O homem retirou da carteira uma foto onde
continham quatro pessoas. Sara ficou espantada.
SS: Mas... Esses são meus pais, meu irmão e
eu. Como você conseguiu essa foto?
RS: Porque eu sou o garotinho da foto,
Sara.
Sara quase caiu para trás e teve de ser
segurada pelo homem. Era seu irmão, a quem não via há quase
vinte anos! Como era possível esse reencontro?!
RS: Está tudo bem com você?
SS: Sim, eu acho. Então você é...
RS: Richard Sidle.
SS: Céus!
Sara ainda sentia uma leve tontura. Richard
aproveitou e deu um grande abraço na irmã. Um abraço saudoso. Ao se apartarem,
os dois estavam às lágrimas.
SS: Por onde você andou esses anos todos
que nunca me procurou, Richard? Sempre me senti sozinha na vida!
RS: Depois da morte do papai e da
internação da mamãe, fui para um colégio interno, de onde saí só aos 18 anos.
Não tinha nenhuma pista do seu paradeiro, se ainda estava viva, enfim. Quero
conversar com você com calma, você está ocupada?
SS: Bem, eu preciso ir trabalhar.
RS: Na criminalística de Las Vegas, não é?
SS: Descobriu como?
RS: Eu pesquisei sobre você, e uma
conhecida sua de faculdade me disse que você havia se mudado para Vegas há
alguns anos. E estou feliz porque eu te encontrei.
SS: Bom, eu... Não sei o que dizer,
Richard.
RS: Você ainda está meio atordoada pelo
reencontro. É normal. Vou te dar o tempo que precisar pra se
acostumar com a idéia de que seu irmão reapareceu na sua vida. Aqui está o
cartão do hotel onde estou. Pegue!
Os dois se despediram e Sara seguiu para o
lab.
CW: Dormiu mais do que a cama, Sara?
SS: Porque, aconteceu algo?
CW: Você chegou bem atrasada. Teve algum
problema?
SS: Mais tarde a gente conversa. Preciso me
arrumar.
Assim que saiu do lock, Sara foi até a sala
de Grissom. Não estava por lá. Chegou até a mesa dele e viu uns relatórios que
ele iria assinar. Um barulho de celular tocando a despertou. Olhou no bolso,
não era o seu. Viu o de Grissom encima da mesa. Ficou curiosa e deu uma olhada
no identificador: Heather. Sua mão tremeu de nervoso. Sabia o quanto aquela mulher era atraente,
e saber que ela já estivera na mesma cama que Grissom num passado não muito
distante a deixava desconcertada e um pouco enciumada. Afinal, ele era seu
homem! Amava-o e se entregara a ele muitas vezes. Por amor. Única e exclusivamente amor. Saiu
da sala e foi até o banheiro. Estava cismada e ao mesmo tempo, sentindo seu
coração gritar por dentro. As lágrimas teimavam em cair, mas, dura na queda,
Sara não permitiria que ninguém a visse chorar e as limpou com muita raiva.
Estava pressentido algo muito ruim, e precisava ser forte para saber como
enfrentar o que pudesse estar por vir. Saiu do banheiro e foi para a sala de
convivência, onde todos se encontravam.
NS: Achei que não ia te ver hoje, Sara.
Está tão misteriosa!
SS: Precisei ir ao banheiro, Nick.
CW: Sei...
O trabalho correu bem, apesar de Grissom
notar Sara mais distante e seca. No fim do expediente...
GG: Vamos dormir juntos hoje?
SS: Como assim, Griss?
GG: Como sempre fizemos, oras!
SS: Hoje não dá.
GG: Algum problema?
SS: Preciso ver se é um problema. Tchau!
Sara saiu do lab, deixando Grissom
estarrecido e sem entender nada. Parou o carro em frente à uma determinada
residência. Respirou fundo e saiu do carro. Quando a
porta se abriu, seus olhos castanhos foram de encontro aos verdes de...
Heather!
LH: Você por aqui?
SS: Precisamos conversar, Heather.
LH: Do que se trata, posso saber?
SS: Tem certeza que não sabe?
LH: Sinceramente não.
SS: Quero saber se você e Grissom têm um
caso.
LH: Como é?
SS: Pode me dizer a verdade ou está
difícil?
LH: Bem, eu... Entre, por favor.
Sara entrou, pressentindo o que vinha pela
frente. Suas mãos estavam trêmulas e suavam frio. Heather, vestindo uma
camisola curta de seda, passou a mão pela barriga reta e Sara ficou intrigada.
SS: O que é isso?
LH: Gostou da camisola novo? Pura seda!
SS: Me refiro à mão em sua barriga.
LH: Ah sim. É o resultado de uma noite
descuidada.
SS: Você está grávida?
LH: Sim, estou.
SS: Meus parabéns então. Um filho é uma
dádiva.
LH: Uma pena o pai dele ser comprometido.
SS: Você se envolveu com homem
comprometido?
LH: Não foi bem um envolvimento. Foi apenas
uma transa que resultou em uma gravidez.
SS: De qualquer forma, com um homem
comprometido é sempre errado.
LH: Você não se lembra o que me perguntou
na porta?
SS: O que?
LH: Você falou sobre Grissom e eu. É
verdade. O pai desse bebê é o Grissom. O seu Grissom!
Sara ficou atordoada com a revelação de
Heather. Seu estômago subiu e desceu como um elevador de cargas. Uma forte
vertigem tomou conta de sua cabeça, o desmaio era iminente.
LH: Quer alguma coisa? Você não parece nada
bem.
SS: Não se preocupe, estou bem. Aliás, nada
mais pode me derrubar. Acho que estou vacinada contra qualquer coisa.
Sara não sabia o que dizer, estava sentindo
seu coração sendo estraçalhado por um punhal imaginário, pelas mãos de Heather,
com a ajuda de Grissom. O homem que amou desde sempre, desde o início, o homem
a quem esperou pacientemente por anos decidir se entregar a ela e que fora para
a cama com uma velha conhecida... e fizera um filho nela. As lágrimas caíam
de teimosia, e a ruiva pôde ver o sentimento de derrota na face da “rival”. Sara olhou para Heather com os olhos
banhados em lágrimas e muita dor e ressentimento. Àquela altura, não mais se
importava se a rival via seu choro estampado.
SS: Como vocês dois puderam fazer isso
comigo?
LH: Desculpe, não entendi.
SS: Por que vocês me apunhalaram pelas
costas? Eu não merecia uma traição dessas, não merecia!
LH: Você devia estar fazendo estas perguntas
ao Grissom, foi ele quem te traiu, não eu.
SS: A traição é de ambos, porque você sabia
que ele estava comigo, e foi pra cama com ele mesmo assim. Não te dói a
consciência saber que destruiu um grande amor?
LH: Você acha que esse deslize destruiu? Que
foi capaz disso?
SS: O que você acha?
LH: Penso que você está sendo precipitada.
Filho não prende homem algum, isso serve pra mim e pra você. Grissom não vai
ficar comigo por causa desse filho que estou esperando, e pode acontecer o
mesmo a você. A diferença é que ele te ama e ficará contigo com ou sem filho.
SS: Bem, eu... preciso ir.
LH: Espero que fique bem.
Sara olhou para Heather sentindo uma dor
muito intensa na alma. Saber que esteve na mesma cama que seu homem, que abriu
as pernas para ele e sentiu a mesma sensação de prazer que ela sentia quando
fazia amor com ele era uma dolorosa decepção. Mas de algum modo iria
sobreviver. Saiu ela porta e caminhou em direção ao
carro. Já dentro dele, golfou pequenas quantidades de ar, seu coração acelerava
como se estivesse prestes a deixar de bater, suas mãos tremiam e as lágrimas
empapavam seu pescoço. Com as mãos no volante, olhava para o horizonte com o
olhar perdido, distante. Via seu sonho ruir como um castelo de conto de fadas
vindo ao chão. Decidida a esquecer Grissom, Sara deu a partida e seguiu para
casa. Não era onde queria estar, mas era sua única opção. Sua casa, seu
refúgio. Enquanto isso, Grissom, em casa, estava
ansioso pela falta de notícias de Sara. Nem um telefonema, nenhum recado na
secretária eletrônica. Nada. Tentava ler um livro sobre as novas descobertas no
mundo aquático, mas não conseguia se concentrar. Onde estava Sara? O que
estaria fazendo? Porque a falta de qualquer contato? Ele nem imaginava o quão magoada ela estava
com ele, o estrago que um deslize pôde fazer no coração e na alma de uma mulher
que sempre foi só e que encontrara motivos para ser feliz em seus braços. Mas
esse deslize... Ah, esse deslize... Ele ainda teria muitas dores de cabeça por
isso. Em casa, Sara sentia o vazio. Não somente
pelo silêncio e ausência de Grissom, mas também pela solidão interna. A mágoa
era grande demais, parecia explodir no peito. Foi tomar um banho pra relaxar o
corpo, já era tarde e o cansaço era grande. Assim que se vestiu, caiu na cama e
apagou. Na manhã seguinte, acordou animada. Ligou para o hotel onde seu irmão
estava. Queria, precisava falar com ele
RS: Claro que quero você aqui, Sara! Puxa,
depois de tantos anos, não vou deixá-la mais fugir de mim, irmã!
SS: Obrigada, Richard. Preciso mesmo falar
com alguém, e que bom que esse alguém é meu irmão.
RS: Venha, estou te esperando!
Como era sua folga, Sara decidiu gastar seu
dia com o irmão, para resgatar a amizade que tinham quando crianças até no
momento mais trágico de suas vidas. A separação fora forçada, mas agora que
aconteceu o reencontro, a esperança de dias felizes voltou a habitar o coração
de Sara. Iria se permitir ter momentos de alegria, como poucas vezes na vida.
RS: Sara!
SS: Olá, Richard.
Os dois se abraçaram por um breve momento.
RS: Como você está?
SS: Acho que... Bem, apesar dos pesares,
acho que vou sobreviver. Como sempre fiz, em toda a minha vida.
RS: É verdade, você sempre foi uma menina
muito danada, com um gênio nem um pouco fácil... – ele riu – Mas no fundo, seu coração
sempre foi generoso, sua alma, pura bondade e sensibilidade. Sempre admirei
isso em você, Sara.
Richard, perceptivo, viu uma certa tristeza
no olhar da irmã.
RS: Ei, o que você tem?
SS: Ãh?!
RS: Sara, não nos vemos há muitos anos, mas
ainda me lembro do seu jeito carente quando ficava triste. Essas coisas não se
perdem com o tempo. Mudamos o que somos, mas não mudamos quem somos. Quer me
contar o que está te afligindo?
A perita deu um breve suspiro e sentou-se
no sofá. Ainda que estivesse um pouco insegura para se abrir com o irmão depois
de tanto tempo, ele era seu irmão, seu sangue, o que sobrou de sua família, que
já não existia mais. E Richard continuava o mesmo homem doce, compreensível e
carinhoso de sempre. E Sara via nisso um apoio que certamente iria precisar.
Como não tinha Grissom para compartilhar suas dores, temores e sentimentos –
naquela altura, não queria nada vindo dele -, não iria recusar carinho vindo de
seu próprio irmão.
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