SS: Estou bem agora. E você?
GG: O quarto está enorme sem você. A cama, muito vazia...
SS: Não se preocupe, eu volto em dois dias. E vou tentar me dar melhor
com a Emilen, mas ela precisa melhorar também.
GG: Já conversei sobre isso com ela.
SS: Até daqui a dois dias, Griss!
GG: Até. Durma bem, querida.
Sara sorriu e dormiu. Dormiu muito bem porque estava longe daquela pestinha. Mas não estava com Grissom ali, então sentiu um pouco de vazio na
casa. E, pobre Sara, mal sabia o que a esperava... Quando retornou ao apartamento de Grissom, Sara foi recebida mais uma
vez pelo olhar cruel da pequena, mas o supervisor não percebeu nada.
GG: Eu preciso ir ao lab, vocês vão ficar bem?
EB: Vamos, papai! – sorriu a menina, fingindo bem.
SS: Espero que sim – disse Sara, meio desanimada.
GG: Eu volto logo.
Grissom deu um selinho na mulher e um beijo na testa de Emilen e saiu.
Alguns minutos depois, a menina começou a destilar seu veneno:
EB: Então você voltou... mas não vai ficar muito tempo, entendeu? Você
não vai ficar com o meu pai!
SS: Sua maldita! Por sua culpa eu perdi o meu filho!
EB: Eu sou a única filha do meu pai, não quero irmão nenhum!
SS: O que você pretende com suas crueldades, Emilen? Acha que agindo
assim vai ganhar o amor do seu pai? Não se compra carinho, sabia?
EB: Eu só quero que você saia da vida do meu pai!
SS: Mas você é burra ou o quê? Não entende que o Grissom tem o direito
de ser feliz e que nós dois somos felizes juntos? Por que você não consegue ver
que se seu pai está feliz você deveria estar também?!
EB: Eu quero ele com a minha mãe! – berrou a menina.
SS: Olha menina, vá para o seu quarto! Não quero te ver na minha frente
até seu pai chegar!
EB: Sua bruxa! Vou contar pra ele que você brigou comigo!
Sara estava a ponto de dar uns tapas na menina, mas se controlou o
suficiente e foi até a cozinha beber um copo d’água. O dia custou a passar.
Quando Grissom chegou, mesmo sendo tarde, a menina ainda não havia ido dormir.
Estava na sala, brincando com sua boneca.
GG: Como foi o seu dia?
A garota começou a chorar, dando início à sua encenação.
EB: A Sara foi muito má comigo, brigou muito comigo!
GG: O que ela fez?
SS: Ela está inventando as coisas, Griss! – Sara surgiu da porta do
quarto e desceu as escadas.
EB: Você brigou comigo! Eu sou uma criança!
SS: Você é mentirosa e sabe disso, Emilen!
EB: Você é uma bruxa!
SS: Essa menina é o um demônio, Grissom! Não tem como conviver com ela!
EB: Ela brigou comigo!
Com as duas berrando em seu ouvido, Grissom explodiu:
GG: Parem de gritar! Não estou suportando esse clima de guerra entre
vocês duas!
SS: Ela é o problema, você não consegue enxergar isso?
GG: Emilen, vá para o quarto!
Percebendo que haveria discussão entre os dois, a menina saiu
imediatamente da sala e ficou ouvindo colada na parede.
GG: Qual é o seu problema, Sara?
SS: O problema é você, que não enxerga o que está a um palmo do seu
nariz! Essa menina é um demônio, me trata feito cachorro e ainda consegue
inverter a situação, fazendo com que eu passe por má e faça papel de idiota
perante você.
GG: É só uma menina, Sara! Não entende?
SS: Eu já vi muitas crianças e nenhuma era tão cruel quanto essa sua filha. Pelo amor de Deus, tire a venda que está em seus olhos e veja a
realidade. Essa garotinha é má, é cruel, é cínica!
Emilen sorria satisfeita. Imaginava que a “madrasta” não agüentaria
aquilo tudo e iria embora de vez. Quando ouviu a perita reclamar aos prantos, deu uma risadinha debochada,
sentindo-se vitoriosa. Sara chorava àquela altura, estava magoada e revoltada
por Grissom não acordar para a realidade.
GG: Olha, nos falamos depois, eu preciso resolver um assunto.
SS: Você sempre fugindo quando o problema aperta! Está com medo de
encarar a realidade dos fatos?
GG: Você está nervosa, Sara. Acalme-se e então conversaremos.
SS: Estou cheia do “deixa disso”. Ainda vai acontecer uma desgraça e
você não vai se dar conta!
Grissom saiu e Sara sentou-se no sofá, chorando copiosamente. Emilen
saiu do quarto e ficou perto dela, observando-a em sua dor.
SS: Está satisfeita, Emilen? Você faz o que bem quer do Grissom e ele
cai feito patinho nas suas mentiras. E eu não consigo provar que você é a
mentirosa, a malvada. Você é um caso perdido, nem exorcismo tira esse demônio
de dentro de você.
EB: É, ele é um idiota e você uma palhaça. Ele sabe que eu sou uma
criança e não pode fazer nada comigo.
SS: Ah, pode sim!
EB: Ele não vai fazer nada comigo, porque eu sempre vou dizer que você é
quem fez! Eu odeio você, sua imbecil!
SS: O que eu te fiz pra você me odiar tanto, menina?
EB: Você está roubando o lugar da minha mãe!
SS: Deixa de ser estúpida! Ninguém é obrigado a ficar com ninguém só
porque teve um filho com a pessoa!
EB: Eu vou infernizar a sua vida até você ir embora! Meu pai vai sempre
acreditar em mim!
Emilen tentava humilhar Sara e rebaixá-la mais do que ela já se sentia.
O que ela não contava é que Grissom, que havia ficado do lado de fora da casa
tomando um ar, estava ouvindo toda a conversa. Estarrecido. “Céus, Sara tinha
razão o tempo todo! Essa menina é um demônio! Minha querida tem sido vítima
desse pequeno monstro e eu não acreditei nela!”. Antes que alguém o visse, ele
entrou no carro e seguiu para a casa de Catherine. Além de amiga, ela sempre
tinha um bom conselho a dar.
CW: Ei! O que o traz aqui tão cedo?
GG: Posso entrar?
CW: Claro.
Grissom adentrou-se e Catherine pediu que se sentasse.
CW: Estou vendo que você está com algum problema. O que foi, brigou com
Sara? Não vá me dizer que é isso!
GG: Eu descobri que Emilen é uma criança monstruosa.
CW: Até que enfim, hein?
GG: Você já sabia disso?
CW: Só você não via, Gil.
GG: Agora consigo ver tudo claramente. Sara caída no chão não foi um
tombo qualquer. Ela foi empurrada.
CW: Exatamente.
GG: Onde é que nasceu um monstro desses? Eu não tenho esse tipo de
genes, Catherine. Aliás, não vejo nada de mim nessa menina!
CW: Já pensou na possibilidade de ela não ser sua filha?
GG: Como é?
CW: Pensa comigo: ela não se parece em nada com você. Eu não conheço a
mãe, mas não acredito que ela seja cruel como esta menina.
GG: Não, Lauren nunca foi assim.
CW: E digo mais: ela pode nem ser filha dessa mulher!
GG: Você acha?
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