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Um deslize inconsequente - cap. 4


O homem retirou da carteira uma foto onde continham quatro pessoas. Sara ficou espantada.

SS: Mas... Esses são meus pais, meu irmão e eu. Como você conseguiu essa foto?
RS: Porque eu sou o garotinho da foto, Sara.

Sara quase caiu para trás e teve de ser segurada pelo homem. Era seu irmão, a quem não via há quase vinte anos! Como era possível esse reencontro?!

RS: Está tudo bem com você?
SS: Sim, eu acho. Então você é...
RS: Richard Sidle.
SS: Céus!

Sara ainda sentia uma leve tontura. Richard aproveitou e deu um grande abraço na irmã. Um abraço saudoso. Ao se apartarem, os dois estavam às lágrimas.

SS: Por onde você andou esses anos todos que nunca me procurou, Richard? Sempre me senti sozinha na vida!
RS: Depois da morte do papai e da internação da mamãe, fui para um colégio interno, de onde saí só aos 18 anos. Não tinha nenhuma pista do seu paradeiro, se ainda estava viva, enfim. Quero conversar com você com calma, você está ocupada?
SS: Bem, eu preciso ir trabalhar.
RS: Na criminalística de Las Vegas, não é?
SS: Descobriu como?
RS: Eu pesquisei sobre você, e uma conhecida sua de faculdade me disse que você havia se mudado para Vegas há alguns anos. E estou feliz porque eu te encontrei.
SS: Bom, eu... Não sei o que dizer, Richard.
RS: Você ainda está meio atordoada pelo reencontro. É normal. Vou te dar o tempo que precisar pra se acostumar com a idéia de que seu irmão reapareceu na sua vida. Aqui está o cartão do hotel onde estou. Pegue!

Os dois se despediram e Sara seguiu para o lab.

CW: Dormiu mais do que a cama, Sara?
SS: Porque, aconteceu algo?
CW: Você chegou bem atrasada. Teve algum problema?
SS: Mais tarde a gente conversa. Preciso me arrumar.

Assim que saiu do lock, Sara foi até a sala de Grissom. Não estava por lá. Chegou até a mesa dele e viu uns relatórios que ele iria assinar. Um barulho de celular tocando a despertou. Olhou no bolso, não era o seu. Viu o de Grissom encima da mesa. Ficou curiosa e deu uma olhada no identificador: Heather. Sua mão tremeu de nervoso. Sabia o quanto aquela mulher era atraente, e saber que ela já estivera na mesma cama que Grissom num passado não muito distante a deixava desconcertada e um pouco enciumada. Afinal, ele era seu homem! Amava-o e se entregara a ele muitas vezes. Por amor. Única e exclusivamente amor. Saiu da sala e foi até o banheiro. Estava cismada e ao mesmo tempo, sentindo seu coração gritar por dentro. As lágrimas teimavam em cair, mas, dura na queda, Sara não permitiria que ninguém a visse chorar e as limpou com muita raiva. Estava pressentido algo muito ruim, e precisava ser forte para saber como enfrentar o que pudesse estar por vir. Saiu do banheiro e foi para a sala de convivência, onde todos se encontravam.

NS: Achei que não ia te ver hoje, Sara. Está tão misteriosa!
SS: Precisei ir ao banheiro, Nick.
CW: Sei...

O trabalho correu bem, apesar de Grissom notar Sara mais distante e seca. No fim do expediente...

GG: Vamos dormir juntos hoje?
SS: Como assim, Griss?
GG: Como sempre fizemos, oras!
SS: Hoje não dá.
GG: Algum problema?
SS: Preciso ver se é um problema. Tchau!

Sara saiu do lab, deixando Grissom estarrecido e sem entender nada. Parou o carro em frente à uma determinada residência. Respirou fundo e saiu do carro. Quando a porta se abriu, seus olhos castanhos foram de encontro aos verdes de... Heather!

LH: Você por aqui?
SS: Precisamos conversar, Heather.
LH: Do que se trata, posso saber?
SS: Tem certeza que não sabe?
LH: Sinceramente não.
SS: Quero saber se você e Grissom têm um caso.
LH: Como é?
SS: Pode me dizer a verdade ou está difícil?
LH: Bem, eu... Entre, por favor.

Sara entrou, pressentindo o que vinha pela frente. Suas mãos estavam trêmulas e suavam frio. Heather, vestindo uma camisola curta de seda, passou a mão pela barriga reta e Sara ficou intrigada.

SS: O que é isso?
LH: Gostou da camisola novo? Pura seda!
SS: Me refiro à mão em sua barriga.
LH: Ah sim. É o resultado de uma noite descuidada.
SS: Você está grávida?
LH: Sim, estou.
SS: Meus parabéns então. Um filho é uma dádiva.
LH: Uma pena o pai dele ser comprometido.
SS: Você se envolveu com homem comprometido?
LH: Não foi bem um envolvimento. Foi apenas uma transa que resultou em uma gravidez.
SS: De qualquer forma, com um homem comprometido é sempre errado.
LH: Você não se lembra o que me perguntou na porta?
SS: O que?
LH: Você falou sobre Grissom e eu. É verdade. O pai desse bebê é o Grissom. O seu Grissom!

Sara ficou atordoada com a revelação de Heather. Seu estômago subiu e desceu como um elevador de cargas. Uma forte vertigem tomou conta de sua cabeça, o desmaio era iminente.

LH: Quer alguma coisa? Você não parece nada bem.
SS: Não se preocupe, estou bem. Aliás, nada mais pode me derrubar. Acho que estou vacinada contra qualquer coisa.

Sara não sabia o que dizer, estava sentindo seu coração sendo estraçalhado por um punhal imaginário, pelas mãos de Heather, com a ajuda de Grissom. O homem que amou desde sempre, desde o início, o homem a quem esperou pacientemente por anos decidir se entregar a ela e que fora para a cama com uma velha conhecida... e fizera um filho nela. As lágrimas caíam de teimosia, e a ruiva pôde ver o sentimento de derrota na face da “rival”. Sara olhou para Heather com os olhos banhados em lágrimas e muita dor e ressentimento. Àquela altura, não mais se importava se a rival via seu choro estampado.

SS: Como vocês dois puderam fazer isso comigo?
LH: Desculpe, não entendi.
SS: Por que vocês me apunhalaram pelas costas? Eu não merecia uma traição dessas, não merecia!
LH: Você devia estar fazendo estas perguntas ao Grissom, foi ele quem te traiu, não eu.
SS: A traição é de ambos, porque você sabia que ele estava comigo, e foi pra cama com ele mesmo assim. Não te dói a consciência saber que destruiu um grande amor?
LH: Você acha que esse deslize destruiu? Que foi capaz disso?
SS: O que você acha?
LH: Penso que você está sendo precipitada. Filho não prende homem algum, isso serve pra mim e pra você. Grissom não vai ficar comigo por causa desse filho que estou esperando, e pode acontecer o mesmo a você. A diferença é que ele te ama e ficará contigo com ou sem filho.
SS: Bem, eu... preciso ir.
LH: Espero que fique bem.

Sara olhou para Heather sentindo uma dor muito intensa na alma. Saber que esteve na mesma cama que seu homem, que abriu as pernas para ele e sentiu a mesma sensação de prazer que ela sentia quando fazia amor com ele era uma dolorosa decepção. Mas de algum modo iria sobreviver. Saiu ela porta e caminhou em direção ao carro. Já dentro dele, golfou pequenas quantidades de ar, seu coração acelerava como se estivesse prestes a deixar de bater, suas mãos tremiam e as lágrimas empapavam seu pescoço. Com as mãos no volante, olhava para o horizonte com o olhar perdido, distante. Via seu sonho ruir como um castelo de conto de fadas vindo ao chão. Decidida a esquecer Grissom, Sara deu a partida e seguiu para casa. Não era onde queria estar, mas era sua única opção. Sua casa, seu refúgio. Enquanto isso, Grissom, em casa, estava ansioso pela falta de notícias de Sara. Nem um telefonema, nenhum recado na secretária eletrônica. Nada. Tentava ler um livro sobre as novas descobertas no mundo aquático, mas não conseguia se concentrar. Onde estava Sara? O que estaria fazendo? Porque a falta de qualquer contato? Ele nem imaginava o quão magoada ela estava com ele, o estrago que um deslize pôde fazer no coração e na alma de uma mulher que sempre foi só e que encontrara motivos para ser feliz em seus braços. Mas esse deslize... Ah, esse deslize... Ele ainda teria muitas dores de cabeça por isso. Em casa, Sara sentia o vazio. Não somente pelo silêncio e ausência de Grissom, mas também pela solidão interna. A mágoa era grande demais, parecia explodir no peito. Foi tomar um banho pra relaxar o corpo, já era tarde e o cansaço era grande. Assim que se vestiu, caiu na cama e apagou. Na manhã seguinte, acordou animada. Ligou para o hotel onde seu irmão estava. Queria, precisava falar com ele

RS: Claro que quero você aqui, Sara! Puxa, depois de tantos anos, não vou deixá-la mais fugir de mim, irmã!
SS: Obrigada, Richard. Preciso mesmo falar com alguém, e que bom que esse alguém é meu irmão.
RS: Venha, estou te esperando!

Como era sua folga, Sara decidiu gastar seu dia com o irmão, para resgatar a amizade que tinham quando crianças até no momento mais trágico de suas vidas. A separação fora forçada, mas agora que aconteceu o reencontro, a esperança de dias felizes voltou a habitar o coração de Sara. Iria se permitir ter momentos de alegria, como poucas vezes na vida.

RS: Sara!
SS: Olá, Richard.

Os dois se abraçaram por um breve momento.

RS: Como você está?
SS: Acho que... Bem, apesar dos pesares, acho que vou sobreviver. Como sempre fiz, em toda a minha vida.
RS: É verdade, você sempre foi uma menina muito danada, com um gênio nem um pouco fácil... – ele riu – Mas no fundo, seu coração sempre foi generoso, sua alma, pura bondade e sensibilidade. Sempre admirei isso em você, Sara.

Richard, perceptivo, viu uma certa tristeza no olhar da irmã.

RS: Ei, o que você tem?
SS: Ãh?!
RS: Sara, não nos vemos há muitos anos, mas ainda me lembro do seu jeito carente quando ficava triste. Essas coisas não se perdem com o tempo. Mudamos o que somos, mas não mudamos quem somos. Quer me contar o que está te afligindo?

A perita deu um breve suspiro e sentou-se no sofá. Ainda que estivesse um pouco insegura para se abrir com o irmão depois de tanto tempo, ele era seu irmão, seu sangue, o que sobrou de sua família, que já não existia mais. E Richard continuava o mesmo homem doce, compreensível e carinhoso de sempre. E Sara via nisso um apoio que certamente iria precisar. Como não tinha Grissom para compartilhar suas dores, temores e sentimentos – naquela altura, não queria nada vindo dele -, não iria recusar carinho vindo de seu próprio irmão.

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