RSS

Longe dos olhos, perto do coração - cap. 1



O relacionamento de Grissom e Sara não andava nada bem. Discussões tolas e sem motivos mais contundentes estavam se tornando rotina, e já não havia tanto prazer no sexo, quando ele acontecia. Para fugir da realidade, Grissom mergulhava de cabeça no trabalho, não deixando, assim, espaço para Sara jogar suas mágoas e frustrações na mesa. Queria escapar das palavras duras da perita, pois sabia o quão magoada ela andava e certamente tinha muito o que dizer. Preferia manter-se à distância, não saber o que ela tinha a dizer, mesmo que não fosse nada do que imaginava. Por outro lado, Sara sentia-se abandonada em seu amor, em sua dor. Detestava quando Grissom entrava em seu mundo e não se abria. Era como se falasse às paredes, e pelo visto elas eram melhores ouvintes do que ele. A perita estava se sentindo perdida, carente e, internamente, rejeitada, o que ela sempre temeu por ter vivido esse sentimento na infância. Todos os seus traumas voltavam à superfície e a deixavam ainda mais triste e arredia. Ambos não conseguiam encontrar uma saída para a crise que estavam vivendo, e não compreendiam que eles próprios tinham culpa no que estava acontecendo. Sara tirou suas coisas do apartamento de Grissom em um dia de folga, enquanto ele não estava, e as levou de volta para seu pequeno apartamento, seu canto, seu lar... À noite, ele foi até lá. Precisava falar com ela, ainda que acabassem discutindo. Mas a amava, isso era certo, como ela o amava. Quem sabe não se entendiam dessa vez?

SS: Gil?
GG: Posso entrar?
SS: Ãh... está bem.
GG: Você pegou suas coisas do meu apartamento, não foi?
SS: É, eu estive lá. Aqui está a chave.

Grissom pegou e continuou sério. Aliás, não havia alegria nem motivo de sorrisos nas feições dos dois. Apenas dor e mágoa. O fim de um amor era por demais triste. Sara estava sofrendo mais do que ele pelo fato de sempre o ter amado e ter guardado esse amor no peito por tantos anos. Os dois, frente a frente, como se fossem dois estranhos. Eles, que foram tão amantes em outros momentos, agora se olhavam com mágoa e ressentimentos. Principalmente por parte dela.

SS: Acho que você já sabe porque fiz isto, né?
GG: Bom, eu entendo que você esteja magoada com certas coisas que andaram acontecendo, mas quero dizer que também estou magoado. Acho que você cobrou demais de mim, e eu não estava preparado para isso.
SS: Você não estava preparado era para ser amado, Griss! Na verdade, penso que eu era seu maior empecilho. Talvez minha chegada em sua vida tenha estragado seus planos, e isso fez com que você se tornasse ainda mais frio comigo. Mas agora estou indo embora de sua vida, e de Vegas também. Vai ficar tudo bem, estou certa disso.
GG: Não foi minha intenção tê-la tratado de maneira fria, Sara. Acho que não sou homem de relacionamentos duradouros. Mas não quero que vá embora, eu preciso de você no lab.
SS: Eu nunca fiz falta no lab, Grissom. Você tem excelentes csi’s, não precisa de uma subordinada complicada feito eu.
GG: Sabe que não há ninguém como você. Além disso, é minha csi preferida.
SS: Não quero ser csi favorita de ninguém. Preferia ser a mulher de sua vida. Mas se nosso caso não deu certo, paciência.

Os olhos da perita estavam marejados e ela segurava com dificuldade o choro.

GG: Sara... vamos tentar de novo... eu prometo ser um homem melhor pra você!
SS: Por favor, Griss, não vamos tornar isso ainda mais difícil. Já está sendo dolorosa demais essa despedida.
GG: Então vou respeitar sua decisão. Se algum dia quiser falar sobre isso novamente, estarei aqui pra te ouvir. Adeus, então.

Sara não conseguiu dizer adeus a Grissom, e assim que ele saiu, chorou feito uma menina. Desta vez não haveria as mãos dele a segurar as suas quando o pranto rolasse. Desta vez era apenas uma mulher solitária e seu destino. Destino de ser sozinha. De amar sozinha... de viver sozinha... Como podia um grande amor como o de Sara e Grissom ter se desmanchado feito areia nas mãos? Como um sentimento tão profundo que eles viveram ter se transformado em mágoa? Como dizer adeus a quem tanto se ama? Nem Sara tampouco Grissom tinha essa resposta. Eles teriam de descobrir, por si mesmos, longe um do outro, a importância do outro na vida de cada um, e que um amor como o deles não se acaba assim. Enquanto separava as roupas no guarda-roupa, Sara ia se lembrando dos momentos que vivera com Grissom: do primeiro olhar ao primeiro beijo; da primeira transa à primeira discussão. Soluçou ao se lembrar de como seu coração bateu forte ao vê-lo a sua frente, de como se sentiu quando ele a olhou de uma maneira diferente, de como foi ao céu quando estava nos braços dele, tendo o corpo dele encima do dela... ouvindo palavras doces e carinhosas, causando sensações que nunca haverá sentido como qualquer outro homem. “Onde foi que eu errei para que tudo acabasse assim?”, pensou a perita, lamentando tudo. Entre suas roupas no guarda-roupa, Sara encontrou algumas peças que pertenciam a Grissom. Algumas camisas, meias e cuecas, impecavelmente limpas, passadas e cheirosas. Como tudo que fazia para ele, sempre com capricho. Ao pensar que, daquele momento em diante, ele estaria livre para se envolver com outra mulher – Lady Heather, por exemplo -, a bela chorava ainda mais. Evidentemente que o amava, mas a situação havia chegado a um ponto que continuar seria quase uma loucura. Agora iria de volta para São Francisco, sua cidade, onde um dia tivera um lar, ainda que não tenha sido o melhor deles. Mas agora, sozinha, longe de Vegas, teria ar para respirar novos horizontes, novas oportunidades – afinal, era muito qualificada, empregos bons não lhe faltariam. Romântica como era, Sara pôs uma coletânea para tocar no cd-player; a música que começara a tocar não poderia ter sido mais endereçada.

“... Porque é que tem que ser assim?
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil auto-falantes
Vão poder falar por mim...
...
Tô louco pra te ver chegar
Tô louco pra te ter nas mãos
Deitar no teu abraço
Retomar o pedaço
Que falta no meu coração...
Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo
Por que? Por que?...”

Assim era o amor entre Sara e Grissom: à espera de momentos que se tornariam únicos, como sempre eram quando juntos. Mas, de repente, brigas, discussões e crises de ciúme e de idade tomaram o lugar onde só havia paz, tranqüilidade e felicidade. Sara, com suas crises de ciúme – com sua dose de razão, porque Grissom era observado de perto por uma certa dominatrix que tinha intenções para com ele – e Grissom com crises de idade beirando ao ridículo – por mais que amasse Sara, ele não se conformava com os 15 anos de diferença entre eles. Achava que ela não iria suportá-lo quando mais velho e entendia que essa diferença atrapalhava o ritmo do romance – até mesmo na cama, porém, juntos, os dois sempre foram mais fortes que qualquer cisma, que qualquer bobagem que pudesse arruinar o amor deles. Isto quando estavam juntos – separados, tudo se tornava ruim, o fardo se tornava mais pesado, um pequeno problema se tornava quase impossível de se 
resolver. E agora, distantes fisicamente, a dor seria ainda maior e insuportável. Naquela noite, Sara se recordou de um momento dos dois. 

* Flashback * 
 
Juntos no apartamento dele, a sós, depois de mais uma longa e intensa noite de amor, abraçados, nus, os amantes trocavam confidências.

GG: Eu te amo que nem sei como pode haver alguém que ame assim...
SS: Eu também te amo, Gil! Obrigada por me fazer tão feliz.
GG: Em seu corpo encontro a paz que preciso para trabalhar melhor, me concentrar mais, enfim... seu amor me faz melhor a cada dia.
SS: O amor tem dessas coisas. Só ele tem o dom de tornar eterno tudo aquilo que ele toca. Se ele tocou seu coração, ele sempre estará ardente de amor, assim como o meu está desde que te conheci.

Grissom sorriu e beijou Sara. Os dois ali, naquela enorme cama, fazendo amor, entregando-se, desejando-se, suspirando, eram uma prova de que o verdadeiro amor ainda existia. 

* Fim do flashback *

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

0 comentários:

Postar um comentário