Com aquela música na
cabeça, Sara ficou pensando se não era a hora de voltar para São Francisco.
Como olharia para Grissom depois de ter ido parar na cama de Hank, ainda que
não soubesse como aquilo tinha acontecido? Algum tempo depois, ela chegou ao
apartamento de Grissom, que dormia. Antes que ele pudesse acordar, foi direto
para o banheiro, onde ficou um tempo debaixo da água morna, deixando-se molhar
inteiramente pela ducha deliciosa. Com a água escorrendo, deixou as lágrimas
caírem, num choro incontido. Depois que saiu do banho,
enxugou bem o rosto para que Grissom não percebesse que havia chorado. Quando
voltou ao quarto, ele estava acordado, de pé.
GG: Chegou faz tempo?
SS: Não, fui direto para o
banho.
GG: Acho que dormi muito.
Como você está?
Sara aproximou-se de
Grissom e o abraçou.
GG: O que houve?
SS: Nunca se esqueça que eu
te amo, Griss!
GG: Acalme-se, honey! O que
está acontecendo?
SS: Eu... não foi culpa
minha, Griss.
GG: Você está me
assustando. O que aconteceu?
Sara olhou para o amado assustada.
Mas era a hora de contar a verdade, ainda que isso causasse a separação deles.
SS: Hank me estuprou,
Griss.
GG: Como é?!
SS: Eu não sei bem o que
aconteceu, quando acordei, estava na cama dele.
Grissom estava com o
semblante de fúria e a perita estava mais assustada.
GG: Como isso foi
acontecer, Sara? Por que chegou a isso?
SS: Eu... ele me dopou,
tenho certeza disso.
O supervisor ficou
atordoado com o que acabara de ouvir dos lábios da mulher amada. Ela fora pra
cama com outro homem! E o pior, com um sujeito que ele não gostava. Aquela
história estava mal contada, segundo Grissom, atordoado e ainda sentindo a
perda do subordinado Warrick.
SS: Você não acredita em
mim, não é?
GG: Olha Sara, não duvido
de você. Mas isso está muito esquisito. Preciso dar uma volta para espairecer.
Grissom saiu, deixando Sara
abismada. Não é que ele não confiasse nela, Grissom não confiava era em Hank,
pois ele, enquanto estava com Sara, manteve um relacionamento com outra mulher.
Mesmo extremamente cansado por conta do turno exaustivo e estressante, o
supervisor resolveu tirar essa história a limpo, indo falar com Hank.
HP: Você aqui?
GG: Quero falar com você.
HP: Entre.
GG: O que aconteceu entre
você e Sara?
HP: Do que está falando?
GG: Ela me disse que você a
violentou, a estuprou. O que você fez com Sara, seu canalha?
HP: Nada que ela não
quisesse.
GG: Como é? – Grissom ficou
chocado.
HP: Não fiz nada que ela
não permitiu. Se paramos na cama foi porque ela também quis.
Grissom ficou sem reação.
Era a palavra de Sara contra a de Hank. Um dos dois estava mentindo. Se era
ela, porque não dissera a verdade? Se era ele, porque fizera aquilo? O que
pretendia? Segurando a raiva ao máximo, ele continuou:
GG: Houve mesmo sexo entre
vocês?
HP: O que acha?
Sem nada mais a dizer,
Grissom saiu do apartamento de Hank. Estava atordoado, completamente sem chão.
Mesmo prestando atenção ao trânsito, a cabeça estava longe. Estava em Sara.
“Porque?”, era tudo o que conseguia pensar. Não sabia nem como iria encará-la
depois de ouvir o que Hank dissera, mesmo não querendo acreditar que fosse
verdade. Talvez se a visse naquele momento, seria extremamente rude com ela e a
magoaria mais do que ele estava se sentindo. Resolveu não ir pra casa. Iria
buscar consolo, ajuda. Foi em outra direção, para a casa de outra pessoa.
Enquanto Grissom buscava consolo na casa de outra pessoa, Sara fazia o check-in
no aeroporto. Estava indo de volta pra casa. De onde, talvez, não tivesse
saído.
LH: Ainda não entendi sua
vinda aqui. Você não estava bem com Sara?
GG: Precisava de um apoio.
Estou me sentindo perdido.
LH: Aconteceu alguma coisa?
GG: Não quero falar sobre
isso agora. Posso me deitar em sua cama?
LH: Fique à vontade.
Grissom, conhecedor do
caminho, foi para o quarto de Heather e se deitou na cama da dominatrix. Que
era enorme, por sinal. Ela foi em seguida.
LH: Deseja mais alguma
coisa?
GG: Deixe-me apenas
descansar um pouco.
LH: Como queira.
Grissom dormiu por cerca de
30 minutos. Acordou um pouco assustado. No sonho, Sara lhe dizia para procurar
Hank, que ele encontraria as respostas para as dúvidas que estavam em sua
cabeça.
GG: Eu preciso ir embora.
LH: O que você tem, Gil?
Parece aflito!
GG: De fato, estou. Preciso
resolver um problema urgente.
LH: Quando quiser, apareça.
GG: Obrigado.
O supervisor foi até a casa
de Hank. Ele estava trajando apenas cueca samba-canção, os cabelos despenteados
e trazia uma garrafa de cerveja na mão.
HP: O que você quer?
GG: Quero que me diga o que
fez a Sara.
HP: Não sei do que você
está falando.
GG: Não seja cínico, Hank!
Sara me contou que você a estuprou. Quero que me diga olhando nos meus olhos se
é verdade!
HP: E porque eu diria isso?
GG: Ora seu... – Grissom
ameaçou entrar no apartamento.
HP: Ei! Acalme-se!
GG: Como quer que eu me
acalme?!
HP: Pergunte a ela o que
aconteceu. Talvez ela lhe conte.
Grissom se segurou para não
socar a cara de Hank, que tinha uma expressão de deboche.
GG: Eu voltarei – e saiu a
passos apertados.
Ao chegar em casa, chamou
por Sara. Nenhuma resposta. Apenas o silêncio do apartamento. Foi direto para o
quarto, e não a encontrou. Abriu o guarda-roupa e não encontrou nenhuma peça de
roupa dela. Percebeu que Sara havia partido... mais uma vez. E novamente,
encontrou um bilhete, com alguma “justificativa”. Ele estava em cima da cama,
bem à vista.
“Grissom. Estou voltando para casa.
Talvez eu não tivesse vindo a Vegas novamente, mas vim por causa de Warrick, e
por você também. Mas parece que seu amor por mim não é tão grande como sempre
me pareceu. Parece que nada do que vivemos em São Francisco se tornou maior com
o passar do tempo para você, como sempre foi para mim. Se alguém diz algo sobre
mim a você e você não acredita na minha inocência, é porque você não ama o
suficiente para saber que o que digo é verdade. Amar não é somente beijos,
abraços, sexo. Amar ultrapassa os limites do físico, é a junção, corpo, alma e
coração. Não é só o bem-querer, é o estar junto em todos os momentos, em todas
as situações que a vida nos traz e põe o nosso amor à prova. Quando você ler
esta carta, já estarei longe. Peço que não venha atrás de
mim nem me procure. Talvez algum dia a gente possa deixar tudo em pratos
limpos. Mas saiba que eu te amo e sempre te amarei. Sara”
Sério e trêmulo com as
palavras da amada, Grissom sentou-se na cama e ficou olhando abismado para a carta.
Nos dias que se seguiram, ele era o retrato da tristeza. Todos percebiam que
ele andava diferente, mas ninguém se atrevia a perguntar qualquer coisa. Até
mesmo Catherine, que era amiga de longa data.
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