Os
dias se passaram e Sara manteve-se calada a respeito de Hank e o que
acontecera. Apenas prestou depoimento, e só. Mas, apesar de ter vivido um
pesadelo nas mãos do fortão, seu coração não se esquecia de quem era sua razão
de suspirar e sonhar. E, por viver com Grissom na cabeça e ter passado por um
momento traumático, Sara andou se esquecendo de algumas coisas das quais não
costumava se esquecer. Por exemplo, de não escrever nos momentos de folga
dentro do lab. Como ela era uma pessoa muito discreta, suas confissões no
diário (apesar de ninguém saber o que ela tanto escrevia) acabavam gerando
certa curiosidade. Catherine, Nick e Greg a flagraram escrevendo algumas vezes. Outras
pessoas também... Depois
de um turno cansativo, no qual trabalhara bastante em um caso longo e
complicado, Sara foi para o locker.
NS:
Ei, já está indo?
SS:
Estou exausta, o dia já amanheceu e eu só quero uma boa ducha e minha cama...
NS:
Também estou pregado! Bom, a gente se vê então!
Sara
sorriu para o amigo e continuou a pegar suas coisas no armário. Ao sair, passou pela sala de Grissom e o
observou compenetrado em suas anotações. Foi
embora antes que ele a visse. Em casa, jogou as coisas no sofá e correu para o
banho. Estava tão cansada que não parou para pensar em nada do que fizera na
noite anterior, no trabalho, coisas que sempre fazia durante os banhos. Em
seguida, já seca e vestida com uma roupa quente e macia, caiu na cama e dormiu
por horas. Quando despertou, já era fim de tarde. Ao olhar pela janela,
percebeu que o sol estava baixo, o que significava que a noite já iria pedir
passagem em pouco tempo.
SS:
Puxa, dormi tanto assim?
O
rosto meio inchado de tanto dormir e os cabelos rebeldes indicavam que Sara
havia se esquecido do mundo. E dormido feito pedra, pois, ao conferir o
celular, viu que tinha uma chamada de Catherine, em um horário que ela se
encontrava adormecida.
SS:
Caramba! Nem escutei o celular tocar! Dormi feito pedra mesmo! E estou com
fome, vou preparar algo para comer...
Esse
era o momento (aliás, um dos momentos) em que Sara sentia pesar a solidão;
cozinhar e comer sozinha era algo extremamente chato. Adoraria ter alguém para,
pelo menos, dizer o que achava da comida dela. Mas nem pra conversar tinha
alguém... Enquanto
ela fazia um lanche, seu diário estava nas mãos de alguém que ela jamais
poderia supor que o descobrisse... ou que, pelo menos, tivesse a audácia de
lê-lo.
“Eu
amo G. Entendo que ele não queira nada comigo, e que, se me amasse, não
poderíamos ficar juntos no lab por conta das regras. Mas amo-o com todo o meu
coração e alma, desde São Francisco. E sei que jamais haverá outro homem a quem
darei meu coração. G. é único!”
CE:
Ora ora, mas o que acabo de descobrir! Quer dizer que a recatada e impetuosa
Sidle tem um amor platônico por ninguém menos que Gilbert Grissom? Bom, pelo
que li até agora nesse diário, ele não corresponde aos sentimentos dela. Menos
mal para ele, pois quem seria o maluco de se envolver com uma mulher
problemática feito ela? Mas essa informação é muito valiosa, acho que poderei
tirar alguma vantagem dela.
Ecklie
continuou a ler o diário e chegou à parte onde Sara diz ter sido estuprada, mas
não citou o nome do cara. “Então ela se entrega após ser embebedada?
Interessante essa informação... Eu sempre soube que Sidle não fosse lá muito
normal, mas ficar embriagada com facilidade era algo que eu não fazia a menor
idéia. É, essa mulher é cheia de segredos...”, pensou o supervisor-geral do
lab. E
ficou animado com pensamentos que passaram pela cabeça.
CE:
Sidle vai ver quem é realmente Conrad Ecklie. Se não quiser perder o emprego, é
bom que faça o que eu quiser! E irei fazer uma visitinha a ela ainda hoje.
Era
início de noite e Sara assistia à TV sentada no sofá em sua pequena sala. A
campainha tocou e ela foi atender. Ficou surpresa ao ver quem era.
SS:
Podia esperar a visita de qualquer pessoa no mundo, menos a sua.
CE:
Pelo visto ficou surpresa com a minha vida, Sidle.
SS:
E não é pra ficar?
CE:
Posso entrar?
SS:
Vai demorar muito?
CE:
Creio que não. O assunto que me traz aqui é rápido.
SS:
Entre então.
Ecklie
observou a pequena sala da perita, que ficava colada à cozinha, também pequena.
CE:
É esse o apartamento onde você mora? Não dava pra arrumar um lugar maior?
SS:
Se você me pagasse melhor, quem sabe eu comprasse uma mansão, quem sabe? Mas o
que o traz aqui, Ecklie?
CE:
Estou sabendo umas coisas de você bem interessantes...
Sara
arqueou a sobrancelha.
SS:
Que coisas?
CE:
Diria que pessoais...
SS:
Impossível! Não falo da minha vida no lab.
CE:
Não teria essa certeza toda, Sidle...
SS:
Vá direto ao ponto, Ecklie! O que você pensa que sabe sobre mim?
CE:
Pensar não, eu tenho absoluta certeza, depois do que li!
SS:
E o que você andou lendo?
CE:
Por acaso isto não lhe pertence? – ele tirou o diário do bolso interno do
paletó e mostrou-o à perita, que ficou gélida.
SS:
Onde você achou esse diário, Ecklie?
CE:
Você e Gil têm uma coisa em comum e que me irrita bastante: quando querem, são
cabeças de vento. E você, PR algum motivo, o esqueceu no lab. Passei pela sala
e o vi. Mas neste caso, fiquei muito satisfeito. Não imaginava que a
subordinada mais rebelde e teimosa do lab tivesse uma profunda paixão
não-correspondida pelo supervisor cabeça de vento!
SS:
Me devolve esse diário, Ecklie! Você não tinha o direito de ler o que eu
escrevo nele! Isso é invasão de privacidade!
CE:
E se envolver com funcionário de laboratório de criminalística infringe as
regras, sabia disso?
SS:
Deixa de ser idiota! Eu não estou envolvida com Grissom, nós somos apenas chefe
e subordinada...
CE:
E quem me garante que ele também não esteja envolvido com você? Afinal, um
homem descobrir que tem uma mulher apaixonada por ele é algo extremamente
excitante! Ele poderia querer descobrir como é o gosto de se envolver com uma
subordinada!
Sara
já chorava e o chefe dava risadas com o sofrimento dela, afinal, Ecklie não
escondia de ninguém que detestava Sara e queria demiti-la a todo custo, mas não
conseguia porque Grissom a defendia fervorosamente, e ele tinha grande
influência no lab.
SS:
O que você quer de mim, seu canalha? Pretende me chantagear?
CE:
Tenho algumas opções para lhe dar, e você precisa ser inteligente para aceitar
minhas propostas.
SS:
Diga o que você quer de uma vez!
CE:
Muito bem. A primeira coisa é: você vai abrir mão do Gil de qualquer maneira,
mesmo que ele se declare a você.
SS:
Como é?!
CE:
Pelo bem do lab, você terá de se afastar dele, pedindo suas contas e indo para
longe de Vegas.
SS:
Você... você é louco?! Foi o Grissom quem me chamou para trabalhar no lab, você
não pode e não tem o direito de me mandar embora!
CE:
Não esqueça de que estou com seu diário em meu poder. Se eu mostrá-lo a
qualquer órgão de imprensa, sua carreira vai por terra, Sidle! Até porque
soube, nestas linhas, que você é dada numa bebedeira, e isso é péssimo para a
reputação do lab. Imagine se o xerife e o prefeito descobrem que temos
alcoólatras entre nós? Cabeças iriam rolar, com certeza. Até a do seu amado
Gil. E você iria querer isto? Não, né?
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