O relacionamento de Grissom e Sara não
andava nada bem. Discussões tolas e sem motivos mais contundentes estavam se
tornando rotina, e já não havia tanto prazer no sexo, quando ele acontecia.
Para fugir da realidade, Grissom mergulhava de cabeça no trabalho, não
deixando, assim, espaço para Sara jogar suas mágoas e frustrações na mesa.
Queria escapar das palavras duras da perita, pois sabia o quão magoada ela
andava e certamente tinha muito o que dizer. Preferia manter-se à distância,
não saber o que ela tinha a dizer, mesmo que não fosse nada do que imaginava. Por outro lado, Sara sentia-se abandonada
em seu amor, em sua dor. Detestava quando Grissom entrava em seu mundo e não se
abria. Era como se falasse às paredes, e pelo visto elas eram melhores ouvintes
do que ele. A perita estava se sentindo perdida, carente e, internamente,
rejeitada, o que ela sempre temeu por ter vivido esse sentimento na infância.
Todos os seus traumas voltavam à superfície e a deixavam ainda mais triste e
arredia. Ambos não conseguiam encontrar uma saída
para a crise que estavam vivendo, e não compreendiam que eles próprios tinham
culpa no que estava acontecendo. Sara tirou suas coisas do apartamento de
Grissom em um dia de folga, enquanto ele não estava, e as levou de volta para seu
pequeno apartamento, seu canto, seu lar... À noite, ele foi até lá. Precisava falar
com ela, ainda que acabassem discutindo. Mas a amava, isso era certo, como ela o
amava. Quem sabe não se entendiam dessa vez?
SS: Gil?
GG: Posso entrar?
SS: Ãh... está bem.
GG: Você pegou suas coisas do meu
apartamento, não foi?
SS: É, eu estive lá. Aqui está a chave.
Grissom pegou e continuou sério. Aliás, não
havia alegria nem motivo de sorrisos nas feições dos dois. Apenas dor e mágoa.
O fim de um amor era por demais triste. Sara estava sofrendo mais do que ele
pelo fato de sempre o ter amado e ter guardado esse amor no peito por tantos
anos. Os dois, frente a frente, como se fossem dois estranhos. Eles, que foram
tão amantes em outros momentos, agora se olhavam com mágoa e ressentimentos.
Principalmente por parte dela.
SS: Acho que você já sabe porque fiz isto,
né?
GG: Bom, eu entendo que você esteja magoada
com certas coisas que andaram acontecendo, mas quero dizer que também estou
magoado. Acho que você cobrou demais de mim, e eu não estava preparado para
isso.
SS: Você não estava preparado era para ser
amado, Griss! Na verdade, penso que eu era seu maior empecilho. Talvez minha
chegada em sua vida tenha estragado seus planos, e isso fez com que você se
tornasse ainda mais frio comigo. Mas agora estou indo embora de sua vida, e de
Vegas também. Vai ficar tudo bem, estou certa disso.
GG: Não foi minha intenção tê-la tratado de
maneira fria, Sara. Acho que não sou homem de relacionamentos duradouros. Mas
não quero que vá embora, eu preciso de você no lab.
SS: Eu nunca fiz falta no lab, Grissom.
Você tem excelentes csi’s, não precisa de uma subordinada complicada feito eu.
GG: Sabe que não há ninguém como você. Além
disso, é minha csi preferida.
SS: Não quero ser csi favorita de ninguém.
Preferia ser a mulher de sua vida. Mas se nosso caso não deu certo, paciência.
Os olhos da perita estavam marejados e ela
segurava com dificuldade o choro.
GG: Sara... vamos tentar de novo... eu
prometo ser um homem melhor pra você!
SS: Por favor, Griss, não vamos tornar isso
ainda mais difícil. Já está sendo dolorosa demais essa despedida.
GG: Então vou respeitar sua decisão. Se
algum dia quiser falar sobre isso novamente, estarei aqui pra te ouvir. Adeus,
então.
Sara não conseguiu dizer adeus a Grissom, e
assim que ele saiu, chorou feito uma menina. Desta vez não haveria as mãos dele
a segurar as suas quando o pranto rolasse. Desta vez era apenas uma mulher
solitária e seu destino. Destino de ser sozinha. De amar sozinha... de viver sozinha... Como podia um grande amor como o de Sara e
Grissom ter se desmanchado feito areia nas mãos? Como um sentimento tão
profundo que eles viveram ter se transformado em mágoa? Como dizer adeus a quem
tanto se ama? Nem Sara tampouco Grissom tinha essa
resposta. Eles teriam de descobrir, por si mesmos, longe um do outro, a
importância do outro na vida de cada um, e que um amor como o deles não se
acaba assim. Enquanto separava as roupas no
guarda-roupa, Sara ia se lembrando dos momentos que vivera com Grissom: do
primeiro olhar ao primeiro beijo; da primeira transa à primeira discussão.
Soluçou ao se lembrar de como seu coração bateu forte ao vê-lo a sua frente, de
como se sentiu quando ele a olhou de uma maneira diferente, de como foi ao céu
quando estava nos braços dele, tendo o corpo dele encima do dela... ouvindo
palavras doces e carinhosas, causando sensações que nunca haverá sentido como
qualquer outro homem. “Onde foi que eu errei para que tudo acabasse assim?”, pensou a perita, lamentando tudo. Entre suas roupas no
guarda-roupa, Sara encontrou algumas peças que pertenciam a Grissom. Algumas
camisas, meias e cuecas, impecavelmente limpas, passadas e cheirosas. Como tudo
que fazia para ele, sempre com capricho. Ao pensar que, daquele momento em
diante, ele estaria livre para se envolver com outra mulher – Lady Heather, por
exemplo -, a bela chorava ainda mais. Evidentemente que o amava, mas a situação
havia chegado a um ponto que continuar seria quase uma loucura. Agora iria de
volta para São Francisco, sua cidade, onde um dia tivera um lar, ainda que não
tenha sido o melhor deles. Mas agora, sozinha, longe de Vegas, teria ar para
respirar novos horizontes, novas oportunidades – afinal, era muito qualificada,
empregos bons não lhe faltariam. Romântica como era, Sara pôs uma coletânea
para tocar no cd-player; a música que começara a tocar não poderia ter sido
mais endereçada.
“... Porque é que tem que
ser assim?
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil auto-falantes
Vão poder falar por mim...
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil auto-falantes
Vão poder falar por mim...
...
Tô louco pra te ver chegar
Tô louco pra te ter nas mãos
Deitar no teu abraço
Retomar o pedaço
Que falta no meu coração...
Tô louco pra te ter nas mãos
Deitar no teu abraço
Retomar o pedaço
Que falta no meu coração...
Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo
Por que? Por que?...”
Assim era o amor entre Sara
e Grissom: à espera de momentos que se tornariam únicos, como sempre eram
quando juntos. Mas, de repente, brigas, discussões e crises de ciúme e de idade
tomaram o lugar onde só havia paz, tranqüilidade e felicidade. Sara, com suas
crises de ciúme – com sua dose de razão, porque Grissom era observado de perto
por uma certa dominatrix que tinha intenções para com ele – e Grissom com
crises de idade beirando ao ridículo – por mais que amasse Sara, ele não se
conformava com os 15 anos de diferença entre eles. Achava que ela não iria
suportá-lo quando mais velho e entendia que essa diferença atrapalhava o ritmo
do romance – até mesmo na cama, porém, juntos, os dois sempre foram mais fortes
que qualquer cisma, que qualquer bobagem que pudesse arruinar o amor deles.
Isto quando estavam juntos – separados, tudo se tornava ruim, o fardo se
tornava mais pesado, um pequeno problema se tornava quase impossível de se
resolver. E agora, distantes fisicamente, a dor seria ainda maior e insuportável. Naquela noite, Sara se recordou de um momento dos dois.
resolver. E agora, distantes fisicamente, a dor seria ainda maior e insuportável. Naquela noite, Sara se recordou de um momento dos dois.
* Flashback *
Juntos no apartamento dele,
a sós, depois de mais uma longa e intensa noite de amor, abraçados, nus, os
amantes trocavam confidências.
GG: Eu te amo que nem sei
como pode haver alguém que ame assim...
SS: Eu também te amo, Gil!
Obrigada por me fazer tão feliz.
GG: Em seu corpo encontro a
paz que preciso para trabalhar melhor, me concentrar mais, enfim... seu amor me
faz melhor a cada dia.
SS: O amor tem dessas
coisas. Só ele tem o dom de tornar eterno tudo aquilo que ele toca. Se ele
tocou seu coração, ele sempre estará ardente de amor, assim como o meu está
desde que te conheci.
Grissom sorriu e beijou
Sara. Os dois ali, naquela enorme cama, fazendo amor, entregando-se,
desejando-se, suspirando, eram uma prova de que o verdadeiro amor ainda
existia.
* Fim do flashback *
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