Sara
entrou na sala de Grissom um pouco apressada e ansiosa:
SS:
Vim me despedir.
GG:
O quê?!
SS:
Estou saindo de férias. Tenho tantos meses acumulados, ando tão estressada, que
me dei o direito de tirar 30 dias de descanso.
GG:
Não estou entendendo direito... – ele tentou disfarçar ao máximo a
perplexidade.
SS:
Já falei com Ecklie, agora estou vindo falar com você. Preciso que assine
minhas férias.
GG:
Tem certeza disso, Sara? Você sempre foi tão...
SS:
Workaholic?
GG:
Não era isso o que eu dizer, mas dá no mesmo.
SS:
Você não sabe que todos têm direito a férias?
GG:
Não estou discutindo isso, Sara...
SS:
Então porque você simplesmente não assina o papel para que eu possa sair de
férias já?
GG:
Vou fazer isso.
Grissom,
a contragosto, assinou o papel e o entregou à perita, sua subordinada
mais-que-preferida.
GG:
Ãh... posso fazer uma pergunta?
Sara
deu um sorrisinho atrevido.
SS:
Pode.
GG:
Quanto tempo pretende ficar de férias?
SS:
Os 30 dias a que tenho direito. Porque, algum problema?
GG:
Não, nenhum. Tenha boas férias.
SS:
Obrigada.
Os
dois ainda se olharam por mais alguns segundos, que pareceram uma eternidade, até
que Sara se lembrou que tinha de ir.
SS:
Bom... vou me despedir do pessoal e depois vou pra casa arrumar minha mala. A
gente se vê na volta...
GG:
Faça uma boa viagem.
SS:
Obrigada.
Depois
que a perita saiu, Grissom ficou perdido em pensamentos. Ele a queria, queria
mais do que podia, do que devia; era amor, isso ele tinha certeza.
E agora ela
ia sair de férias. Durante 30 dias. 30 dias de tédio ele teria!
Sim, porque com
ela no lab, as coisas eram mais agradáveis, mais leves, mais... bonitas... Ele
adorava ver aquele olhar sério e compenetrado de Sara quando estava concentrada
no trabalho, sentia-se bem estando perto dela, e sem a presença dela durante 30
dias, tudo seria insuportável. O jeito seria armar-se de muita paciência e
torcer para o mês correr rápido. Enquanto
ele permanecia macambúzio em sua sala, Sara despedia-se dos amigos.
GS:
Então você vai nos deixar, hein?
SS:
Por 30 dias apenas. Logo estarei de volta.
CW:
E porque vai sozinha?
SS:
Porque estando sozinha terei mais liberdade. Além disso, quem eu levaria?
CW:
Eu não sei... você mesma não sabe?
SS:
Eu? Não... quer dizer... não mesmo!
Catherine
sorriu, divertida com a expressão de agonia da companheira de trabalho. Ela
tinha uma quase certeza de que a perita nutria uma paixão por Grissom, e que
ele também sentia algo por ela. Falou daquela maneira para ver se Sara se
entregaria. Mas foi por pouco. Depois das despedidas, a perita seguiu para seu
apartamento. Olhar para a solidão daquele lugar a deixava agoniada.
Como
gostaria de ter alguém para aconchegá-la nos braços em sua cama que era macia e
espaçosa... esse alguém só podia ser um: Gilbert Grissom!
Ela o amava há tanto
tempo, mantinha esse amor sufocado no peito por anos, e temia não conseguir
mais guardá-lo, podendo fazê-lo escapar do controle.
Enquanto
pensava nisso e em outras coisas, arrumava impecavelmente sua mala, para ir
cedo para o aeroporto. Havia tanto tempo que não tinha férias que resolveu
fazer a festa: iria para a Europa! Sozinha, mas iria. Iria passar por três
países: França, Áustria e Itália. Depois de arrumar suas coisas, foi tomar um
banho, depois jantar para enfim dormir. No dia seguinte iria ganhar asas para a
liberdade. Naquela
noite, Grissom teve dificuldades para dormir. As férias (merecidas, diga-se de
passagem) de Sara o estavam perturbando.
Mas que diabos, ela tinha todo o
direito de tirar uns dias de folga para descansar... ele não era seu namorado,
nem dormia com ela... não tinha porque ficar imaginando coisas. Se Sara
conhecesse algum estrangeiro (porque ele não tinha a menor idéia para onde ela
estava indo), Grissom não tinha motivo algum para ficar se roendo de ciúmes. Um
homem sério e dedicado ao trabalho como ele não poderia ficar emocionalmente
abalado por qualquer coisa.
Qualquer coisa o caramba! Aquela
que estava saindo de férias era a mulher pela qual Gilbert Grissom nutria uma
paixão, platônica, mas intensa. Intensa o bastante para fazê-lo ter pensamentos
um tanto quanto ridículos até. Ele era até muito acomodado com relação ao que
sentia por ela; amava-a em silêncio, e isso bastava. Ela não percebia que ele a
desejava, e ele não tinha certeza do que ela sentia por ele. Vez
ou outra, quando os olhos se cruzavam, Grissom parecia ler a mente de Sara, mas
ficava sempre no “quase”. Mas agora, com ela indo pra longe, livre e solta em
plenas férias, o supervisor pegou-se sentindo ciúmes. Depois
que o dia raiou e Grissom seguiu para uma cena de crime, avisado pelo celular
por Brass, em determinado momento imaginou Sara voando para alguma conexão
ainda em solo americano. Ela iria descer em Nova York para pegar o avião rumo a
Paris. Naquele momento de pensamentos soltos e distantes do supervisor, Sara
sobrevoava o Estado do Illinois, após sobrevoar quatro outros Estados em pouco
mais de 4 horas de vôo (Utah, Colorado, Kansas e Missouri). O
dia para Grissom demorou a passar. Se ele já estava chateado com a ausência da
perita preferida, com a lentidão do tempo, seu humor piorou. A noite veio e a
solidão incomodava. Apesar de ser um homem acostumado a ser e estar sozinho,
lembrar que sua paixão se encontrava longe entristecia seu coração. Sabia que a
hora de tomar uma decisão definitiva havia chegado, mas ele, mais uma vez,
estava atrasado. Se quisesse abrir o coração para Sara, deveria esperar pelo retorno
dela, quando ela bem quisesse. Mas
algo acalmou sua angústia: uma mensagem em seu celular. O supervisor preparava
um café quando escutou o toque nada discreto do celular mandando aviso de
mensagem nova. Ao ver de quem era, o coração deu um salto.
“Griss,
já estou em Nova York, mas o vôo vai atrasar porque está caindo uma tremenda
tempestade por aqui. Já estou com saudades... de todos... e de você também.
Sara”. Ela estava com saudades! E dele também! Ele abriu o sorriso, sentindo
que Sara estava pensando nele. Naquele momento, Grissom começou a ter uma
sensação de que poderia, enfim, se livrar dos medos tolos e se declarar à
mulher amada. Antes que fosse tarde. Antes que algum europeu se engraçasse com
ela. Por outro lado, o supervisor não fazia idéia da profundidade do amor de
Sara por ele, nem sequer imaginava que a viagem que ela estava fazendo era uma
forma de chamar sua atenção, quem sabe, uma saudade...
Inconscientemente,
ela conseguiria seu objetivo: ele estava louco de saudades, mesmo com apenas
algumas horas de ausência de Sara. Ele estava vendo o quanto era ruim ficar
longe de quem se ama, e seu coração lhe dizia que assim que Sara retornasse ele
deveria se declarar. Os
dias foram se passando e nenhuma noticia de Sara. Nenhum e-mail. Nenhum telefonema.
“Que diabos esta mulher está fazendo que não liga ou manda um e-mail com
notícias?
Quer dizer, não sou seu namorado, mas me preocupo. Se eu soubesse
exatamente onde ela está, era bem capaz de ir até lá...”, pensou o supervisor,
enquanto lia um relatório em sua sala.
CW:
Posso entrar? – disse Catherine, repentinamente, da porta da sala.
GG:
Ãh?
CW:
Levou susto?
GG:
Sim. Estava concentrado aqui. O que você quer?
CW:
Teve alguma notícia de Sara?
GG:
Não, porque?
CW:
Pensei que ela daria alguma notícia. A gente não sabe o que pode acontecer...
GG:
Ela é adulta, Catherine, sabe se cuidar.
CW:
Ela sabe. E você?
GG:
Eu? Do que está falando?
A
loira pensou em falar sobre o que pensava do amor platônico dos dois, que eles
não admitiam o que sentiam um pelo outro, mas se lembrou que Grissom costumava
dar respostas ácidas quando se via contra a parede.
CW:
Esquece. Vou ajudar o Warrick com a perícia no carro.
Grissom
observou Catherine indo ao longe e suspeitou que ela sabia de algo mas que, por
algum motivo, não quis contar. Enquanto ele seguia sua rotina repleta de tédio,
Sara observava as luzes de Paris no cair da noite, sentada em uma mesa decorada
num daqueles bares ao ar livre da cidade, com um copo de vinho na mão e o
coração batendo mais forte. O aroma de puro romance, e ela ali, sozinha,
pensando em seu amor platônico.
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