Mas agora todos aqueles
momentos de felicidade que tiveram pareciam se evaporar como fumaça, restando
apenas as lembranças... lembranças estas que os acompanhariam onde quer que
fossem, deixando marcas profundas e impossíveis de serem arrancadas. Porque as
marcas não estavam no corpo; estavam na alma e no coração – e ali nada nem
ninguém consegue extinguir. Na manhã seguinte, os
opostos: Sara ia para o aeroporto e Grissom, para o lab. Mas ambos traziam
tristeza no olhar. Ambos traziam a dor de um doloroso fim. Enquanto ela voava rumo a São
Francisco, ele chegava ao lab. Com expressão séria, para esconder a tristeza.
Mas Catherine, amiga de tanto tempo e conhecedora do romance dos dois amigos,
percebeu que ele estava triste, amuado, macambúzio.
CW: Quer falar sobre isto?
GG: Sobre o quê, Catherine?
CW: Sua tristeza.
GG: Não estou triste.
CW: Olha, Gil, você pode esconder seu
romance com Sara de todo mundo, eu entendo. Mas de mim você não tem que
esconder nada. Sou sua amiga e você sabe muito bem que pode contar comigo.
Aconteceu alguma coisa que o deixou infeliz. O que foi?
GG: Sara e eu terminamos.
CW: Como é?
GG: É o que você acabou de ouvir.
CW: Mas vocês falavam desse amor com tanta
alegria, diziam com toda a certeza de que iria durar para sempre...
GG: Pra você ver que nada é pra sempre, nem
meu relacionamento com Sara...
CW: Você não a ama mais, é?
Grissom não respondeu. Permaneceu calado,
sem encarar a loira.
CW: Ama ou não?
GG: Prefiro não falar desse assunto,
Catherine. Está sendo muito doloroso pra mim. Vamos trabalhar, que é o melhor a
fazer, sim?
CW: Está bem. Mas caso queira conversar, me
procure.
GG: Pode deixar.
Depois que Catherine saiu, pegou o celular
e ligou para alguém.
GG: Sou eu. Estou péssimo, será que
poderíamos conversar esta noite? Ok, eu passo aí.
Depois que desligou o aparelho, o
supervisor, cabisbaixo, abriu a gaveta e pegou uma foto de Sara que estava por
lá. Olhou para ela e deu um suspiro. Ela estava presente em tudo que ele
olhasse, querendo ou não. Ainda não se conformava com a decisão de Sara de terminar
a relação, mesmo estando em crise. Mas, sabendo o quão decidida ela era, não
teve outra escolha senão acatar. E estava se sentindo carente. Estava mais
que acostumado a carinhos e uma mulher em sua cama, ou melhor, ter seu amor em
sua cama. Dormir sozinho fora a coisa mais difícil que fizera depois do fim. E
Grissom queria aliviar as tensões. E foi procurar consolo na casa de uma velha
amiga.
LH: Gil? Você por aqui?
GG: Posso entrar?
LH: Claro. Fique à vontade.
Grissom adentrou-se à casa da dominatrix,
que o olhava com curiosidade.
LH: Aconteceu alguma coisa pra você estar
aqui à essa hora?
Depois que sentou-se no sofá, o supervisor
confessou:
GG: Sara terminou o relacionamento comigo.
LH: Como é?
GG: Nós estávamos em crise, ela estava
tendo ciúmes excessivos, e aquilo foi desgastando, acho.
LH: E você não contribuiu com nada?
GG: Eu?
LH: É. Você não fez nada para que Sara se
sentisse mal a ponto de terminar seu relacionamento?
GG: Não que eu me lembre. Nós sempre
conversamos sobre as coisas que nos incomodavam. Mas desta vez a coisa detonou
de vez.
LH: Eu sinto muito. Quer um chá para
relaxar?
GG: Sim, por favor.
LH: Vou buscar. Enquanto isso, relaxe no
sofá e tente esquecer os problemas, principalmente o que o aflige.
Sozinho na sala, Grissom inevitavelmente
pensou em Sara. Tentava saber onde errara para fazer com que ela desse um ponto
naquele amor que era tão grande. Mas por outro lado, também tinha suas mágoas e
estava muito chateado com aquilo tudo. Por isso procurara Heather, ela era uma
mulher compreensiva e saberia lhe ajudar a achar um caminho. E apreciava muito
a companhia dela. Quando ela trouxe o chá, não hesitou em
beber. Heather percebeu que ele estava para baixo, carente, e ofereceu seu
ombro amigo.
LH: Se quiser desabafar, estou aqui.
Ao ouvir aquilo, Grissom, sabe-se lá se por
carência ou raiva, vontade de dar o troco em Sara, aproximou-se da ruiva e a
beijou. Ela ficou surpresa com o beijo, mas, como gostava de tê-lo por perto
(afinal, já tinham tido experiências na cama em outras épocas), não se fez de
rogada e correspondeu não só ao beijo como as carícias também. Naquele momento,
Grissom jogou por água abaixo toda sua história de amor com a mulher que um dia
jurara amor eterno, a quem disse ser a única em sua vida para sempre. Beijar
Heather deixava Grissom extremamente excitado, e ela percebeu na hora. E
sussurrou:
LH: Tenho preservativos no quarto, vai
querer algum?
Grissom apenas sorriu e os dois foram para
o quarto. O sexo aconteceu e ele a penetrava com força e sentindo-se “vingado”.
Durante toda a noite, o que fora de Sara até poucos dias agora estava sendo
entregue a outra mulher. Enquanto o supervisor beijava e acariciava outra
mulher em outra cama, Sara, em São Francisco, olhava pela janela a chuva que
caía na rua, e as lágrimas rolavam na face. Ela o amava, mas, no fundo de seu
coração, ela sentia que o homem a quem sempre amou, poderia estar em outros
braços para tentar esquecê-la.
Os dias se passaram e as coisas iam se
ajeitando, pelo menos aparentemente. Catherine já sabia que Grissom andava se
encontrando com Lady Heather, e achava que deveria avisar a Sara, por ser amiga
dela e por torcer tanto para que os dois ficassem juntos. O dia amanheceu frio
em São Francisco e Sara foi acordada com o toque do celular.
SS: Sidle.
CW: Olá bela adormecida!
SS: Cath?
CW: Esperava ligação de outra pessoa?
SS: Não. Aconteceu alguma coisa?
CW: Não, liguei para saber como você está.
SS: Ainda na cama...
CW: Você está bem?
SS: Estou, porque não deveria?
CW: É porque...
SS: Aconteceu algo que você não está
querendo me contar?
CW: Bom, acho que de qualquer forma você
vai acabar sabendo. Esse tipo de notícia voa longe e rápido...
SS: É sobre o Gil, não é?
CW: É. Ele está envolvido com Heather.
O coração de Sara deu um salto e bateu mais
forte. Sua intuição estava certa quando houve a mudança no relacionamento;
Grissom já devia estar de flerte com a dominatrix. Mas não deixaria Catherine
saber que aquela notícia lhe atingira feito uma flecha ao alvo, mesmo sendo sua
amiga. Não deixaria ninguém tomar conhecimento de sua dor; era somente sua, e,
como sempre fora uma mulher solitária, sofreria sozinha também. Antes que
Catherine percebesse que estava chorando, Sara desligou o celular. Naquele
momento, percebera que o fim era a sua realidade, a pior realidade para um
coração tão apaixonado como o dela. Chorou muito e lamentou o rumo que o amor
que os dois tiveram havia tomado. Mas decidiu que era a hora de virar a página,
embora o processo de esquecer Grissom fosse uma tarefa arduamente difícil,
quase impossível. Se ele havia substituído-a tão logo ela disse adeus, ela
também haveria de ter seus casos, embora tivesse a mais convicta certeza de que
não voltaria a amar como amou, e ainda amava, Grissom. Na verdade, Sara decidiu
nunca mais se apaixonar, e, disciplinada como era, conseguiria cumprir a
tarefa. Até porque, antes de Grissom, nunca amara ninguém, e antes de
reencontrá-lo em Vegas também não entregou o coração a ninguém. Seriam tudo
beijos, sexo e distração. Sentimentos, envolvimentos profundos, jamais.
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