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Um deslize inconsequente - cap. 5


SS: Fui apunhalada pelas costas pelo homem que amo, Richard.
RS: Como?! – ele ficou surpreso, como se não quisesse acreditar no que ouvira.
SS: Eu tenho um relacionamento, ou tinha, sei lá, com o meu chefe.
RS: Peraí, irmãzinha, me conte isso direito que estou confuso. Você namora seu chefe?!
SS: Ah Richard, é meio complicado explicar. Nos conhecemos há nove anos atrás, nos envolvemos e eu me apaixonei.
RS: Isso foi aqui em Vegas?
SS: Não, eu ainda estava em São Francisco. Ele era professor, eu cursava Física e ele foi se apresentar em Harvard, em algumas palestras.
RS: E quem chegou em quem, quem atacou quem primeiro? – ele riu, divertindo-se com a novidade.

Sara riu pela primeira vez desde que chegara ao hotel.

SS: Richard, não foi bem assim. Eu joguei um charme, confesso, mas não me joguei em cima dele, como você deve estar pensando. Ele me procurou logo após a primeira palestra, começamos a conversar e uma coisa levou à outra.   
RS: Isso acabou em cama?
SS: Não assim, meu irmão. A gente se envolveu sexualmente, mas não logo de cara.
RS: E foi bom?

Sara corou de vergonha. Não iria expor sua intimidade, mesmo sendo para o irmão. Sua vida sexual era algo que preservava com a maior discrição, e sendo Sara Sidle, significava estar guardada a sete chaves. Sara era a discrição em pessoa.

SS: Caro irmão, esta informação você não vai ficar sabendo.
RS: Não precisa me dizer. Vocês, mulheres, quando reservam o direito de não dizer, é porque é algo muito profundo. E entendo, afinal, você devia estar muito apaixonada por ele para se entregar tão rápido.

Sara sentiu-se mal de repente. Pôs as mãos na cabeça, sentindo uma forte tontura.

RS: Ei, o que você está sentindo, irmã?
SS: Uma forte tontura. Acho que não comi direito hoje.
RS: Hum, começo a pensar que vocês está tendo a mesma coisa que minha mulher teve.
SS: Ãh? Do que você está falando, Richard?
RS: Quando Victoria ficou grávida da nossa primeira filha, ela veio com esse papo de tonturas.
SS: Então você supõe que eu esteja grávida?
RS: Não supus nada, tenho certeza! Ou você e esse cara aí que você tem um relacionamento não dormiram juntos?
SS: Bem...
RS: Aliás, você não me disse o nome dele.
SS: É Grissom. Gilbert Grissom.
RS: Interessante. Mas, cara irmãzinha, acho que você vai ser mamãe.

Sara deu um discreto sorriso. Não tinha certeza de nada, mas não negava que os dois transaram muitas vezes sem preservativo, e que também sentia Grissom gozar dentro dela. Em seu breve pensamento, lembrou-se de noites de amor que acabavam inundadas de esperma, quente como um mingau saído do fogão.

RS: Posso te dar um abraço?
SS: Claro!

Richard abraçou a irmã tão carinhosamente que Sara se emocionou e deixou as lágrimas caírem no ombro dele. No coração dos dois, a família perdida estava se reconstruindo a partir daquele doce abraço. Ao se separar do irmão, Sara indagou:

SS: Richard, você sabe onde se encontra a mamãe?

Ele olhou para a irmã sem entender nada. Seria possível que a irmã quisesse ver a mãe depois de toda a tragédia?

RS: Porque você me pergunta isso, Sara?
SS: Queria vê-la mais uma vez. Só para olhar nos olhos dela.
RS: Não creio que ela irá te reconhecer, ficou louca.
SS: Só queria vê-la, você pode me ajudar nisso?
RS: Claro. Mas me diga uma coisa.
SS: Sim?
RS: O que você pretende fazer com relação ao Grissom?
SS: Como?
RS: Sim, porque tudo indica que você está grávida, e você está muito magoada com ele. Vai esconder dele esse bebê?
SS: Ele não vai precisar desse, já fez um filho em outra mulher.
RS: Ele te traiu?
SS: Sim.
RS: Não quero encontrar esse homem. Diria um monte pra ele!
SS: Não se preocupe, Richard. Sou mais forte do que você pensa. Superei tantas coisas, não vai ser uma desilusão amorosa que irá me matar.
RS: Ah, deixe-me mostrar minha família. Minha mulher e minhas filhas.
SS: Que bom que você conseguiu formar uma.

Richard abriu a pasta e pegou um retrato onde estavam ele, a mulher e as duas filhas. Mostrou à irmã.

SS: Que linda família, meu irmão!
RS: Esta é Victoria, minha esposa, a loirinha é Molly e a menor é Julia.
SS: São lindas. Que idade têm?
RS: Molly tem seis e Julia, dois.
SS: Será que um dia vou conhecer minhas sobrinhas?
RS: Claro que sim!
SS: Você está morando onde?
RS: Em Boston. Trabalho em uma empresa de telecomunicação.
SS: Que coisa boa, Richard! Você merece!

O celular de Sara tocou. Era Grissom.

SS: Sidle.
GG: Sara?
SS: O que você quer, Grissom?

Richard fez uma cara feia ao ouvi-la mencionar o nome dele.

GG: Precisava falar com você. Fui até sua casa, mas você não estava.
SS: Não, não estou em casa. O que você quer comigo?
GG: Ãh, eu... Quero te ver, Sara.
SS: Estou ocupada neste momento. Amanhã no lab a gente se fala.

Sara desligou o celular, deixando um Grissom boquiaberto. Richard notou a clara expressão de tristeza nos olhos da irmã.

RS: Não fique assim, Sara. Sei que apesar de tudo você o ama. Mas se ele foi capaz de te trair, é porque talvez não te amasse tanto assim. Vem, me dá um abraço.

Os dois se abraçaram e Sara não conseguiu ficar menos infeliz do que já estava. Queria mesmo era estar abraçando Grissom, mas ele desmanchou o castelo de sonhos que ela havia sonhado para os dois.

RS: Quando é a sua próxima folga?
SS: Ainda não sei. Mas você pode me ligar. Até quando você fica aqui em Vegas?
RS: Estou de férias, tirei esse mês para vir atrás de você. Liguei para Victoria, amanhã ela e as meninas chegam aqui. Gostaria que você conhecesse minha família. Isto é, nossa família.
SS: Será um prazer. Mas eu preciso ir. Tenho coisas a fazer, e amanhã tenho que trabalhar.
RS: Tudo bem, eu te ligo avisando.

Sara foi pra casa um pouco mais tranqüila. A chegada do seu irmão em sua vida de novo trouxera uma certa paz que há muito não tinha. Chegando em casa, viu o carro de Grissom estacionado. Desceu e ele veio até ela.

SS: O que faz aqui, Grissom?
GG: Precisava falar com você, Sara.
SS: Não podia esperar até amanhã?
GG: Não, não podia.
SS: Ok, venha comigo.

Os dois entraram na casa.

SS: Pronto, Griss, pode me dizer o que você queria.
GG: Porque a frieza em sua voz?
SS: Já que você está aqui, Grissom, penso que chegou o momento de termos uma conversa.
GG: A respeito de que?
SS: Sente-se.

Sara andava pela sala, inquieta. Estava nervosa por dentro, sabia que aquela seria a pior conversa que teria com o homem que amava. Mas não poderia mais esperar.

SS: Quero dizer que já estou sabendo de tudo.
GG: Do que?
SS: Que Heather está esperando um filho seu!

Sara olhava para Grissom com raiva e lágrimas no olhar.

GG: Como é?! Heather está grávida?
SS: Ela mesma que me contou. Fui até a casa dela saber se vocês tiveram alguma coisa.
GG: Céus! E ela por acaso te mostrou algum exame?
SS: Como?
GG: Você pediu pra Heather te mostrar o resultado do exame que confirmava a gravidez?
SS: Não, mas também não há porque duvidar. Você esteve na cama com ela, fez sexo com ela sem preservativo... O que preciso dizer mais?
GG: Sara! Eu não me lembro de ter levado Heather para a cama! Quando acordei, estava na cama dela!
SS: Grissom! O que você fez com nossas promessas de amor e fidelidade? Esqueceu que amar é mais do que dizer “eu te amo”? Que amar é estar junto mesmo quando se está longe? E que no amor não há dúvidas?
GG: Sara, querida, nunca me esqueci de nada disso! Nunca me esqueci dos planos que fizemos, das juras de amor, dos sonhos que compartilhamos... Eu posso ter errado, mas não foi proposital! Quando digo que não me lembro de ter levado Heather para a cama estou sendo sincero.
SS: Vai me dizer que ela o dopou pra te levar para a cama?
GG: Heather não seria capaz de algo tão monstruoso.
SS: Então fique com ela. Acho que não temos mais nada a dizer um para o outro, Grissom.
GG: Sara!
SS: Por favor, Griss, vá embora! Estou machucada demais pra continuar essa conversa. Por favor, vá.

Sara virou-se de costas para Grissom, que não teve remédio senão ir embora. Assim que ele saiu, a perita sentou-se no chão e chorou muito. Doía muito por dentro a traição do homem que amava e a não-admissão do ato falho. Deitou-se no chão e sentiu o enjôo voltando. Pensando na menstruação que não descera até então, a hipótese de ter um bebê na barriga começou a ganhar mais força. E se confirmando a gravidez, como seria dali em diante? Como seria sua vida com o bebê sem Grissom ao seu lado? Naquela noite, Sara chegou a dormir chorando em silêncio. Estava magoada, triste, ferida. Por causa de Grissom, o homem que sempre amou, o único homem que entrara em seu coração e a fizera sentir-se a mulher mais desejada do mundo. Naquele momento, ele partira seu coração e a deixara como um dia ficou na vida: sozinha. No dia seguinte, Grissom chegou mais cedo ao lab, indo direto para sua sala. Estava visivelmente chateado, e por isso preferia ficar sozinho. Distribuiu as tarefas e, como havia muitos relatórios a fazer, ficou no lab. Sara e Catherine ficaram no mesmo caso. Durante o trajeto até o local do crime, a loira não resistiu e perguntou:


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