me faça querer a realidade do amor que se perde nas ladeiras
E nos abismos que encontramos no percurso de nossas vidas.
Permita-me amá-lo assim...
Não devemos permitir que o amor se macule com nossas vaidades e anseios
Vamos proteger este amor como jamais teríamos feito se pudéssemos entendê-lo
Permita que minha alma te ame, mas não espere que meu amor assuma um rosto!
Permita que eu ame teus versos sem precisar conhecer teus reversos!
Permita-me ser assim,
Pois não sei outra maneira!”

Depois, dobrou novamente o papel e guardou no bolso.

SS: Isso é um pedido de desculpa?

Grissom olhou para Sara e a viu desperta, olhando fixamente para ele.

GG: Bom, também é, mas eu queria mostrar o que escrevi pra você. É uma forma de te dizer o quanto eu te amo, mesmo que eu ame de uma maneira não-convencional ou tradicional.

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