E
assim, os dois deitaram-se abraçados e dormiram o sono dos justos, enquanto sua
casa era limpa e as marcas da morte eram retiradas de lá. Grissom dormia tão
profundamente que chegava a roncar. Sara não roncava, mas dormia seu sono
tranqüilo. Às
altas horas da madrugada...
“Sara...
ele vai voltar... cuidado... tome muito cuidado... cuide do Jack por mim...”
Na
manhã seguinte, Sara acordou com o choro do bebê, que estava faminto.
GG:
O que ele tem?
SS:
Provavelmente fome. Bebês choram quando estão com fome, Griss.
GG:
E o que você pretende fazer?
SS:
Bom, se amamento a Milly, posso amamentar o pequeno Jack também. Tenho bastante
leite, não faltará para nossa menina.
GG:
Não poderia esperar menos de você, querida.
A
perita sorriu e, com o menino nos braços, o amamentou, sentindo, naquele
momento, a presença da irmã falecida, trazendo uma sensação de alívio ao seu
coração. Enquanto o menino sugava o leite, Sara
comentou com o marido:
SS:
Griss, sonhei com Rachel esta noite.
GG:
É? E como foi?
SS:
Eu não a vi, mas pude ouvir sua voz nitidamente, como se ela estivesse ao meu
lado.
GG:
Foi apenas um sonho, querida. Não se preocupe com isso.
Sara
pediu que Catherine ficasse com os dois bebês para que ela pudesse enterrar a
irmã, no que a loira aceitou de prontidão. Grissom
e a mulher eram as poucas pessoas presentes no cemitério, mas ainda assim, a
dor de Sara não foi pequena. Naquele momento de dor, não havia mais nenhuma
lembrança ruim do encontro das duas irmãs depois de tanto tempo; nem mesmo a
existência de uma criança que era de seu próprio marido tiraria dela o carinho
que uma irmã tem pela outra. A dor e a saudade ficariam, e a imagem da irmã se
faria presente através da própria Sara, a quem o pequeno Jack veria a mãe, sem
entender que a mulher a quem olharia com ternura não era a mãe realmente. Os
dias se passaram e Sara estava se saindo muito bem no cuidado com os dois
bebês. Grissom a ajudava no que podia, fazia o máximo para que ela não tivesse
tanto trabalho, agora que teriam duas crianças para tomar conta. Mas
contrataram uma babá para auxiliá-los nos cuidados com os bebês.
Certa
tarde Sara havia saído para comprar coisas para os bebês. Grissom ficara em casa com os filhos e a
babá. Ele estava na sala, lendo um relatório quando recebeu um telefonema de
Brass:
GG:
Grissom.
JB:
Gil, conseguimos identificar a pessoa que aparece nas imagens que a câmera do
poste mostrou.
GG:
E quem é o sujeito?
JB:
John Owens, ex-marido de Rachel Owens.
GG:
Me surpreendeu pelo fato de ele tê-la apoiado quando ela foi desmascarada.
JB:
E ele ter ido até sua casa também não é nada bom. Se ele matou a própria
esposa, pode estar querendo acabar com a vida da gêmea dela. Acho que para não
ficar vendo Rachel a todo instante, penso.
GG:
Isto significa que Sara corre perigo. Preciso cuidar da segurança dela, mas não
gostaria de alarmá-la, por causa das crianças.
JB:
Oras, Gil, Sara sempre foi uma CSI de fibra e coragem. Ela não ficará morrendo
de medo quando souber da verdade. Você precisa deixá-la em alerta, até porque
não sabemos onde o sujeito se encontra.
GG:
Sei disso, Brass. De qualquer forma, preciso proteger meus filhos. Eles são
alvos fáceis.
JB:
Manterei contato com você. Cuide-se!
Assim
que desligou, Grissom ligou para o celular de Sara.
SS:
O que foi, Griss?
GG:
Onde você está, honey?
SS:
Acabei de comprar as coisas e já estou indo pra casa. Daqui a pouco estou
chegando. Aconteceu alguma coisa?
GG:
Em casa a gente conversa. Estarei te esperando.
Sara
desligou o celular e ligou o carro. Na estrada, dirigia tranquilamente, até que
um carro fechou o dela. Ao olhar para o lado, viu que era o ex-marido de sua
irmã, que a olhava com maldade nos olhos. Não iria deixar que ele fizesse com
ela o que fizera com Rachel, e jogou o carro para cima do dele. Os dois
travaram uma luta em plena rodovia. E foi assim até eles saírem da estrada e
entrarem em uma estrada perto da floresta. John Owens empurrou o carro de Sara
ribanceira abaixo, fazendo com que ela parasse entre as árvores.
A
perita machucou a cabeça ao batê-la no vidro do carro, mas conseguiu sair do
veículo. Zonza e sentindo fortes dores na cabeça que já estava escorrendo
sangue, Sara ainda teve o desprazer de dar de cara com o maquiavélico assassino
de sua irmã, apontando uma arma para ela.
JO:
Matei uma e agora tenho a outra à minha frente, prontinha para ter o mesmo fim
da irmã. Não é uma triste coincidência?
SS:
Você não conseguirá acabar comigo, seu maldito! E vai pagar pelo que fez com
minha irmã.
JO:
Ah é? E como? Saindo correndo daqui? Oras, você não tem como escapar!
Enquanto
ouvia o que o assassino dizia, a perita maquinava uma maneira de sair dali com
vida, ou evitar que ele atirasse nela. Levantou a sobrancelha e fez com que ele
se distraísse. No que John Owens se distraiu, Sara partiu pra cima dele e os
dois lutaram de igual para igual, apesar da diferença na força física. Com o
óbvio, Sara foi dominada e ele se preparava para enforcá-la. Mas algo o impediu
de cometer mais um homicídio, de tirar a vida da Sidle remanescente. John
Owens sentiu uma força o afastar de Sara e o jogar longe, batendo as costas em
uma árvore. Sentindo um pouco de dor no pescoço por conta das mãos brutas do
ex-cunhado, Sara tossiu e levantou-se lentamente. Não entendeu como ele foi
parar na árvore desacordado, sendo que não havia ninguém por ali. Rodou olhando
cada canto do local onde estava e não viu ninguém. Ainda sentindo a pancada na
cabeça por conta da batida, a perita caminhou até o carro amassado na frente e
procurou pelo celular. Assim que o encontrou, tentou ligar para Grissom. Para
sua sorte, não estava fora de área, então conseguiu completar a ligação.
GG:
Grissom.
SS:
Sou eu, querido.
GG:
Onde você está, Sara?
SS:
Numa floresta perto da rodovia.
GG:
Como?
SS:
John Owens veio me perseguindo na highway até jogar meu carro numa ribanceira.
Pra minha sorte, não era íngreme o morro, mas meu carro bateu em uma árvore e
eu bati a cabeça.
GG:
Ele está por perto?
SS:
Não sei explicar, mas ele foi jogado longe e bateu a cabeça em uma árvore. Pode
ser que ele acorde logo. Por favor, chame o Brass o mais rápido que puder.
GG:
Estou indo praí. Tente se proteger usando alguma coisa, caso ele queira te
atacar.
SS:
Não se preocupe.
Grissom
deixou as crianças na casa de uma vizinha que era muito amiga do casal e foi
com Brass e os policiais até o local onde Sara descreveu. John Owens fora
ferido novamente, desta vez por Sara, para se defender do ataque do assassino
de sua irmã. Ao
ver a mulher, Grissom foi direto a ela. Abraçou-a como se tivesse dias que não
a via.
GG:
Está tudo bem, querida?
SS:
Estou.
GG:
Ele te atacou?
SS:
Tentou, mas eu dei uns cascudos nele...
GG:
Você é muito valente. É uma das coisas que admiro em você. Vamos até o Brass.
Os
dois foram até o capitão de polícia, que interrogava o criminoso.
JB:
Pensou que sairia bem nessa história, mas não contava com a esperteza da gêmea
da mulher que você matou. Uma você conseguiu liquidar, duas seria impossível.
Agora vai ficar o resto da vida atrás das grades para não fazer mal à Sara e ao
filho da mulher a qual você tirou a vida cruelmente. Podem levá-lo.
John
Owens foi algemado, e antes de partir, olhou fixamente para Sara, e viu não
apenas uma mulher, mas duas. Rachel estava ao lado da irmã, e apenas o
criminoso a viu, o que o fez gritar dizendo que estava ficando maluco. Ninguém
entendeu nada. Dois
meses se passaram e não houve mais nenhuma anormalidade na rotina do casal.
John Owens foi julgado e, como era previsto, pegou pena perpétua. Sara, ao
saber o resultado, suspirou aliviada. O
homem que tirara a vida de sua irmã gêmea não teria mais liberdade para viver
enquanto a mãe do pequeno Jack estava presa em uma sepultura fria e solitária.
O menino e Milly cresciam saudáveis e espertos. Grissom amava os dois filhos, e
Sara não fazia distinção entre eles. Agora Jack era seu filho também. Numa
noite chuvosa, Sara dormia tranquilamente. Grissom também dormia o sono dos
justos, e a casa mergulhava em um profundo silêncio, tendo apenas a chuva como
barulho.
RS:
Você fez um bom trabalho, Sara!
SS:
Acha mesmo?
RS:
Graças à sua inteligência e esperteza, John está preso e condenado. Agora posso
ir em paz, sabendo que meu filho e você estão seguros. Obrigada por tudo.
SS:
Não se vá ainda. Tenho tantas coisas a lhe dizer...
RS:
Meu tempo aqui na Terra acabou, Sara. É hora de dizer adeus.
A
perita não conseguiu segurar as lágrimas.
SS:
Isto significa que nunca mais nos veremos, não é?
RS:
Um dia nos reencontraremos. Mas sua missão ainda não acabou, você tem uma
família linda para cuidar, cara irmã. E Jack agora é seu filho, cuide muito bem
dele.
SS:
Eu cuidarei.
RS:
Me perdoe por ele existir.
SS:
Já disse, está tudo bem.
RS:
Que bom agora sinto-me em paz de verdade. Bem, agora preciso ir, Sara. Até um
dia.
SS:
Até...
Rachel
sorriu e acenou para a irmã, que tentava a todo custo segurar as lágrimas, mas
elas eram mais fortes. E assim, em um momento de emoção, as duas irmãs, que
passaram a vida separadas, estavam se separando em definitivo. Agora estariam
em mundos diferentes; longe dos olhos, mas perto do coração. Sara
acordou no meio da noite aos prantos, e Grissom se assustou, indo de socorro à
mulher:
GG:
O que foi, honey?
SS:
Acabei de sonhar com Rachel.
GG:
Mas o que aconteceu que a fez chorar?
SS:
Ela estava se despedindo de mim. Era tudo tão real que parecia senti-la aqui
comigo.
GG:
Fique calma – ele a abraçou para tranqüilizá-la.
SS:
Ela me disse adeus.
GG:
A morte não existe, querida. Vocês estarão sempre ligadas pelo Jack e pelo
sangue.
SS:
Eu sei.
GG:
Venha, deite em meus braços.
Sara
se ajeitou nos braços do amado, que delicadamente, enxugou as lágrimas que
rolavam na face dela. A perita sentiu o quanto Grissom a amava, e assim
adormeceu sentindo uma paz no coração. O
tempo passou e Milly e Jack já davam seus primeiros passos sozinhos pela casa.
Grissom registrava tudo, em fotos e vídeos. Sara
passou de “mãe emprestada” a mãe de verdade do menino. Ela
o amava tanto quanto sua filha biológica. E quando ele disse a primeira
palavrinha, “mamãe”, ela soube que o amaria para sempre e que sua irmã estaria
muito feliz sabendo que seu filho não perdeu a imagem da mãe para sempre. Ainda
que Sara não fosse a mãe real, era a imagem da mãe do pequeno. Contudo, mesmo
que não fosse gêmea da mãe de Jack, o menino veria nela uma mãe, porque ela o
amava. Assim é o amor de mãe: não difere filho biológico do não-biológico. E no
coração de Sara, assim como no coração de uma mãe de verdade, sempre haveria
espaço para mais um. Jack teria esse lugar para sempre, como mais um filho para
a mãe amar.
Fim
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