“Não
posso me considerar a mais romântica das mulheres. Catherine às vezes me fala
sobre isso, e vejo o quanto somos diferentes. Ela é intensa e muito passional,
se entrega em suas atitudes e emoções. Penso que exagera um pouco em alguns
momentos, mas é o jeito dela. Eu não, sou mais racional, introspectiva, séria. Não que minha amiga não seja, mas sempre usei
mais a cabeça do que o coração em tudo. Talvez eu tenha me dado mal por isso em
alguns momentos, mas sinto que esse meu jeito de ser nasceu no momento em que
vi minha mãe assassinar meu pai e me vi rodeada por fantasmas. Fantasmas esses
que ainda me acompanham, mesmo tendo passado tantos anos. É que existem coisas
que, por mais que tentemos, nunca conseguimos arrancar de nós. Pelo menos nem
sempre tão facilmente. E assim, cresci enxergando nos homens que passaram pela
minha vida pessoas que sempre iam embora, cedo ou tarde. Foi assim com todos os
homens com quem me envolvi”.
Sara,
como era sabido de todos, era uma excelente CSI, ágil, perspicaz, com uma forte
intuição para descobrir detalhes que por vezes passavam despercebidos aos olhos
dos outros csi’s e uma grande pessoa. Sim, ela era uma grande companheira de
trabalho e também de encontros com os amigos, mesmo sendo uma pessoa de
temperamento fechado e introspectivo. Sara não tinha muitos amigos, os que ela
realmente possuía trabalhavam com ela e cuja convivência foi aproximando-os com
o tempo. Mas ela tinha um hábito o qual não dizia a ninguém, até por ser uma
pessoa muito discreta. Além disso, não gostava de comentários a respeito de sua
vida. Ela escrevia em um diário que guardava com muito cuidado coisas que
mantinha no coração, até com um certo custo. Como
não tinha namorado e não gostava muito de sair, escrevia um pouco nas linhas de
seu diário tão caprichosamente produzido e guardado com todo o cuidado.
CW:
Tem certeza de que não quer vir conosco, Sara? A noite será ótima!
SS:
Obrigada, Catherine, mas não sou boa companhia pra ninguém.
CW:
Como não?! Você é divertida, inteligente, tem um grande senso das coisas...
SS:
Você tem faro para a alegria e romance, eu não. Pelo contrário, tenho um ímã
que afasta as pessoas.
CW:
Mas você só fica presa em casa ou mergulhada no trabalho, Sara! Não se dá a
chance de encontrar pessoas diferentes! Aliás, devo dizer que você e Gil são
muito parecidos, parecem dois vegetais!
O
coração de Sara batia mais forte só de ouvir a menção daquele nome. Grissom
era sua paixão secreta, seu mais íntimo desejo. Talvez seu desejo frustrado,
pois ainda o queria, mesmo estando em Vegas há tanto tempo, e os doces momentos
de São Francisco permaneciam vividamente em suas memórias. Só
que ele não correspondia aos seus sentimentos, não era mais o mesmo homem de
anos atrás, e isso era como um espinho que arranhava seu coração. Mas como não
podia forçar ninguém a amá-La, permanecia fria com relação a sentimentos, na
tentativa de sufocar o que ainda insistia em viver.
SS:
Não, Cath, Grissom e eu não somos iguais. Em nada! – a perita passava a mão nos
cabelos.
CW:
Acho que são sim, e muito mais do que vocês pensam! Bem, vou nessa, o Vartann
vai me buscar em casa. Você não vai embora agora?
SS:
Vou terminar de me arrumar e já vou. Bom encontro!
CW:
Obrigada!
Sara
observou a amiga ir embora toda feliz, pois estava saindo com o detetive Lou
Vartann e os dois estavam se dando muito bem. Sentada no locker, ficou
pensativa por uns instantes até decidir enfim levantar-se para ir embora. Os
companheiros de equipe já haviam ido embora, ela costumava ficar um pouco mais
para organizar algumas coisas pendentes. Grissom também ficava até mais tarde
para rever relatórios e outras coisas. Sara, antes de sair, passou pelo
corredor e, na espreita, ficou observando-o ocupado com seus papéis. Deu um
sorriso tímido de lado e saiu, antes que fosse descoberta. Em casa, tomou um
banho gelado e foi para o quarto.
“G.
estava tão bonito esta noite! Era como se tivesse se produzido exatamente para
causar algum efeito em mim. Mas ele não repara em mim, como sempre. Acho que
sou invisível para este homem. É como me sinto desde que vim para Vegas. Talvez
G. tenha em algum momento notado minha presença pelo lab. Mas
é quase nada para quem sonha acordada com o homem pelo qual se apaixonou há
tanto tempo! De repente não sou bonita o suficiente para ele, como as mulheres
que já vi ao redor dele, ou talvez não tenha nada que o faça me querer. E nem
sei se G. realmente me quis algum dia! Não posso dizer nada após São Francisco,
até porque vejo, sinto, que ele mudou muito. Mas em mim nada mudou: eu ainda
estou apaixonada por este homem. Mas não sei o que fazer com isto; não sei como
agir, se devo me abrir... só sei que sinto meu coração explode cada vez que o
vejo. Por outro lado, escuto minha voz interna me dizer: “mas que bobagem, Sara
Sidle! Você não é mais uma menina, pare de sonhar com algo impossível!”. Será
que meu tempo de sonhar já passou? Ou será que, quando se ama, tudo é
permitido?”
Sara
apagou a luz do abajur e deitou-se na cama. Rapidamente adormeceu, estava
exausta e ainda tinha muito o que sonhar... com alguém que estava em outro
lugar, em outra cama, àquela hora. Grissom
estava em seu quarto, em sua cama. No silêncio em que a casa se encontrava, ele
sempre tinha pensamentos com uma certa mulher... sim, ele pensava em Sara. Só
que talvez jamais admitisse isso. Era um homem muito reservado, e tinha seus
medos com relação a um envolvimento com ela. Quando
se envolveu com Sara em São Francisco, também teve esse receio por conta da
diferença de idade. Mas ela o envolveu de tal maneira que os encontros que
tiveram se tornaram inesquecíveis. E foi tão inesquecível para Grissom que
todas as outras mulheres posteriores não conseguiram tirar dele nada, nem mesmo
afeto. E com Sara perto de si no lab, precisava lutar contra o próprio coração
para não deixar transparecer que ainda a queria e, mais do que isso, a amava.
Ele não sabia, ou fingia não perceber, que ela ainda estava apaixonada, que
trazia nos olhos uma luz toda especial que significava amor... Pensando
nela, acabou adormecendo. E pegou no sono. No
turno seguinte, Grissom e Sara pegaram o mesmo caso, enquanto a equipe estava
atuando em outros. Era um homicídio em uma residência, uma idosa havia sido
encontrada morta.
SS:
Ela morava sozinha, parece que não tinha muitos inimigos...
GG:
Os inimigos podem estar em todo lugar, Sara.
Enquanto
os dois analisavam a área, Hank Peddigrew apareceu no local.
HP:
Estava verificando a parte de trás da casa, atrás de algum pista. Os vizinhos
chamaram a policia porque ouviram gritos vindos da residência.
Grissom
olhou feio para ele. Não gostava do fortão, era fato. E não gostava de vê-lo
perto de Sara feito um carrapato. Mas, como não se aproximava, não tomava uma
atitude, e com isso via outros homens cercando sua paixão e tentando alguma
coisa com ela.
SS:
Verificou alguma coisa anormal ao redor da casa?
HP:
Tem um vidro quebrado na janela lateral.
GG:
Você viu algum objeto que possa ter quebrado a janela?
HP:
Honestamente, não.
“Já
imaginava”, pensou o supervisor.
HP:
Bom, vou ficar lá fora para ver se vejo alguma coisa suspeita.
Sara
deu um sorriso de lado e continuou a analisar as evidências que ia encontrando.
Ela e Grissom conversaram o essencial e depois voltaram para a suv, seguindo
para o lab. O silêncio era um tanto incômodo, e ele não resistiu em perguntar:
GG:
Sara...
SS:
O que foi, Griss?
GG:
Ãh... você e aquele policial...
SS:
Hank?
GG:
Esse (não queria ouvir a pronúncia do nome dele, mas Sara disse).
SS:
O que tem?
GG:
Vocês dois... quer dizer...
SS:
Você quer saber se estamos saindo?
GG:
Eu perguntei isso?
SS:
Não diretamente. Mas sei que ia chegar lá.
GG:
Bom... vocês... estão?
SS:
Não por enquanto. E se sair, é um direito meu, não? Afinal, foi você mesmo quem
me disse há algum tempo atrás que eu tinha direito a uma vida fora do lab.
Portanto...
GG:
É. Você tem esse direito. Me perdoe a inconveniência.
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