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E agora, meu amor? - cap. 1


Depois de anos afastados um do outro, ela em São Francisco, ele em Vegas, o reencontro. Ele a chamou, a queria em sua equipe, trabalhando juntos. Mas nada além disso. Nada além de uma relação estritamente profissional. Ela o queria. Ainda. Como sempre quis. Desde a primeira vez em que se viram, desde a primeira troca de olhar, desde o primeiro beijo... desde a primeira noite de amor. Inesquecível para ambos, mas principalmente para ela, cujas marcas foram profundas demais. Mas ele mudara. Não era mais o mesmo homem sedutor e malicioso de antes, agora um homem fechado em si, como uma borboleta presa ao casulo. Não mais sorrisos largos e espontâneos, sendo agora um pouco forçados e raros. Não, definitivamente o Grissom de Vegas não se parecia em nada com o Grissom de São Francisco. 
Mas Sara continuava a mesma sonhadora, a mesma mulher com alma apaixonada e inquieta. Ela tentava encontrar em Grissom o homem que conhecera e pelo qual se apaixonara perdidamente. Tentava resgatar um momento de sua vida que sempre se mantivera vivo dentro do coração, cujas lembranças mais fortes ainda podiam ser sentidas no corpo. E cada olhar trocado era um resquício de um doce passado o qual ela desejava trazer para o presente. Catherine tinha suas suspeitas, ela notava que o amigo era de um jeito com a equipe e agia de uma forma no mínimo suspeita com relação à Sara. Até com outras mulheres ele era mais reservado e frio. Mas quando se tratava da perita, havia um sentimento a mais, pelo menos não tão normal, de um chefe para sua subordinada. Ela já havia flagrado algumas trocas de olhares que pareciam uma conversa silenciosa, e notava com entusiasmo a similaridade de pensamentos e idéias que os dois tinham. No fundo, torcia para que Sara fosse a mulher que fizesse o amigo agir mais humanamente, entregando-se a ela para ser mais feliz, já que solidão não faz ninguém menos triste; pelo contrário.
Mas a verdade, a bem ser dita, é que eles se amavam e todos percebiam, só que não acreditavam que eles mesmos lançavam barreiras entre eles, impedindo a passagem do sentimento. Simplesmente não conseguiam ficar juntos, por motivos diversos, propositalmente ou não. Grissom levava sua vida idealizada, perfeita, segundo seus objetivos de vida. Para ele, a vida que levava estava muito boa, sem nada para tirá-la de sua rota, sem nada para movimentá-la... sem ninguém para deixá-la mais animada...
Enquanto isso, Sara idealizava sua vida; sonhava com a companhia de alguém que a quisesse, que a amasse... e que esse alguém fosse o homem o qual ela amava desde São Francisco e que nunca mais saíra de seu coração. Os amigos diziam, entre si (sem que eles soubessem), que um foi feito para o outro – alguns diziam que não daria certo, pois ambos eram diferentes demais, mas outros afirmavam que essas diferenças é que os ligariam ainda mais. Mas Grissom e Sara continuavam com seus códigos secretos, ainda que não combinassem nada, mas as almas gêmeas sempre parecem sentir o que a outra sente, desejar o que a outra deseja... precisar do que a outra precisa...
Sara amava Grissom e esperava que ele tomasse alguma atitude, sentindo que ele também a queria. Ele realmente a queria, e muito, mas quando se tratava dela, em questão, o homem maduro e tão seguro de si tornava-se uma ovelhinha frágil e indefesa. Grissom queria Sara para si, queria tê-la em seus braços, beijá-la, sentir o cheiro da pela suave dela novamente, entrar em seu corpo e em sua alma... mas era frio o bastante para manter-se à distância, impassível até mesmo quando ela, vez ou outra, surgia com algum affair. Mas essas coisas de amor são complicadas de se entender, quem está de fora e ainda mais para quem está envolvido. Como era uma pessoa solitária, Sara se matava de tanto trabalhar, e Grissom também entrava de corpo e alma no trabalho, até com uma forma de auto-defesa. Mas como manter as defesas quando aquela linda mulher estava por perto? Como no lab não era permitido usar perfume por causa de evidências, o supervisor, que tinha o olfato apuradíssimo, sentia o cheiro da pele de Sara ao longe. E por onde ela passava, deixava aquele perfume de pele delicada e bem tratada no ar. Era um perfume de amor... Grissom reuniu a equipe na sala de reuniões, aproveitando que todos estavam no lab, para dar uma notícia.
  
CW: Então, Gil, o que tem para nós?
GG: Haverá um congresso em São Francisco sobre a importância dos laboratórios de criminalísticas, as características de cada um e como anda o número de criminalidade aqui nos Estados Unidos. Serão dois dias por lá e, infelizmente, não poderei levar a equipe toda.
CW: Eu adoraria ir!
NS: Eu também.
WB: Igualmente.
GS: Eu, com certeza!

Sara foi a única a não se manifestar. Permaneceu calada, ouvindo atentamente o que Grissom tinha a dizer.

GG: Já escolhi quem eu levarei: Sara e Greg.
CW: Porque os dois?
GG: Porque? Bem... Greg precisa de experiência, então será uma boa para ele.

O jovem csi sorria de orelha a orelha com a oportunidade.

NS: E Sara?
GG: Sara?

Os dois se olharam e o coração dele bateu mais rápido, involuntariamente.

GG: Bem, Sara vai porque... porque é uma excelente csi!

“Ela vai é porque eu preciso dela...”, pensou.
CW: Bom, se não não resta outra alternativa, boa viagem aos três. Quando irão?
GG: Amanhã cedo.
SS: Já é amanhã?
GG: Exato. E você, Catherine, supervisione a equipe durante a minha ausência.
CW: Já sei de tudo isso, Gil. Não é a primeira vez que viro supervisora da equipe.
GG: Enquanto isso, vamos trabalhar.

Ele ainda olhou novamente para Sara e saiu rapidamente. Depois que os rapazes saíram, Catherine deu uma risadinha e Sara arqueou a sobrancelha.

SS: Do que está rindo, Cath?
CW: Não sabe mesmo, Sara?
SS: Não faço a menor idéia...
CW: Acho que você anda meio distraída ultimamente...

A loira saiu da sala e deixou Sara cabreira. Ela não percebeu que a amiga se referia aos olhares de Grissom para ela, olhares estes que ela notava e se fazia de desentendida, porque não sabia quais eram as intenções dele. Ou, pelo menos, não tinha certeza nenhuma dos sentimentos dele, embora tivesse total certeza de seus próprios sentimentos com relação a ele. Depois de mais um turno exaustivo, a perita pegou seu carro e seguiu para casa. Um banho morno, uma roupa mais quentinha e um bom café para esquentar o estômago. 
O telefone tocou.

SS: Sidle.
GG: Sou eu, Grissom.

O coração de Sara acelerou. Era sempre assim quando ele ligava; parecia que seu órgão interno fazia uma festa quando se tratava dele. E ela tinha sempre que dar um jeito de disfarçar as emoções.

SS: O que foi, Grissom? Porque me ligou à essa hora?
GG: Você foi embora e eu esqueci de te passar o horário do vôo.
SS: Ah sim, pode passar.
GG: Esteja no aeroporto às nove, no terminal 2. Eu estarei de blusa azul claro.
SS: Grissom... – ela deu uma risadinha – não precisa me dizer com que roupa você estará por que eu o reconheceria no meio de uma multidão.
GG: Ah é?
SS: Você não é um homem difícil de se esquecer... quero dizer, a fisionomia...
GG: Sei...Bom, então esteja às 9. Sabe que teremos de fazer check-in, essas coisas...
SS: Já avisou ao Greg?
GG: Já.
SS: Tudo bem, vou arrumar minha bolsa e nos vemos amanhã.
GG: Até amanhã.

Sara desligou o telefone e continuou a beber seu café. Enquanto bebia, ficava pensando se era uma boa idéia estar em outra cidade com o homem que amava. Tudo bem que haveria mais alguém entre eles, mas, definitivamente, estar no mesmo corredor de um quarto de hotel com Grissom tinha a tendência a não dar certo. Ou dar muito certo (mas ela nem pensava nessa probabilidade)! Escovou os dentes e foi arrumar a mala, que seria pequena, até por ser apenas dois dias. Raios, iria a uma conferência importante e não sabia com que roupa iria! Também, não estava acostumada a usar vestidos, nunca ia a festa nenhuma... Separou um vestido preto que era justo até a cintura e esvoaçante na parte de baixo. Uma sandália de salto baixo e iria ficar bem arrumada. Pôs outras peças de roupa, nécessaire e, exausta, deitou-se. 
E dormiu. E sonhou. Com ele...

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