Foi duro dormir naquela noite, mas ao
amanhecer, Sara parecia bem mais disposta. Arrumou-se e seguiu para procurar emprego.
Apesar de ser uma excelente csi, em São Francisco as coisas eram mais
complicadas no quesito ciência forense. Não haviam vagas disponíveis, e ela teria
de procurar outras soluções. Parou em um bar e resolveu matar saudades da velha
companheira, que havia deixado de lado por causa de Grissom, preocupado com
seus excessos. Enquanto bebericava sua cerveja, um homem atraente e elegante
adentrou ao estabelecimento. Sentou-se ao lado de Sara, que bebia
distraída e não notara sua presença.
SP: Uma cerveja, por favor.
Sara, curiosa com a bela voz, virou-se e
flagrou o homem olhando-a.
SP: Uma mulher bonita como você não deveria
estar bebendo sozinha. Não dá sorte – disse sorrindo.
SS: Às vezes a solidão é uma agradável
companhia.
SP: Não acredito que seja para uma mulher
como você.
SS: Acho que você precisa rever seus
conceitos. Não sou uma mulher assim.
SP: Bonita você é sim. E acredito que
inteligente também.
Pela primeira vez desde o rompimento com
Grissom, Sara abriu um sorriso. Ainda que fosse um sorriso tímido, alguém
conseguira fazê-la tirar a máscara de tristeza do rosto.
SP: Então, como a mulher bonita se chama?
SS: Sara Sidle, e você?
SP: Sean Peters. O prazer é todo meu, Sara!
Ela sorriu e deixou à mostra sua diastema.
SP: Seu sorriso é lindo, sabia?
SS: Seria melhor se fosse um sorriso feliz,
mas não está sendo.
SP: Só porque você não quer...
Sara sorriu sem jeito e continuou a beber
sua cerveja. Papo vai, papo vem e uma hora e meia havia se passado.
SS: Nossa! Vim aqui só beber uma cerveja e
estou aqui de papo com um cara que nunca vi na vida!
SP: Estou adorando nossa conversa, você não
gostou?
SS: Sim... quer dizer... você é um cara
bacana, legal...
SP: Mas não pode ficar de papo porque é
comprometida...
SS: Não... eu... já fui comprometida com
alguém. Mas agora tudo acabou.
SP: Que bom.
SS: Que bom?
SP: Se você fosse comprometida, não estaria
nesse bar e nós não teríamos nos conhecido. E eu devo confessar que adorei
conhecê-la. Além de linda, percebi que você é uma mulher muito inteligente, no
pouco que conversamos.
SS: Obrigada!
SP: Você é daqui de São Francisco mesmo?
SS: Eu nasci aqui, mas trabalhei muitos
anos em Vegas. Agora estou de volta.
SP: Isso é bom, significa que vamos nos
esbarrar por aí...
Os dois riram.
SS: Você é daqui também?
SP: Nasci em Chicago, mas moro aqui há
anos. Adoro essa cidade!
SS: Eu estava com saudade disso tudo, dessa
atmosfera que só tem aqui mesmo.
SP: Seja bem-vinda de volta!
Sara sorriu e ia pagar a conta, mas o belo
homem não deixou:
SP: Por favor, deixe que eu pague.
SS: Não se preocupe com isso...
SP: Faço questão!
Sean pagou as cervejas e os dois saíram do
bar.
SS: Bom, eu tenho que ver um emprego.
Preciso ir.
SP: Será que vou te ver de novo?
SS: Você quer me ver?
SP: Claro, porque não? Gostei muito de
conversar com você, e fiquei atraído também.
SS: Bom... eu não sei se...
SP: Você está pensando no seu ex, é?
SS: Não...
SP: Então...?
SS: Bom, vou te passar o endereço do hotel
onde estou. Aí, se quiser, você pode aparecer por lá.
Depois de entregar o papel a Sean, Sara se
despediu dele e foi caminhando para seu destino. Enquanto caminhava, pensava no
que Catherine havia lhe contado sobre o envolvimento de Grissom com Heather, e
a presença de um homem elegante e charmoso em sua vida em São Francisco
começava a lhe soar bem. Se o homem a quem ainda amava já estava em outros
braços, porque ela também não poderia se dar esse direito? Alguns dias se passaram e a previsão de
Sara estava certa. Grissom continuava dormindo na casa de Heather – leia-se com
ela -, e, por mais que pensasse em Sara, agora via a perita como algo mais
distante, como se fizesse parte de seu passado. Não amava a dominatrix, mas
gostava de fazer sexo com ela. Assim ele ia levando a vida, dormindo com uma
mulher, mas amando outra. E Sara, que recebia, via Catherine, notícias de
Grissom – nada boas -, decidiu se dar uma chance. Ela e Sean ainda não haviam
se beijado, tinha dito a ele que precisava de um tempo, o que ele aceitou numa
boa. Mas com tudo que ficara sabendo, Sara, extremamente ressentida e com certa
dose de raiva, decidiu dar outro rumo. Certa noite, Sean foi até o quarto onde
Sara estava hospedada. Elegante como sempre, em um terno caro e luxuoso, ele
surgiu sorridente à frente da perita, que trajava apenas um robe azul royal.
SP: Está belíssima!
SS: Pode entrar.
O charmoso homem adentrou-se ao quarto e
não conseguia tirar os olhos do robe da perita.
SP: Está realmente linda!
SS: Acho que você está precisando de
óculos.
SP: Sara... eu...
Sem mais a dizer, ele a segurou pela
cintura e a beijou. Lembrando-se de Grissom, Sara se permitiu ser beijada por
outro homem. Ainda magoada e muito ressentida, ela queria dar o troco nele. E
deu mesmo. Dos beijos até a cama foi um pulo. Acostumada a fazer amor apenas com um
homem, de início estranhou ter outro homem por cima de seu corpo, mas, vendo
como Sean era delicado e intenso, soltou-se e relaxou. Mas se por um lado, Sara
estava se dando uma nova oportunidade de envolvimento com alguém, Grissom não
conseguia esquecê-la. Tanto que havia perdido até a vontade de
transar com Heather, porque lembrava-se da amada e ao beijar a dominatrix,
pensava estar beijando-a. E a ruiva percebera tudo e mandou Grissom se afastar dela. Na noite em que Sara se entregava a Sean
Peters, o supervisor trabalhava em um caso de homicídio. Para seu espanto, a
vítima se parecia em muito com Sara. E aquela situação o remetia ao caso de
Debby Marlin, uma mulher idêntica à perita, assassinada no banheiro de sua
própria casa. Catherine, que estava com ele na cena, percebeu e comentou:
CW: Reparou como ela se parece muito com Sara?
Grissom não respondeu; ele havia notado tal
semelhança, e isso a trazia de volta, quando tentava esquecê-la. Mas Sara era
uma lembrança viva, qual uma chama que teimava em arder em sua alma. Ele
continuava amando-a e sentia muita falta dela.
CW: Não vai me responder?
GG: O que você me perguntou?
CW: A cabeça voou longe, não foi? Estava em
Sara, aposto!
GG: Vamos continuar a perícia, por favor?
CW: Ei, calma! Não precisa vir com pedras
nas mãos. Eu sei que você não consegue esquecê-la, e o fato de ela estar longe
o incomoda e o entristece...
Sou sua amiga, Gil, você não tem porque me
esconder o que sente.
Mais uma vez o supervisor ignorou os
comentários da loira, que entendeu aquilo como uma tentativa de sufocar a dor e
a saudade que estava sentindo de Sara. Grissom andou pela sala e reparou em
porta-retratos que estavam em cima de um móvel. A vítima ao lado de um homem
elegante e aparentando no máximo 40 anos.
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