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Nunca sem você - cap. 1


Havia algum tempo que Sara estava notando uma sombra ao redor de Grissom. Não sabia explicar o que era, mas ele estava diferente. Andava irritadiço, impaciente, desanimado... Até mesmo no sexo ele estava diferente. Isto quando acontecia, porque as relações andavam cada vez mais raras. E era com ela essa mudança de comportamento; com os outros continuava sendo o mesmo, ainda que frio e distante. Mas o que mais machucava a perita era o fato da relação dos dois sempre ter sido boa; pelo menos não se lembrava de não ter sido uma boa amante, companheira e amiga. E aquela situação a remetia a antes de ir embora de Vegas, quando enviou um vídeo a Grissom falando sobre relacionamentos que, se não vão para frente, definham. Parece que aquele relacionamento revivido estava a ponto de se definhar mais uma vez. Só que ela não fazia a menor idéia dos motivos... ou não queria ver? Os amigos do lab sabiam do relacionamento dos dois. Catherine era confidente de Sara, e percebia cada gesto dos dois. E havia algum tempo que notava uma certa distância entre o casal. Mas nenhum dos dois ousava dizer qualquer coisa, muito menos demonstrar qualquer crise. Mas quando existe um buraco entre duas pessoas que se amam, até um cego consegue ver que não está nada bem. Grissom permanecia o máximo que podia em sua sala, e Sara permanecia calada o tempo todo, abrindo a boca somente ao necessário. Ela, como mulher, deixava transparecer mais sua dor, mas somente Catherine entendia que era por causa do amigo. A perita segurava o quanto podia o choro, sentindo o peito doer por isso, mas ao sair do lab, no estacionamento mesmo desabava. Estava insatisfeita com os rumos de seu relacionamento, mas estava travada para escancarar com Grissom. Justamente quando tinha de ser mais forte, Sara estava enfraquecendo, e com isso via a corda arrebentar para o seu lado.

CW: Está tudo bem, Sara?

A perita olhou para a loira, enquanto analisava fotos em uma das salas do lab.

CW: Não, não precisa me dizer. Vejo que não está nada bem. Seu olhar é tristeza pura. Posso ajudar em alguma coisa?
SS: Hoje eu não gostaria de tocar nesse assunto, Cath. Mas vou precisar de sua ajuda sim, só que mais tarde, pode ser?
CW: Claro.
SS: Vou terminar de analisar essas fotos e vou embora. Estou exausta!
CW: Nota-se.

Catherine saiu da sala, deixando Sara terminar o trabalho em paz. Na saída, preferiu não se despedir de Grissom. Queria evitar olhar naqueles olhos azuis que tanto amava mas, por algum motivo, se recusava a olhar em sua direção. Ao chegar em casa, cansada de tanto trabalho e de segurar a dor, Sara não agüentou e caiu no choro. Um pranto sentido, de um coração apaixonado e extremamente magoado. De repente, um filme de sua relação com Grissom passou pela sua mente e aquilo parecia vidro espatifado. De repente, o céu límpido e azul onde um grande amor se fazia presente tornara-se cinzento, frio, triste. 
A alegria presente transformara-se em tristeza; as noites de amor viraram noites escuras e solitárias. O homem a quem ela sempre amara, de gentil e apaixonado virara rude e distante (muito mais até de quando ela o reencontrou após anos). Mas o que Sara não se conformava é com as desculpas esfarrapadas de Grissom; ela não conseguia enxergar qualquer deslize de sua parte para que ele começasse a tratá-la com indiferença e deixar de desejá-la.  A única razão que encontrava para essa mudança de comportamento era uma outra mulher na vida dele. Mas isso também a deixava mais triste ainda: como um homem que se dizia tão apaixonado, que fizera tantas juras, buscar e outra pessoa tudo o que tinha de sobra com ela? Pensando nisso e outras coisas, Sara, sentada em sua cama, recomeçou a chorar, empapando o rosto com as lágrimas e apertando contra o peito uma terna foto dos dois juntos, de um momento que ficaria cada vez mais distante nas muitas lembranças que tinha. Tão distraída em suas recordações românticas que levou um susto com o toque do celular. Ao ver que era Grissom, ficou ressabiada, mas atendeu:

SS: O que você quer?
GG: Eu preciso falar com você. Mas não pode ser por telefone. Será que eu poderia passar na sua casa?
SS: Aconteceu alguma coisa?
GG: Posso?
SS: Está bem. Vou te esperar.

Assim que desligou o celular, Sara deu um suspiro e guardou a foto. Estava querendo cair na cama e dormir, mas como Grissom viria até sua casa, teria de segurar o cansaço mais um pouco. Ele não demorou muito a chegar. Ao abrir a porta, os dois amantes em crise não sabiam nem como se encarar. Principalmente ele.

GG: Posso entrar?
SS: Entre.

Sara fechou a porta e os dois voltaram a se encarar.

SS: O que você quer me dizer, Griss?
GG: Sara, você sabe que não estamos bem.
SS: Eu sei? Nós estamos mal?
GG: Porque a ironia?
SS: De minha parte nossa relação nunca foi algo descartável, Griss. Sempre tratei como sendo prioridade em minha vida. Agora, se você nunca deu valor ao nosso amor, isso eu não posso afirmar, mas posso sentir, pelos últimos tempos.
GG: Eu sempre amei você, e posso dizer com convicção que nunca a traí, nunca passou pela minha cabeça.
SS: Você está dizendo que... está tudo terminado entre nós?
GG: Foi a decisão mais difícil que tomei em toda a minha vida. Eu amo você e nunca me vi longe de você, mas é uma situação que precisava acontecer, mais cedo ou mais tarde.

As lágrimas escorreram no rosto de Sara. Seu coração parecia partido, ela sentia uma dor profundamente triste por dentro. Os olhos azuis de Grissom também estavam tristes. Depois de alguns segundos em silêncio, tentando absorver o impacto da punhalada, Sara respondeu:

SS: Quer dizer que tudo o que vivemos foi uma encenação de sua arte, Grissom? Todo o amor que você um dia disse sentir por mim nada mais era do que apenas uma mentira sua, uma espécie de piedade com relação a mim?
GG: Não, Sara...
SS: Cada transa nossa foi apenas um passatempo pra você, já que não tinha alguém melhor, que fosse comigo?
GG: Não diga bobagens, Sara! Nunca foi assim!
SS: Então porque você não me diz o que realmente te levou a agir como você andou agindo comigo, e agora terminando nosso relacionamento? Porque você não sai dessa redoma que você pôs ao seu redor e não seja honesto comigo? Te garanto, vai me doer menos saber a verdade do que ser ainda mais ferida pela mentira.
GG: Não há nada a ser dito, a não ser que a gente pára por aqui.
SS: Pára aqui, simples assim?
GG: Por favor, Sara, não vamos prolongar ainda mais esse sofrimento. Está sendo difícil pra mim, você não faz idéia.
SS: Não, eu não faço idéia. Pra você ter vindo até aqui e terminar tudo comigo, estava tudo uma maravilha! A idiota sou eu, que por anos alimentei um amor que, pelo visto, só existiu mesmo na minha cabeça. Tudo o que vivemos em São Francisco e aqui em Vegas não passou de um conto de fadas que a gata borralheira aqui viveu. Agora o encanto se acabou e a princesa voltou a ser apenas... gata borralheira!
GG: Sara...

Ele não conseguia interrompê-la. Sara estava muito ressentida, com uma dor enorme no coração e um sofrimento deplorável no olhar. Ela estava brava. Magoada. Sentindo-se a pior mulher do mundo. Sozinha. Abandonada. Carente. Apaixonada...

SS: Mas quer saber, Grissom? Acho que isso serviu de lição para mim. Para que eu nunca mais me entregue a ninguém. Nenhum homem merece minhas lágrimas, meu afeto, meu carinho, meu corpo... Vou viver apenas para o trabalho, já que é o que me garante comida e independência financeira. Pode ir. Vai. Mas se é pra ir, que vá para sempre, não volte mais, porque esta porta vai se fechar para sempre.

Depois de desabafar, Sara respirava acelerado e fazia cara e bocas, afim de evitar mais choro. Grissom não conseguia encará-la. Cabisbaixo, ele apenas disse:

GG: Adeus, Sara – e saiu do apartamento.

A perita fechou a porta e, encostada, deslizou até o chão, onde, chorando, dava adeus ao amor que sempre pensou ser eterno. No carro, antes de dar a partida, Grissom também chorou. Ele amava Sara. Amava muito. Mas... algo o impedia de continuar com ela. Enquanto ele ia embora, ela, na solidão de seu apartamento, chorava ainda mais ao som de uma música que, naquele momento, parecia ter sido escrita para os dois.

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