CE:
Ei! Não adianta reclamar! Ou preferem ficar sem emprego? Saibam que posso
encontrar pessoas tão competentes quanto vocês em qualquer lugar. Bom dia e
passar bem!
Todos
se olharam desgostosos e cada um foi para seu canto, trabalhar. O dia foi
passando e o humor de alguns parecia estar melhor; o de Sara não. Estava
absolutamente irritada pela perda da folga, ainda mais porque passaria o dia ao
lado de Grissom. Mas,
como o trabalho deveria ser feito, não externou o que pensava. Antes de ir
embora, passou na sala de Grissom, cheia de segundas intenções.
SS:
Oi.
GG:
Oi.
SS:
Muito ocupado?
GG:
Parece que sim né?
Sara
sentiu uma diferença no tom de voz dele. Parecia que estava mais frio e
distante.
SS:
Estava pensando... Que tal se jantássemos juntos hoje?
Grissom
tirou os óculos, surpreso.
GG:
Jantar?
SS:
É, eu preparava alguma coisa na minha casa, depois a gente assistia um filme...
GG:
Olha Sara... O que aconteceu ontem entre a gente foi... Bom, eu peço desculpas
por tudo o que aconteceu ontem. Confesso que bebi um pouco e aí fui parar na
sua casa.
SS:
O que você está querendo me dizer?
GG:
Que a gente ter feito amor foi um erro da minha parte. Me
desculpe.
Sara
ficou tão espantada com o que ouvira do homem que amava que não teve nem
palavras para replicar. O que dizer depois de ouvir palavras tão frias vindas
de alguém a quem, na noite anterior, se entregara como um flashback, quando
eles se amaram em São Francisco? Com voz embargada, só teve força para dizer:
SS:
Me desculpe por te amar. Mas saiba que, de hoje em diante, vou lutar para
arrancar esse amor de mim, não se preocupe. Você não me verá mais choramingar pelo
seu carinho e atenção.
Sara
saiu com o coração partido, quebrado, estraçalhado. E quando viu, no final do
turno, Grissom indo embora com Sofia no mesmo carro, sentiu o chão se abrir a
seus pés. Catherine, ao seu lado, tentou consolá-la:
CW:
Sei que você o ama. Mas Grissom não é o tipo de homem que sabe receber e
entender o amor de uma mulher. Vamos, eu te levo pra casa, você não está em
condições nenhuma de dirigir.
SS:
Não, Catherine, eu vou pra casa! – desvencilhou-se Sara, aos prantos.
Sara,
trêmula, pegou o carro e saiu em velocidade um pouco acima do permitido. A
polícia disparou a sirene e foi atrás dela. O carro encostou no carro dela e o
policial exigiu que ela parasse o veículo. Só que a perita acabou perdendo o
controle e foi de encontro a uma árvore, batendo a cabeça no vidro da frente. Por
mais um não recebido de Grissom, Sara estava a ponto de perder a vida. O
policial parou o carro e foi verificar como estava a perita. Em
seguida, ligou para o resgate, que chegou em poucos minutos. Brass e Catherine
foram até o local para averiguar e periciar. Os
dois se aproximaram do carro e a viram. Sara estava desacordada, com um
ferimento na testa, e bastante sangue. Os
paramédicos a colocaram com cuidado na maca, introduzindo o colar cervical e a
cobrindo com papel alumínio para manter a temperatura do corpo.
CW:
Eu sabia que isso ia acabar acontecendo!
JB:
Como sabia?
CW:
Eu ofereci carona a ela. Sara estava transtornada, nervosa, e recusou minha
carona.
JB:
Certo, vou avisar ao Grissom.
Enquanto
os paramédicos levavam Sara para o Desert Palm, Catherine olhava a cena do
acidente. Grissom e Sofia estavam no apartamento dele. Enquanto ele pegava uma
bebida, a loira observava a decoração. Hank rosnou pra ela, como se não tivesse
gostado da cara dela.
SC:
Parece que seu cachorro não foi com a minha cara...
GG:
O Hank é um cachorro bem tranqüilo. Ele deve estar te estranhando. Mas é um bom
menino.
Ele
pegou o whisky e deu um copo para Sofia. Os dois beberam olhando um para o
outro, como se trocassem mensagens com o olhar. Mas o clima foi interrompido
pelo toque do celular do supervisor.
SC:
Não vai atender?
Grissom
olhou para o aparelho, que estava a uma certa distância, e disse:
GG:
Quer saber? Hoje não quero mais aborrecimentos. Vou desligá-lo.
Enquanto
ele desligava o aparelho, Sofia olhava satisfeita. Seu plano de levar Grissom
para a cama estava indo de vento em popa, era quase certo que iria acontecer.
Ele olhou de volta:
GG:
Onde paramos?
A
loira deixou o copo na mesinha e sorriu, se aproximando:
SC:
Acho que vamos começar é agora.
Ela
o beijou, envolvendo uma das mãos na nuca dele. Grissom, que não era de ferro,
estando perto de uma bela mulher, não resistiu e se deixou envolver. Os dois se
beijaram e o clima foi pegando fogo. Sofia então foi tirando suas próprias
roupas e Grissom fez o mesmo. Em seguida, ele a levou pelas mãos até o quarto,
onde, inevitavelmente, o sexo aconteceu. Enquanto eles transavam, Sara estava
em estado estável no hospital. Estava consciente e lúcida, apenas com alguns
pontos na testa, próximo ao olho esquerdo, e inchaços no rosto.
DR:
Como se sente, senhorita Sidle?
SS:
Bom, minha cabeça ainda dói um pouquinho, mas me sinto bem.
DR:
Você teve sorte, só bateu a cabeça, e levou alguns pontos na testa. E os exames
de tomografia não mostraram nenhuma lesão.
Se
tudo correr bem, amanhã mesmo você terá alta, ok?
SS:
Tudo bem.
DR:
Agora descanse um pouco.
Sara
recostou a cabeça no travesseiro e ficou se lembrando das palavras de Grissom,
frias e duras. E lembrou também de vê-lo saindo do lab com Sofia, a novata. Mas
ela parecia estar interessada no Brass, então, como poderia já estar de olho em
outro? É claro, Grissom era muito mais charmoso, mais interessante do que o
velho capitão da polícia. Mas justo o homem que amava? Não podia ter escolhido
outro homem? Tinha o Warrick, o Nick, até mesmo o maluco do Greg... E imaginar
que ele tenha passado a noite com ela fazia doer não só o seu corpo, mas toda a
sua alma. Acabou
adormecendo, e uma lágrima escorreu em seu rosto, indo em direção ao coração
magoado. Na casa de Grissom, depois de um ato sexual (por mais que transasse
com outras mulheres, no final ficava o vazio por nenhuma delas ser Sara), ele
estava deitado, acordado, pensando em Sara. Sofia dormia virada de costas para
ele. O telefone residencial enfim tocou e ele foi atender, depois de vestir a
cueca samba-canção.
GG:
Grissom.
JB:
Até que enfim eu consegui falar com você!
GG:
Aconteceu alguma coisa?
JB:
Não está sabendo?
GG:
Sabendo do quê?
JB:
Sara está no hospital.
GG:
Como é?! – o coração acelerou.
JB:
Ela bateu com o carro logo após sair do lab. Catherine ligou pra lá e parece
que agora ela está bem. Mas o acidente foi feio.
GG:
Já periciaram o local?
JB:
Catherine fez isso.
GG:
Vou ao hospital agora. Sabe pra onde ela
foi levada?
JB: Desert Palm.
GG: Ok.
Aflito,
Grissom foi acordar Sofia pra que ela se vestisse e fosse embora.
SC:
Mas o que aconteceu pra você estar assim?
GG:
Sara está no hospital e preciso ir vê-la.
SC:
Está tão preocupado com ela assim? – disse enquanto se vestia.
GG:
Não quero ser rude com você, Sofia, mas o que aconteceu aqui foi um tremendo
erro. Jamais deveria ter ido pra cama com você.
SC:
Você não foi obrigado a nada, foi porque quis.
GG:
Mas não deveria ter acontecido! Não sei onde é que eu estava com a cabeça pra
ter deixado isso acontecer...
SC:
Você ama muito Sara?
GG:
Porque a pergunta?
SC:
Acho que está claro que você a ama.
GG:
Sara é única, nenhuma mulher é como ela.
Sem
mais a dizer, Grissom foi direto para o hospital. O médico autorizou a entrada
dele no quarto, e como era noite, Sara estava dormindo. Viu como ela estava
ferida, e culpou-se por ela ter se machucado. Como podia ser, um homem permitir
que a mulher que ama machucar-se por sua culpa? Por que, ao invés de ter dito
aquelas palavras duras, que a afastariam dele, não disse o quanto foi bom tê-la
em seus braços depois de nove anos e que o sexo com ela continuou tão
maravilhoso quanto em São Francisco? Porque
permitia que seu amor por Sara o deixasse apavorado a ponto de querer ficar
distante dela, quando tudo o que deveria fazer era trazê-la para si, permitir
que ela o fizesse feliz como nunca mulher alguma o fizera? Antes de sair para
vê-la no hospital, Grissom pegara um poema que escrevera para Sara, e que estava
em uma gaveta em seu quarto. Estava em seu bolso e, pensando que ela estivesse
tão adormecida que não ouviria, começou a lê-lo:
“Mesmo
que eu nunca tivesse visto teu sorriso, te amaria,
Pois
não amo teu corpo, não amo teu cheiro,
Não
amo teu olhar e nem o toque das tuas mãos
Amo
tua alma - teus carinhos invisíveis,
Amo
teus versos - tuas mensagens codificadas
Amo
tudo o que imagino ser real, mesmo que nada seja!
Peço-te
que me permita amá-lo assim, pois, desta forma,
O
amor não se afasta e atinge dimensões que nunca pensei
Serem
possíveis e nos mantém ligados por sentimentos
Não
espere que meu amor atinja o patamar que desejas,
Não
posso galgar meus sonhos, pois eles não possuem uma base,
Não
posso transpor distâncias que para mim, não existem
Não
me faça romper o elo a não ser que sinta-se preso a ele
Não
me faça querer a realidade do amor que se perde nas ladeiras
E
nos abismos que encontramos no percurso de nossas vidas.
Permita-me
amá-lo assim...
Não
devemos permitir que o amor se macule com nossas vaidades e anseios
Vamos
proteger este amor como jamais teríamos feito se pudéssemos entendê-lo
Permita
que minha alma te ame, mas não espere que meu amor assuma um rosto!
Permita
que eu ame teus versos sem precisar conhecer teus reversos!
Permita-me
ser assim,
Pois
não sei outra maneira!”
Depois,
dobrou novamente o papel e guardou no bolso.
SS:
Isso é um pedido de desculpa?
Grissom
olhou para Sara e a viu desperta, olhando fixamente para ele.
GG:
Bom, também é, mas eu queria mostrar o que escrevi pra você. É uma forma de te
dizer o quanto eu te amo, mesmo que eu ame de uma maneira não-convencional ou
tradicional.
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