Ela sabia que, quando
Grissom se mantinha em silêncio, estava trancado dentro de si, cultivando
alguma tristeza. E quando ele se encontrava triste, agia com rispidez algumas
vezes. Certo dia, tomou coragem e lhe perguntou:
CW: Sara nunca mais deu
notícias?
GG: Não.
CW: Sei que você a ama, mas
tire essa tristeza do olhar.
GG: Eu lhe pareço triste?
CW: Sim, e muito. Se você a
ama, deve ir atrás dela.
GG: Ela não quis que eu
fosse atrás. No fundo, acho que é melhor assim.
CW: Tem certeza de que quer
isso?
GG: Vai ser melhor pra
todos. Ela não vai mais reclamar que eu não sou o mais romântico dos homens e
eu não vou precisar ouvir coisas que não quero dela. E esse assunto morreu.
CW: Ok, se você quer
assim...
Grissom amava Sara, isso
era certo. Pensava nela todos os dias, assim como o sol nascia e se punha
diariamente. Mas conforme o tempo ia passando, ele ia sufocando o amor que
tinha por ela, a ponto de fazê-lo se esconder debaixo de sua frieza e seriedade.
Os risos cessaram-se, e o homem apaixonado deu lugar novamente ao chefe sério e
completamente distante das emoções. Buscava nos braços de Heather consolo para
a solidão e tentar tirar do coração a imagem de Sara que nunca saía de lá. E
assim, entre idas e vindas, sexo sem amor e cama vazia ao despertar em seu
apartamento, Grissom foi levando a vida.
Três anos se passaram... Chovia em São Francisco.
Sara olhava da janela fechada, na sala de casa, o vai e vem dos carros na rua.
Mas seu olhar estava distante. Estava em Vegas, e seu coração acelerava mais
rápido quando trazia Grissom a seu pensamento. Estava mais séria, porém,
continuava bela, apenas com o visual um pouco diferente. Os compridos cabelos
deram lugar a um charmoso repicado, com o corte um pouco abaixo da nuca. Sara sentia muita falta do
homem por quem continuava intensamente apaixonada. Mas por dentro ainda tinha
uma mágoa por ele ter duvidado de sua palavra; mágoa essa que ficava mais fraca
com o passar do tempo, mas que ainda estava lá. Depois que retornara a São
Francisco, não se relacionara com mais ninguém.
Até porque, dentro de si,
havia o fruto de um grande amor que se perdeu na incerteza da realidade. Sara
deu à luz uma linda garotinha, a quem deu o nome de Lisie. A menina estava com
seus dois aninhos muito bem vividos. Era uma fofura e muito esperta. Tinha os
olhos azuis como os do pai, e ela mostrava toda sua curiosidade e desconfiança
através deles. Sim, a pequena Lisie era muito esperta e captava as coisas
facilmente. Os cabelos castanhos e lisos foram herdados da mãe. E era, ao mesmo
tempo, de personalidade forte e muito doce. Sara a estava educando muito bem.
Estava trabalhando em um laboratório, como analista de materiais, que era a sua
formação. A menina ficava com uma babá, que a levava para a escola e ficava com
ela até a ex-perita chegar em casa. Sara ainda amava Grissom,
mas desejava ficar longe dele. Ele, por sua vez, amava Sara e desejava estar
perto dela, mas não tinha coragem de ir atrás dela e trazê-la de volta para sua
vida. Nesses três anos de ausência, longe um do outro, o amor adormeceu, mas
não morreu. E quis o destino que esse amor fosse despertado para nunca mais
adormecer. Sara entrou de férias e resolveu ir a Vegas com a filha. Queria
reencontrar os amigos de lab. Era certo que Vegas trazia à tona todos os
momentos que vivera ao lado de Grissom, isso era inevitável. Mas encontrá-lo
não era algo que estava em seus planos. Sara encontrou-se com Catherine, em uma
tarde fresca.
CW: Fiquei doida quando
você me ligou! Estava com muitas saudades.
SS: Eu também, Cath. Como
as coisas estão por aqui?
CW: As coisas ou Gil?
SS: O que tem a ver?
CW: Pensei que perguntaria
por ele.
SS: Tento não pensar, mas é
inevitável. Como ele tem passado?
CW: No início, logo após
sua partida, ele voltou a ser o homem triste de quando você foi embora de Vegas
pela primeira vez.
Recolheu-se dentro de si e
não queria muito contato com ninguém. Falava somente o necessário e ponto. Com
o tempo, ele foi saindo desse casulo e o Grissom sério e frio fez morrer, ou
adormecer por tempo indeterminado, o Grissom apaixonado e alegre que era quando
vocês estavam juntos e quando você retornou.
SS: Ele fala de mim?
CW: Falar não fala. Mas sei
que pensa. Ou, se pensava muito e deixou de pensar, agora não sei. O Gil está
completamente fechado dentro de si, é impossível saber o que se passa com ele.
SS: Viu ele com alguma
mulher?
CW: Vi o carro de Heather
várias vezes na calçada do prédio dele.
Sara ficou mexida com
aquela informação.
CW: O que você queria,
Sara? Já que você resolveu voltar pra São Francisco e pediu que ele não mais a
procurasse, Gil entendeu como um rompimento. Ele tentou refazer sua
vida, mas depois de várias tentativas de ir atrás de você.
SS: Ele fez isso?
CW: Várias vezes ele tentou
ir até São Francisco.
SS: E não chegou a ir?
CW: Não.
SS: Como sempre, ele não
teve coragem de ir adiante.
CW: Você impôs essa
condição a ele.
SS: Grissom deveria saber
que eu estava magoada com a desconfiança de que eu estava de caso com Hank.
CW: A história do estupro é
verdade?
SS: Ele te contou isso?
CW: Deduzi aqui e ali, em
nossas conversas. Não se preocupe, não direi nada a ninguém.
SS: O que você acha, Cath?
CW: Bom, não sei o que
dizer. Você teve um romance com o Hank...
SS: Eu tive um affair com
ele, mas foi há muito tempo. Isso não seria motivo para que Grissom
desconfiasse de mim.
CW: O que aconteceu de fato
entre vocês?
Sara contou a história a
Catherine, que ficou horrorizada.
CW: É, você tem razão em
ficar magoada. Eu também ficaria.
SS: Mas agora quero que
você conheça uma pessoinha.
As duas estavam sentadas em
um banquinho na pracinha, e a pequena Lisie Sidle estava brincando com outras
meninas na grama. Sara permanecia de olho nela.
CW: Quem você quer me
apresentar?
SS: Lisie, vem cá!
A menina foi correndo até a
mãe. Catherine, ao vê-la, ficou abismada: não precisava dizer nada, era filha
de Sara e Grissom!
SS: Cath, esta é minha
filha Lisie. Diga oi para a Cath, filha!
LS: Oi.
CW: Oi linda. Quantos aninhos
você tem?
LS: Assim ó: dois! – disse
a menina, mostrando com os dedinhos.
CW: Você está de parabéns
pela filha linda, Sara!
A menina saiu correndo, de
volta para as amiguinhas, cujas mães estavam perto, então não haveria perigo.
CW: Mas me conte: como você
escondeu essa criança do Gil?
SS: Sei que ele não
acreditaria que ela fosse dele.
CW: Como pode saber? Nem eu
nem você podemos prever nada, Sara. O Gil tinha o direito de saber que, quando
você voltou a Vegas para o funeral do Warrick, já estava grávida. Penso que foi
egoísmo de sua parte indo embora novamente levando a filha dele sem que ele
soubesse.
SS: Acho que agora é tarde
para nós dois.
CW: Eu não penso assim.
Você ainda ama o Grissom?
SS: O que acha?
CW: Então deixa comigo!
SS: O que você está
planejando?
CW: Diria que vou dar uma
mãozinha a vocês. Se depender dos dois, ninguém sai do lugar. Me dê o número do
seu celular, eu te ligo.
As duas se despediram e
Catherine foi embora cheia de idéias. Na noite seguinte, Grissom foi até a casa
dela, sem entender nada.
GG: O que aconteceu de tão
urgente para você me chamar aqui, Catherine?
CW: Oras Gil, não posso
simplesmente convidar meu amigo para vir até minha casa?
GG: Qual o motivo?
CW: Você só sai de casa se
houver um motivo?
GG: Você não?
CW: Acho que vai se
surpreender com este motivo. Vou buscá-lo.
Catherine foi até o quarto
onde Sara e a menina estavam. Sussurrou para que ele não escutasse:
CW: Vá, eu fico aqui com
ela.
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